* O danado do "pé ligeiro". Quando ele lhe pega, não tem jeito, você tem que correr ao banheiro mais próximo. E se não tiver, tem nada não, uma touceira de mato em que você possa se abaixar, já serve. E quando lhe pega no ônibus? Foi esse o caso.
Lá ia ele, viajando num pé duro, lotado, sem ar condicionado, e a barriga dando os velhos sinais assustadores. "Eu não devia ter beliscado tanto aquele cozido", pensa. E agora? Esse treme-treme só vai parar lá em "Madrid", pedacinho de distrito no meio do nada. E ele nem tinha certeza se tinha banheiro, mas claro, já torcendo desesperadamente para chegar.
Depois de mais alguns minutos de suores frios, aqueles apertos que você segura senão desce pelo "mocotó", se envergandos, sustentando, quase gritando para o motorista parar, finalmente, finalmente: chegou ao lugar "abençoado". Voa descendo, e vai avisando ao motorista: "tô apertado, não vá sair sem mim", e aproveita também para reforçar com o cobrador.
E já vai imaginando com a situação quase de desespero a qualidade dos banheiros daquele pedacinho de chão de poucos mais de mil habitantes. "Puta que pariu, vou ter que cagar em pé e vou me limpar com o quê, nem papel deve ter nesse fim de mundo".
Surpresa! O banheiro é limpo, perfumado, com tudo à disposição, só não tem lavabo, a torneirinha, mas aí já era querer demais. Melhor: nem precisa evitar de fazer barulho, pois o local era amplo. Arriou as calças, sentou confortável e deixou o barulho se espalhar. Ufaaaaaaaaaa! Relaxou legal, até esqueceu do tempo.
De longe ouviu um barulhinho de automóvel em movimento, mas nem se ligou. Se limpou adequadamente, lavou as mãos, passou água no rosto para limpar da suadeira e foi seguir viagem.
E o susto! O ônibus foi embora. Desespero, agonia, e agora? A bolsa, o celular, o pacote de dinheiro para fazer a feira do mês, tudo lá na lotação. "Filhos de puta motorista e cobrador!!!". Não teve jeito, correu, olhou em volta, lá vem um mototaxista, sinaliza apressado, monta na garupa e ordena: "pegue o ônibus que vai para São Severino dos Ramos, corra!!!"
O a rapaz acelerou, e ele, agora com medo de que as curvas, os catabilhos fizessem voltar o "pé ligeiro"... ia cagar a moto do rapaz, mas não tinha jeito.
Alguns minutos de agonia depois: "lá vai ele, lá vai ele, atalha, manda parar!". O ônibus encostou. Ele desceu da moto e seu olhar para o motorista e cobrador foi digno dos duelos de Lee Van Cleef e Clint Eastwood dos velhos faroestes que é fã.
Os coitados, os dois, reconhecendo o rapaz do banheiro, claro, viraram o rosto, murchos, e o cobrador nem esperou a ordem ou sinal, foi logo pagando ao rapaz da moto.
Ele não disse uma palavra, e nem os coitados da empresa. A cara do homem era tão assustadora que nem sequer tiveram coragem de ensaiar um pedido de desculpa. Silêncio total.
Na chegada, na descida, ele, sério que só um burro coiceiro, e os dois rapazes olhando para horizonte oposto.
*Uma licencinha para um texto fora da bola. Mas é que esse causo aconteceu com um ex-boleiro amigo meu.
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