Alvo de operação nacional, PRF ganhou um Jeep Compass para transportar droga para o Comando Vermelho

18 de Novembro 2024 - 11h21

Um policial rodoviário federal (PRF) é um dos investigados na operação da Polícia Federal que aponta uma dupla dentro corporação como sendo responsáveis por transportar drogas para o Comando Vermelho. 

O policial em questão é Raphael Angelo Alves da Nóbrega. Segundo materia publicada pela coluna de Tácio Lorran, do Metrópoles, ele e Diego Dias Duarte (vulgo Robocop) cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína para fazer o transporte da droga para o Comando Vermelho. A informação consta em diálogos que foram interceptados pela PF e cujo teor foi obtido pela coluna.

Há casos em que os agentes levaram mais de meia tonelada de entorpecentes, o que poderia render até R$ 1 milhão. Diego, Raphael Angelo e outros três policiais militares foram alvos da Operação Puritas, deflagrada em 7 de novembro pela Polícia Federal. 

De acordo com as investigações, os agentes eram responsáveis pelo transporte de toneladas de drogas destinadas principalmente ao CV no estado do Ceará. O grupo criminoso poderá responder por tráfico interestadual de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

INVESTIGAÇÃO COMEÇOU NO RIO GRANDE DO NORTE

Segundo a reportagem, no caso de Rafael Angelo, ele chegou a ser preso em flagrante em julho de 2023 transportando 542 kg de cocaína em Canarana, no Mato Grosso, a 823 quilômetros de Cuiabá. Na ocasião, o PRF capotou a caminhonete que pilotava com as drogas, tentou empreender fuga em um táxi, mas foi rendido.

Naquele tempo, Raphael Angelo já era investigado por tráfico de drogas e trabalhava lotado na unidade da PRF em Natal, no Rio Grande do Norte. No curso das investigações, a PF identificou que ele recebeu um Jeep Compass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.

Em relação a Diego Duarte, ele está atualmente lotado na PRF da Bahia, mas já trabalhou na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia.

Diego foi preso no último dia 7 no âmbito da Operação Puritas. A Polícia Federal apreendeu na casa dele, em Feira de Santana, um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil de dinheiro em espécie. 

MENSAGENS SOBRE ESQUEMA

Além do transporte de centenas de quilos de cocaína, os agentes de segurança pública tinham outras funções na organização criminosa: contrainteligência e direcionar flagrantes contra quadrilhas rivais. Eles usavam informações “sensíveis” e “sigilosas” para beneficiar o grupo criminoso, como saber quando e onde ocorreriam “blitzes” e operações, bem como apontar rotas alternativas.

Em contrapartida, Heliomar fornecia informações aos agentes da PRF sobre a atividade do tráfico de drogas na região, de modo que eles fizessem flagrantes contra traficantes que concorriam com o grupo criminoso.

Com isso, os agentes de segurança pública passavam a imagem para as instituições de serem profissionais exitosos. Mas, o que PF descobriu é, na verdade, um antro de corrupção e lavagem de dinheiro.

Parte das drogas apreendidas pelos policiais também era repassada para Heliomar, que chegava a ficar, em alguns casos, com 30% da mercadoria. Esse modus operandi, segundo a PF, fez a organização criminosa “crescer muito rápido”.

As investigações apontam que Heliomar lavava o dinheiro do tráfico mantendo um mercado, uma locadora de carros e uma transportadora em Porto Velho.

CARRO ALUGADO

As conversas dos PRFs com Heliomar tiveram início em dezembro de 2021, quando o traficante fez a primeira negociação com os agentes de segurança pública para transportar as drogas.

A quebra do sigiloso telefônico e telemático dos investigados apontou conversas entre os agentes da PRF negociando o valor do “serviço” e elaborando estratégias para não serem pegos transportando a droga nas rodovias do país.

Diego e Raphael Angelo até alugavam carros para transportar os entorpecentes. Ambos realizavam consultas em sistemas informatizados da PRF para que outros membros da quadrilha evitassem fiscalizações nas rodovias. Confira os diálogos:

Em uma das conversas por WhatsApp, ocorrida entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2021, os dois PRFs consideram “baixo” o valor de R$ 35 mil para transportar 70 quilos de cocaína. Para eles, o mínimo teria que ser R$ 1,5 mil por quilo da droga, ou seja, R$ 105 mil.

Por ser véspera de Natal, eles falam sobre adiar a entrega para janeiro e afirmam que “toda semana aparece oportunidade”. No dia 18 de dezembro, Raphael diz para Diego que Heliomar “está apertando” para que eles façam o frete mesmo assim, porque isso “abriria portas” aos dois.

Prática de locação de carros para não levantar suspeitas

A Polícia Federal identificou que os agentes da PRF alugavam carros para despistar a polícia. Casos eles utilizassem o mesmo veículo para transportar drogas várias vezes, o sistema de inteligência da instituição acusaria a frequência do automóvel.

A partir da quebra de sigilo bancário, de notas fiscais e de metadados de GPS dos aparelhos celulares dos suspeitos, a PF conseguiu traçar o caminho da droga.

Raphael Angelo Alves da Nóbrega: alugou sete veículos em menos de dois anos; Diego Duarte: registros indicam que ele alugou veículos em 16 situações em dois anos, tendo emprestado o carro locado para Heliomar.

Mapa identifica uma das rotas utilizadas pela organização criminosa

“É importante ressaltar que PRFs têm conhecimento sobre o uso de carros alugados por traficantes para o transporte de drogas, o que levanta a possibilidade de Diego Duarte utilizar essa estratégia para evitar suspeitas e fiscalizações durante o transporte ilícito. Ou seja, por ele ser PRF, provavelmente os carros alugados em seu nome passariam fora do radar da fiscalização”, diz a PF no inquérito.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado