Uma onda de violência organizada por facções criminosas vem afetando seriamente a conectividade no Ceará, com ações que vão além do virtual: cortes de fibra óptica, incêndios em veículos, destruição de equipamentos e extorsão a pequenas e médias empresas de internet. O objetivo é consolidar um monopólio chamado internamente de “CV Net”, que controla o acesso à rede em regiões dominadas pela facção.
Desde fevereiro, nove ataques já foram registrados em Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante e municípios vizinhos, causando interrupções de serviços e insegurança na população. No Complexo Industrial e Portuário do Pecém, ponto estratégico da economia cearense, 90% dos usuários enfrentaram falhas de acesso após os ataques, inclusive indústrias multimilionárias e órgãos públicos sensíveis.
De acordo com reportagens da imprensa e investigações da Polícia Civil, o Comando Vermelho impôs taxas de extorsão de “R$ 20 a R$ 30 por cliente por mês” a provedores de internet. Quem se recusava sofria represálias com vandalismo, ameaças e destruição de infraestrutura.
A ação é articulada, com pequenos provedores associados à facção facilitando ataques a concorrentes. Na Operação Strike IV, mais de 15 empresários ligados à facção foram presos por formação de um “cartel” que estipulava preços únicos no serviço e indicava quais equipamentos deveriam ser destruídos.
Apesar da ofensiva policial que já resultou em dezenas de prisões, apreensões de armas, dinheiro e equipamentos de internet, os ataques continuam a assustar moradores e empresários. Um relato compartilhado em redes sociais reforça o clima de medo:
“O objetivo dos criminosos é a participação no faturamento… exigem 50% na mensalidade paga por cada usuário… inclusive as grandes empresas do Complexo do Pecém”.
O impacto vai além da infraestrutura: pequenas operadoras encerraram atividades. A GPX Telecom, por exemplo, fechou as portas após 9 anos de atuação, vítima de ataques que destruíram sua estrutura em questão de minutos . Segundo usuários em fóruns, muitas dessas empresas optam por operar de forma clandestina ou cedem para os criminosos, criando um ciclo de dependência e controle territorial.
Para o governo estadual, o problema foi encarado como uma ameaça à soberania digital. Foram criadas forças especiais, como a Operação Strike, e prisões foram realizadas, mas a persistência da tática do crime organizado exige uma resposta mais robusta e integrada.
O “apagão digital” gerado em bairros como Pirambu e Sapiranga impacta diretamente a vida da população e o funcionamento de serviços essenciais — escolas, comércio, hospitais e órgãos públicos dependem da conectividade. Para especialistas, o risco de perda de investimento no Ceará é significativo, já que o estado atrai cada vez mais empresas e projetos em infraestrutura digital.
A situação evidencia que o avanço das facções extrapola o tráfico de drogas e de armas: agora atuam como controladores de infraestrutura e serviços fundamentais, minando a governança pública e a competitividade econômica de regiões estratégicas.