Marido da ministra do Turismo contratou miliciano e esposa em Prefeitura no RJ

07 de Janeiro 2023 - 13h22

Fernando Cardoso do Amaral, o “Tenente Amaral”, foi preso em 2011 acusado pela Polícia Civil de ser o líder de um grupo de extermínio que atuava região de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, reduto eleitoral da ministra Daniela Carneiro e de seu marido, prefeito do município, Wagner Carneiro, o Waguinho.  Demitido da polícia desde 2017, ele conseguiu uma vaga como assessor na prefeitura do município, no ano passado.

Helen Borsoi Ribeiro do Amaral, sua esposa, trabalhou na prefeitura de Belford Roxo entre agosto de 2015 a novembro de 2016 como assessora administrativa. Após cinco anos distante, ela retornou ao trabalho na cidade, desta vez,  contratada junto com marido, Fernando, ambos ao cargo de assessor especial de serviços da secretaria municipal de Saúde, em 11 de fevereiro de 2022. Os dois deixaram os cargos também juntos, em outubro do ano passado.

Uma década antes, em 2011, ano em que foi nomeado 1º Tenente, Amaral foi preso acusado de comandar uma quadrilha de extermínio que assassinou 20 pessoas em um ano. Neste episódio, ele foi condenado na 2ªVara Criminal de Belford Roxo por falsa comunicação de crime: baleado em troca de tiros com um traficante executado, ele abriu um Boletim de Ocorrência alegando que havia sofrido um assalto.

“Fato gravíssimo e que merece rigorosa punição, já que se trata de um Oficial da Polícia Militar, Instituição honrada e que já prestou inúmeros benfeitos a sociedade fluminense, sendo estarrecedor a conduta de um de seus agentes que além de utilizar-se de sua condição de policial militar para praticar crimes, mobiliza e aciona a polícia judiciária para encobrir os atos da quadrilha que integra”, descreve o acórdão do caso.

Em 2015, ele recebeu a maior honraria do estado do Rio de Janeiro – a medalha Tiradentes – do então deputado estadual Waguinho, hoje prefeito reeleito de Belford Roxo.

No processo que levou à condenação de Fernando Cardoso do Amaral, aparece o nome de Jorge Pereira de Freitas, que também respondeu a um processo de homicídio triplamente qualificado do ano de 2014, que acabou arquivado pela Justiça fluminense. Cedido em março de 2013, Jorge Pereira de Freitas ocupou o cargo de chefe de gabinete na prefeitura de Belford Roxo, onde atuou até janeiro de 2015, quando foi nomeado coordenador do Centro de Operações de Segurança Pública da prefeitura  do município, até ser exonerado, em novembro de 2016.

“A conduta dos agentes que, no interior da residência da vítima, juntamente com terceira pessoa não identificada nos autos efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra a vítima, atingindo-a e causando-lhe lesões que foram a causa de sua morte”, descreve um dos recursos do julgamento.

Procurada, a Prefeitura de Belford Roxo informou, de início, que Fernando Cardoso do Amaral e Helen Ribeiro do Amaral foram nomeados, mas uma Portaria tornou sem efeito o ato. Diante da informação de que constavam na folha de pagamento do município, a versão mudou: em nota informou que “Fernando Cardoso do Amaral e Helen Ribeiro do Amaral foram contratados (não nomeados) para prestarem serviços à Secretaria de Saúde. Durante o tempo em que estiveram trabalhando, não foi constatado nenhum fato que desabonasse a conduta de ambos”.  A assessoria da ministra do Turismo, perguntada, pediu que a reportagem procurasse a Prefeitura. A ministra aparece em fotos ao lado de outros policiais condenados e de um miliciano, que também já foi preso.

“A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, reafirma que não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar e punir. Por fim, esclarece que durante sua campanha recebeu o apoio de milhares de eleitores em diversos municípios do estado”, diz nota da assessoria do ministério do Turismo.

As defesas dos demais citados não responderam ou não foram localizadas até o momento da publicação.

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