"The Last of Us" da vida real: Brasil vive "maior surto" de fungo perigoso; Hospital do Nordeste é destaque
Estreou na última semana a série inspirada em um jogo de video game, "The Last of Us", baseada em um mundo pós-apocalíptico causado pela proliferação de um fungo assassino. Macabramente, neste mesmo período, cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) descreveram, neste mesmo momento, o terceiro e maior surto causado pelo fungo Candida auris no Brasil.
A notícia da CNN Brasil aponta que os 48 casos confirmados do fungo foram registrados em um hospital de Recife, em Pernambuco, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, segundo da Secretaria de Saúde do estado. Os achados serão publicados na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.
Diferente do fungo da série/jogo, que controla as pessoas, transformando ela quase em zumbis, na vida real, o C. auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública devido à capacidade do microrganismo de resistir aos principais medicamentos antifúngicos.
As infecções por C. auris têm surgido em todo o mundo, muitas vezes com alta morbidade e mortalidade associadas. Os pesquisadores destacam que a disponibilização de metodologias rápidas e com identificação precisa é necessária para a implementação de medidas adequadas de prevenção e controle.
Os perigos do fungo Candida auris
O fungo Candida auris é um agente causador de doença oportunista, relatado pela primeira vez no Japão em 2009, em um caso de otomicose. Desde então, foi relatado em todos os continentes, com exceção da Antártica.
O primeiro caso de C. auris no Brasil foi identificado em novembro de 2020, em um paciente de 59 anos, internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) em Salvador, na Bahia. O fungo foi detectado após análise técnica pelo Laboratório Central de Saúde Pública Prof. Gonçalo Moniz (Lacen/BA) e pelo Laboratório do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O C. auris é um fungo emergente que representa uma grave ameaça à saúde global, pois algumas de suas cepas podem apresentar resistência aos medicamentos comumente utilizados para tratar infecções por Candida, sendo que alguns estudos apontam que até 90% dos isolados de C. auris são resistentes a fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Ao contrário da maioria dos fungos ambientais, o C. auris apresenta tolerância a temperaturas elevadas de 37°C a 42°C. Além disso, conta com uma capacidade de sobreviver a condições ambientais adversas por longos períodos, adaptando-se fora do hospedeiro humano.
Essas características aumentam o risco de surtos hospitalares, uma vez que a colonização e as infecções podem ter origem em fontes ambientais, como dispositivos médicos contaminados e mãos de profissionais de saúde.
O fungo pode causar infecção na corrente sanguínea e outras infecções invasivas que podem ser fatais, principalmente em pacientes imunocomprometidos ou com comorbidades. Outro aspecto negativo é que os pacientes podem permanecer colonizados por esse microrganismo por muito tempo, sem infecção, favorecendo a propagação para outras pessoas e a ocorrências de surtos em serviços de saúde.
Desde março de 2017, o Brasil possui um documento com orientações de como os serviços de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, entre outros) devem proceder para prevenir e controlar a disseminação fungo.
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