Por Edmo Sinedino
É coisa de louco um esporte em que Carlos Alberto Parreira é sinônimo de mestre, enquanto, por muito tempo, Telê Santana foi chamado de pé frio, perdedor e retranqueiro. São tantos, tantos os exemplos do absurdo imprevisível que é esse futebol que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues criou o personagem "Sobrenatural de Almeida", única explicação plausível, aceitável para o que acontece, de tempos em tempos, ultimamente com muito mais frequência, dentro das quatro linhas de um campo de futebol.
O futebol, caso raríssimo, creio, com quase certeza, é o único esporte onde o cara, pseudo-treindaor, não precisa saber nada dele, nem como é jogado, qual o traçado, o esquema, quem atua de quê e como devem ser feitos os treinamentos, a preparação, para ter sucesso. Os exemplos de picaretas vencedores como treinadores, principalmente, mas também como jogadores, são inúmeros, encheriam páginas e páginas deste texto.
Em Natal, por exemplo, um grande narrador esportivo nunca bateu uma pelada na vida, era capaz de confundir o centroavante com o zagueiro, caso eles trocassem de camisa, esbravejava por "contratações bombásticas" e influenciava todo dia os dirigentes. Era um ótimo narrador, verdade, morreu como grande conhecedor do futebol potiguar que não era.
Na mesma Natal, o treinador, ganhador de vários títulos por ABC, América e Alecrim, professor de educação física, mediano treinador de handebol, é celebrado como ícone, o maioral de nossos campos. Os caras da imprensa nunca fizeram as contas dos fracassos dessa mesma carreira, esses sim, causados por ele mesmo. Sempre que o time que dirigia se encaminhava para um fracasso ele "batia na mesa", fingia que estavam querendo "escalar no lugar dele" e abandonava o barco.
No plano nacional, temos tantos exemplos, começamos pela comparação de Parreira com Telê Santana, mas podemos citar o caso Zinho, mediano jogador, apelidado de "enceradeira" e que guarda no currículo, além de Brasileiros, um título de uma Copa do Mundo, coisa que Zico, Falcão, Cerezo, Júnior, Marinho Chagas, entre outros monstros sagrados não têm.
E ainda é pouco. Quer um exemplo mais vívido dessa coisa louca do futebol do que ver o comum Daniel Alves superar craques como Pelé, Di Stéfano, Maradona, Cruyff, Messi, Neymar, Ronaldinho Gaúcho, entre outras dezenas de craques verdadeiros em conquistas de títulos? Loucura! Com essa bolinha que ele atuou no São Paulo, mais recentemente no Barcelona, onde foi dispensado, se escondendo nos grandes jogos, e brilhando contra "minhocas", o cara abocanhou 42 títulos, dos mais importantes que se possa imaginar e vai disputar mais uma copa do Mundo.
E é por isso, não se enganem, estão espalhados pelo Brasil os treinadores, alguns já ricos com o futebol, e são, na verdade, como se diz na gíria, meros entregadores de camisas que se formaram pagando caro e treinaram, à exaustão, como falar bonito nas entrevistas e fazer amizade com a imprensa.
No Brasil de Norte a Sul ou que se vê são técnicos completamente obtusos, transformando o futebol, outrora espetáculos belíssimos de desfile de talentos, em verdadeiras feiosas batalhas campais de pernas de paus maltratando a bola e os esdrúxulos esquemas defensivos, todos com o mesmo discurso horroroso, pernicioso de "jogar por uma bola", além do vocabulário "titês" para justificar, o injustificável, explicar, o inexplicável..
E tudo isso, acreditem, afiançados, sustentados por dirigentes do mesmo nível e profissionais da imprensa, com exceções, claro, que ajudam com a ignorância compartilhada, pois também nada sabem de bola, a mantê-los no cargo, sem falar nas cruzetas e acordos espúrios entre os medíocres, coisa comumente testemunhada, que também dá suporte, não só aos treinadores cegos, mas a atletas e dirigentes.
Para encerrar esse texto, comparemos:
Félix e Ceni (campeões do mundo) x Manga (não).
Cafu e Belletti (campeões do mundo) x Leandro (não).
Roque Júnior e Lúcio (campeões do mundo) x Luís Pereira e Luizinho (não).
Roberto Carlos (campeão do mundo) x Marinho Chagas e Junior (não).
Mauro Silva e Zinho (campeões do mundo) x Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Zico, Falcão, Cerezo, e Sócrates (não).
PS: em tempo, o São Paulo presta homenagem ao maior treinador de sua história, Telê Santana, isso, claro, até chegar um estrangeiro, de preferência português, que recebe um time de astros, titular e reservas, e o supere em número e conquistas nesse pobre futebol que acompanhamos hoje em dia.
Loucura!
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