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Segurança

Comando Vermelho entra na fronteira do RN aos poucos como metástase do crime

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A matéria é do Portal BO:

No final dos anos 70, o crime já era uma realidade latente no país. A cidade do Rio de Janeiro foi pioneira no surgimento de uma organização criminosa insurgente que, em pouco tempo, mudaria radicalmente o cenário da violência e da insegurança nos presídios e favelas cariocas: a Falange Vermelha. O idealizador da organização, o detento Rogério Lemgruber, mais conhecido como “Bagulhão”, conseguiu inserir na comunidade carcerária uma nova postura criminosa capaz de realizar algo até então intransponível: criar, monitorar e executar diversas ações delituosas, deixando o Estado vulnerável. Foram muitos assaltos e mortes decretadas para quem não seguisse as ordens da Falange Vermelha.

Com o crescimento de adeptos e da influência do grupo nas ruas do Rio e em outras cadeias, a velha e famigerada Falange passou a se chamar “Comando Vermelho” no início dos anos 90. Em 40 anos, a organização, que inicialmente financiava suas atividades por meio de jogos de azar, expandiu suas operações para o tráfico internacional de drogas, sequestros e assaltos a bancos em todo o Brasil. Com o crescimento e consolidação na capital fluminense, o CV passou a almejar novos territórios, utilizando os mesmos métodos: expulsar pequenas facções com o uso da força armada, nem que isso resultasse em conflitos sangrentos e duradouros. Uma verdadeira guerra a olho nu entre bandidos, que frequentemente custava a vida de inocentes no embate mortal pelo poder.

Nos últimos anos, aqui no Rio Grande do Norte, a presença de facções criminosas tornou-se uma preocupação sem precedentes para os gestores da Segurança Pública do Estado, que tentaram negar a todo custo algo que estava evidente. O aumento da violência em vias públicas, a crescente onda de assaltos e execuções, as rebeliões em unidades prisionais e a chacina que chamou a atenção do mundo, conhecida como “A Rebelião de Alcaçuz”, são exemplos desse cenário. Naquele momento, as siglas PCC e SDRN dominavam as notícias. As duas facções nunca cogitaram uma trégua, mas algo mudaria em breve: era apenas uma questão de tempo até que os potiguares conhecessem o “bonde” vindo do Rio.

Enquanto o Sindicato do RN focava em tomar pequenas bocas de fumo espalhadas pela periferia, o Primeiro Comando da Capital (PCC) direcionava seus esforços para o tráfico internacional de drogas. As recentes apreensões de cocaína no Porto de Natal evidenciaram esse novo comportamento do PCC, embora essa modalidade de crime já fosse praticada em outros portos brasileiros. O Sindicato do RN parecia estar livre para atuar, o que levou a desentendimentos internos e à criação do grupo chamado “Novo Cangaço”, que, no entanto, não vingou.

Acontecimentos recentes em Tibau do Sul e execuções de líderes do Sindicato do RN na Grande Natal, confirmam a investida da facção carioca.
Acontecimentos recentes em Tibau do Sul e execuções de líderes do Sindicato do RN na Grande Natal, confirmam a investida da facção carioca.

 

No Estado vizinho, o Ceará, o Comando Vermelho já domina boa parte do território, promovendo atos criminosos semelhantes aos registrados no Rio. Era apenas uma questão de oportunidade ou de ordem das lideranças para que o Rio Grande do Norte começasse a sentir a influência do CV. Em pouco tempo, uma série de eventos violentos passou a chamar a atenção da Polícia investigativa. As evidências apontavam para a presença do Comando Vermelho no RN, que anunciava sua chegada nas redes sociais, ameaçando rivais e recrutando integrantes de outros grupos. Em uma das mensagens divulgadas, o Comando Vermelho repudiava perseguições, violência e cobrança de valores aos moradores das comunidades, prometendo proteção.

Em quatro meses, as investigações da Polícia Civil, apuradas pelo PortalBO, confirmaram essa tendência. “É algo que não devemos negar, está acontecendo, e temos provas cabais da presença do CV, especialmente em algumas cidades como Tibau do Sul”, revelou uma fonte policial. Um fato crucial reforçou essa presença: o sequestro – e possível assassinato – de um ex-membro do Sindicato do RN. O homem teria descumprido uma das regras do grupo ao se relacionar com a irmã de um dos líderes. Expulso do Sindicato, ele posteriormente declarou sua adesão ao Comando Vermelho nas redes sociais. Poucos dias depois, foi sequestrado e desapareceu, levando a crer que desta vez o castigo foi a própria vida.

A Polícia Penal testemunhou uma opinião unânime entre as facções que dominam as cadeias do Estado: a possibilidade de um conflito interno que poderia resultar em uma rebelião de grandes proporções e mortes em ambos os lados.

A reportagem do PortalBO entrou em contato com o Secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Coronel Francisco Araújo, que informou que o diretor da DEICOR (Delegacia Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado), delegado Joaci Rocha, é o responsável pelas investigações sobre o assunto. A assessoria de comunicação da Delegacia Geral confirmou que, de fato, o Comando Vermelho já é uma realidade no RN e que a fuga no presídio de Mossoró, ocorrida há alguns meses, contou com o apoio da organização criminosa. O delegado destacou ainda que várias operações bem-sucedidas foram realizadas para combater a atuação de organizações criminosas no Estado, com foco especial no Comando Vermelho. As áreas mapeadas e monitoradas incluem regiões turísticas e de grande movimentação comercial.

Na noite deste domingo (16), dois homens foram executados no bairro Pajuçara, na zona Norte de Natal. Informações ainda não confirmadas oficialmente indicam que as vítimas eram integrantes do Sindicato do RN e foram mortas por assassinos do Comando Vermelho, que acaba de chegar ao Estado com o objetivo de estabelecer seu domínio no tráfico de drogas à base de muito sangue.

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