Se o Guru voltasse - manifesto

04 de Outubro 2024 - 22h07


O manifesto.

Desgrama de manifesto que me fez voltar no tempo, e num tempo que, cruel, implacável, não volta.
 
Eita meus personagens favoritos. Era muita vida, muita alegria, não tenho palavras para descrever, ou tenho?

Dói não ter.

Eles vão desfilando todos, vivos, sorridentes, ariscos.

Volta essa fita aí. Eu queria pelo menos mais uma noite, uma noite somente, para ouvir, de novo, meu guru, meu salvador.

Exagero? É não. Bajulação? É não. Ele nem tá mais entre nós, pelo menos fisicamente, talvez espiritualmente.

E se estiver, tenho certeza, está triste com algumas coisas. Na verdade, nós todos estamos tristes.

 Plantamos essa tristeza com bobagens...quantas bobagens!

Volta ainda mais um pouco essa fita aí, eu quero escutar, no rádio, “Gerônimo, o Herói do Serão” e depois do jantar, as histórias de um certo “Galo da Sete”.

Daria tudo que tivesse para ouvir de novo as histórias de Zé Fernandes (‘Taqui seu soldado, as tapiocas que mamãe mandou pro senhor’), morria de rir.

O camarada Macaco...e o meu preferido: Pedro Adelino. O comilão (a boca cheia na hora do almoço e já pensando no jantar, pensando e falando: Ovídio, Ovídio, ali, ali tem uma mulher que faz umas tapioca tão boa...).

E tinha o “Quengua Véia”, o apelido de um dos amigos mais chegados d´Ele.

A vida passando, rapidíssima, e perdemos tempo fazendo questão de alimentar picuinhas. Será que esse povo todo esqueceu d´Ele?

Não é possível que tenham esquecido.

Continuando essa saga, que não é “Crepúsculo”, “Senhor do Anéis”, porra nenhuma.

É vida real, que um dia já foi vida,  eu não posso deixar de falar de uma pessoa especial, a minha “Robin Hood” de saias.

Ai de quem tivesse a audácia de mexer com os seus. Altaneira, corajosa, sem frescura, uma danada que vinha do interior, da “comida dos porcos”, mas parecia uma deusa e encarava até milico diretor de colégio, isso em tempo de ditadura militar.

Onde danado se meteu minha “Robin Hood”? O que aconteceu com ela? Quem operou essa mudança?

Juro! Eu não me conformo.
 
Cadê o sorriso daquela gata que tinha umas das bundas mais bonitas do Brasil e que vivia de bom humor?
 
Hoje, o sorriso se transformou em reclamações, reclamações, broncas, e reclamações. E nem tive mais coragem de falar e nem de olhar mais para ver se a bunda ainda está lá.

Nunca mais me chamaram para a gente tomar um banho na Praia do Forte. Pegávamos aquele ônibus lotado (Bicuda), uma viagem, mágica, inesquecível para um bando de, ainda, matutos que haviam recém-chegado do interior.

Na praia, eu lá correndo atrás de bola, mas de olho.

E eu  via sim os olhos espichados delas para os cadetes que desfilavam por Natal em certas épocas do ano, deixando as meninas com olhares sonhadores.

E, claro, elas também.

Vai ver pensavam que eu iria “entregar”, “dedurar” para Ele  quando chegasse em casa?
 
Nem conheço mais “Sam Mcloud” Danada da memória fraca. Esqueci dos outros detetives personagens de seriados da tevê reproduzidos nas brincadeiras dos mais novos.

Os três vestidos de paletós não mais usados.

Uma organização para livrar a cidade de criminosos e fazendo dos quartos dos fundos o escritório, a delegacia.
 
A brincadeira durava até o desinfeliz do “Trazeira”, querendo ir pra rua, correr atrás de bola, dizer que ele era o chefe e que “mandava naquela bigorna”, etc e etc.

 Kakakakakaka. Reclamações, xingamentos e fim, não tinha mais detetive e nem nada e lá ia sobrar reclamações para Totonha.

E os bilhetes? Cadê meus bilhetes?. No tempo já dos treinos.

Minha Nossa Senhora foi tão pouco tempo.

Tão pouco com Ele entre nós.

E aos sábados, a galera do Goiás batendo a porta. Quando Ele acordava de bom humor, tudo bem, se não...”Acorda aí a cachorra que os cachorros já estão todos na porta...”, assim, sem perdão.

Com Ele, e com o meu Guru, sempre, sempre tinha um Natal de verdade. Festa esperada, aguardada com ansiedade, sem faltas, sem desculpas esfarrapadas, todo mundo querendo estar, de verdade.

Ninguém tinha o direito de ignorar quem quer que fosse.

Como é que tudo isso se acaba?

Como é que um monte de gente inteligente fica obtusa, emburrece, assim, de repente?

Como é que esse monte de gente inteligente, de repente, começa a passar para as outras gerações esse desamor? Essa falta de alegria de viver?

Como é que pode alguém de juízo transferir para os meninos/meninas um sentimento de ódio que, sei lá no fundo, não sente.

Não acredito que sintam. 
A cada ano os encontros se encolhem. Nos encontros, os sorrisos diminuem.

Os causos, sempre tão esperados, engraçados, sumiram?  Vejo a pressa de ir embora, sinto pressa de ir embora...tenho vergonha dessa pressa, mas...

Já sonhei uma dezena de vezes numa paz geral, verdadeira. Uma espécie de jogo da verdade, sem medo de falar o que pensa, o que sente.

Mas, a cada ano, noto que fica mais difícil, e mais raros são os encontros.

Agora, só se Ele voltasse. Só se o Guru voltasse.

*Esse texto foi escrito por um certo "Trazeira Cagada",  achei interessante, publico aqui

** Vai que alguém se identifica

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