Entenda por que a varíola dos macacos tem afetado principalmente homossexuais e bissexuais

27 de julho 2022 - 15h36

A notícia é da CNN Brasil. Desde maio de 2022, casos de varíola dos macacos têm sido relatados em diversos países onde a doença não é endêmica. A maioria dos pacientes confirmados com histórico de viagens relatou passagens por países da Europa e da América do Norte, em vez da África Ocidental ou Central, onde o vírus é endêmico.

Pela primeira vez, um número expressivo de casos surge simultaneamente em países não endêmicos em áreas geográficas muito distantes. De acordo com levantamento realizado pela CNN, ao menos 64 países confirmaram casos da doença.

No sábado (23), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o atual surto constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). “Temos um surto que se espalhou rapidamente pelo mundo, por meio de novos modos de transmissão, sobre os quais entendemos muito pouco e que atendem aos critérios do Regulamento Sanitário Internacional”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

No Brasil, já foram confirmados mais de 800 casos da doença, de acordo com o Ministério da Saúde. Os casos foram registrados em São Paulo (595), no Rio de Janeiro (109), em Minas Gerais (42), no Distrito Federal (13), no Paraná (19), no Goiás (16), na Bahia (3), no Ceará (2), no Rio Grande do Sul (3), no Rio Grande do Norte (2), no Espírito Santo (2), em Pernambuco (3), em Mato Grosso do Sul (1) e em Santa Catarina (3).

HOMOSSEXUAIS

A OMS afirma que a maior parte dos casos notificados foi identificada por meio de serviços de saúde sexual ou em unidades de saúde primária ou secundária, envolvendo principalmente, mas não exclusivamente, homens que fazem sexo com homens.

A terminologia “homens que fazem sexo com homens”, também chamada HSH, é uma classificação técnica adotada na área da saúde que inclui homossexuais, bissexuais e pessoas que não se identificam com alguma dessas orientações.

Desde o início do surto, médicos e cientistas de diversos países buscam respostas para explicar por que o vírus tem conseguido, pela primeira vez, se espalhar de forma significativa fora da África e por quais os motivos ele tem afetado principalmente os homens que fazem sexo com homens.

Entre as hipóteses discutidas pela comunidade científica está a possibilidade de o vírus ter entrado em circulação em redes sexuais interconectadas na comunidade HSH, de onde está se espalhando de maneira mais eficiente.

“Com base nos relatos de casos até o momento, esse surto está sendo transmitido por meio de redes sociais conectadas principalmente por meio de atividade sexual, envolvendo principalmente homens que fazem sexo com homens. Muitos – mas não todos os casos – relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas”, disse Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa.

O primeiro caso confirmado da doença no Reino Unido, que disparou o alerta da OMS, foi informado à entidade no dia 7 de maio. O paciente, que viajou do Reino Unido para a Nigéria, desenvolveu uma erupção cutânea no dia 29 de abril e retornou ao Reino Unido em 4 de maio.

Os modelos epidemiológicos da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês) mostram um crescimento da doença entre 3,8% a 6,7% por dia, correspondendo a um tempo de duplicação de 15 dias.

Com o objetivo de compreender o cenário epidemiológico do surto no país, pesquisadores da agência solicitaram que os pacientes preenchessem questionários. Dos casos que apresentaram informações detalhadas, 97% (681 de 699) são de pacientes homossexuais, bissexuais e homens que fazem sexo com homens.

De acordo com a nota técnica divulgada pela UKHSA no dia 8 de julho, as tendências nos principais indicadores epidemiológicos dos questionários de caso são estáveis, indicando que a transmissão permanece dentro do grupo conhecido de HSH de alto risco.

O vírus da varíola dos macacos pode afetar qualquer pessoa, independente de orientação ou prática sexual. Especialistas analisam se a maior identificação entre homossexuais e bissexuais também pode estar associada ao cuidado em saúde ampliado entre esse grupo populacional.

“Os HSH têm um relacionamento melhor com os médicos do que os homens heterossexuais”, diz Lilith Whittles, modeladora de doenças infecciosas do Imperial College, de Londres, em entrevista à Science.

O comportamento pode significar que eles são mais propensos a relatar sintomas de varíola e fazer testes para o vírus.

“Não sei se estamos necessariamente procurando o suficiente nas redes sociais heterossexuais para concluir que esse não é um problema mais amplo”, afirma Boghuma Titanji, virologista da Emory University, que trabalha em uma clínica de saúde sexual, também à Science.

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