Alzheimer: Saiba mais sobre a doença, seus sintomas, como preveni-la e tratá-la

21 de Setembro 2021 - 12h06

Alguns aspectos da doença de Alzheimer ainda são uma incógnita para a medicina, justamente por ser uma doença neurodegenerativa que não tem cura. Sua causa, seu diagnóstico e seu tratamento nem sempre são precisos, o que torna a necessidade de se falar mais sobre a condição. Por isso, o dia 21 de setembro foi nomeado como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer.

No Brasil, ao menos 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência, e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 55 milhões, com 10 milhões de novos casos por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, o número de indivíduos acometidos pela doença poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.

O que é o Alzheimer?
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura, que atinge, em geral, pessoas acima dos 65 anos de idade, sendo a forma mais comum de demência no idoso, explica o psiquiatra Adiel Rios, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

A doença se instala quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começa a falhar. Com isso, surgem fragmentos de proteínas tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Essa toxicidade causa perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para linguagem, raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato.

“Estudos mostram que a doença está relacionada ao acúmulo no cérebro de placas formadas pela proteína beta-amiloide. Sua aglutinação entre os neurônios impede a transmissão de sinais, prejudicando toda a atividade neural”, afirma Rios.

O termo demência é usado para descrever um conjunto de sintomas que incluem perda de memória, dificuldade de pensamento e comprometimento da linguagem. Apesar de ser a causa mais comum de demência, a doença de Alzheimer não é a única. Existem outros tipos de demência neurodegenerativas e cerebrovasculares, afirma Natally Santiago, neurocirurgiã do Hospital San Gennaro.

“Diferentemente do envelhecimento cerebral normal, na doença de Alzheimer ocorrem alterações patológicas no tecido cerebral, com depósito de proteína (proteinopatia) e perda de neurônios”, explica Santiago.

Causas do Alzheimer
Não se sabe ainda o que realmente causa o Alzheimer, mas se acredita que seja algo geneticamente determinado. Segundo Santiago, a hereditariedade pode ser considerada um fator de risco, mas sem um caráter de transmissão genética direta a todas as gerações.

“Acredita-se que ocorra a transmissão de uma predisposição para desenvolvê-la, que junto a fatores externos (ambientais), pode ou não desencadear a doença”, disse.

Sintomas do Alzheimer
Perda de memória e alteração do comportamento são os primeiros sinais da doença, segundo a neurologista. Um sinal de alerta, segundo ela, é quando a perda da memória interfere nas atividades pessoais, se torna repetitiva e compromete a rotina do indivíduo.

“Com a evolução da doença, a memória fica significativamente comprometida, com incapacidade de reconhecimento de familiares, de ter as memórias autobiográficas. As alterações de comportamento também tendem a se agravar”, afirma Natally Santiago. O diagnóstico é clínico, feito por avaliação médica. Não existe um marcador para a doença, e os exames de sangue e de imagem ajudam na exclusão de outras possíveis causas de demência, explica a neurologista.

Nas fases iniciais do Alzheimer, as falhas progressivas de memória em relação a fatos recentes são os sintomas mais marcantes. Já memórias antigas tendem a ser preservadas, segundo Adiel Rios. “A pessoa pode se lembrar detalhadamente de fatos que ocorreram há 50 anos, mas não se lembra de algo que aconteceu ontem, ou há poucas horas”, comenta o psiquiatra.

Com a progressão da doença, começa a surgir a dificuldade para se orientar no tempo e espaço, e a incapacidade de se lembrar o caminho de casa, por exemplo. Outros sintomas são alterações do sono, agitação ou apatia e até quadros psicóticos, explica Rios.

“Na fase final da doença, o paciente perde a capacidade de se expressar, não reconhece nem os familiares e não consegue mais cuidar de si, demandando a presença de cuidadores em tempo integral”, diz o psiquiatra da USP.

O psiquiatra indica como os principais sintomas do Alzheimer:

Perda de memória
Diminuição da capacidade de juízo e de crítica
Dificuldade de raciocínio
Colocar objetos em lugar impróprio
Alterações frequentes de humor e comportamento
Mudanças na personalidade, e a perda da iniciativa para realizar tarefas
Fatores de risco para o Alzheimer
A doença foi batizada em homenagem ao médico Alois Alzheimer. Em 1906, o neuropatologista fez uma autópsia no cérebro de uma mulher que morreu após apresentar problemas de linguagem, comportamento imprevisível e perda de memória.

O Dr. Alzheimer descobriu as placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares, considerados as marcas da doença. Conheça alguns fatores que podem contribuir para seu desenvolvimento:

Idade: a probabilidade de desenvolver Alzheimer dobra a cada cinco anos após os 65 anos. Para a maioria das pessoas, os sintomas aparecem pela primeira vez após os 60 anos. O Alzheimer de início precoce é uma forma incomum de demência que atinge pessoas com menos de 65 anos e geralmente tem fator hereditário.

História familiar: a genética desempenha um papel importante no risco de um indivíduo desenvolver a doença.

Traumatismo craniano: existe uma possível ligação entre a doença e traumas repetidos ou perda de consciência.

Saúde do coração: o risco de demência vascular aumenta com problemas cardíacos, como hipertensão, colesterol alto e diabetes.

Tratamento do Alzheimer
Como o Alzheimer ainda é uma doença sem cura, alguns medicamentos são indicados para estabilizar ou reduzir a velocidade de progressão da doença, proporcionando mais tempo com alívio dos sintomas, gerando mais qualidade de vida ao paciente e seus familiares, afirma Santiago.

O uso do medicamento experimental aducanumab, indicado para as fases iniciais da doença, foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora dos EUA equivalente à Anvisa em junho de 2021. A agência não aprovava um novo medicamento contra o Alzheimer desde 2003.

A droga foi desenvolvida para pacientes com deficiência cognitiva leve e tem o objetivo de retardar a progressão da doença – não apenas aliviar os sintomas. A farmacêutica Biogen e seu parceiro japonês Eisai desenvolveram o aducanumab, administrado por meio de infusão intravenosa para tratar a doença de Alzheimer precoce. Em julho de 2020, a Biogen concluiu seu pedido para a FDA e aguardava a aprovação desde então.

Esta é a primeira autorização que muda a perspectiva do tratamento contra o Alzheimer. “O medicamento atua na proteína danificada no cérebro de quem já tem a doença”, afirma Jerusa Smid, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

No entanto, há fatores controversos sobre o aducanumab, que ainda precisam ser esclarecidos. Eles envolvem resultados clínicos e de efeitos colaterais, que devem ser esclarecidos na fase 4 da pesquisa (que testa a medicação em um grupo maior de pessoas), segundo a neurologista.

“Faltam dados que comprovem a melhora clínica do paciente, além do fato de a medicação apresentar sangramento cerebral como efeito colateral, considerado grave”, afirma Jerusa.

Outras drogas vêm sendo estudadas. Em março de 2021 o New England Journal of Medicine publicou um estudo indicando que o medicamento intravenoso experimental do laboratório Eli Lilly and Company, donanemab, pode retardar o declínio cognitivo em pessoas com a doença.

Em 25 de julho de 2018, resultados adicionais de um ensaio clínico inicial para uma droga experimental, o anticorpo chamado BAN2401, mostraram que ele melhorou a cognição e reduziu os sinais clínicos de Alzheimer. Detalhes sobre a imunoterapia foram anunciados em uma entrevista coletiva durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer no mesmo ano.

A primeira droga utilizada em larga escala e aprovada pelas agências reguladoras, em 1993, foi a tacrina. Porém, esse remédio caiu em desuso com o advento de novas medicações, pela dificuldade na administração e pelo risco de complicações e efeitos adversos.

As medicações que atuam na acetilcolina e que estão aprovadas para uso no Brasil nos casos de demências leve e moderada são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina (conhecidas como inibidores da acetilcolinesterase ou anticolinesterásicos), segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). “Todas disponíveis no Sistema Único de Sáude”, diz a neurologista da ABN.

“As medidas preventivas e o uso destas medicações tendem a melhorar sintomas e a retardar a progressão da doença, mas, definitivamente, não trazem a cura do Alzheimer”, afirma Smid.

Como prevenir o Alzheimer
Como até hoje a medicina não descobriu o que realmente causa a doença de Alzheimer, as medidas consideradas preventivas tendem a retardá-la, não a evitá-la, explica Smid.

As medidas de prevenção foram elencadas em duas meta-análises (revisão de diversos estudos) divulgadas nas revistas científicas The Lancet e Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, em 2020, que analisaram estudos sobre prevenção, tratamento e cuidados em casos de demência, sobretudo Alzheimer.

O consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação pobre em nutrientes, que aumente o risco de obesidade, diabetes e hipertensão são os principais fatores de risco, segundo a publicação.

Estes fatores, segundo os especialistas, precisam ser evitados com medidas sociais e educacionais para melhorar a vida destes grupos. “Essas ações requerem programas de saúde pública e intervenções individualizadas, concluíram os pesquisadores da University College London e da University of Plymouth, ambas no Reino Unido, que assinaram o trabalho.

Os autores concluíram que dois terços das intervenções mais promissoras se concentraram em mudanças de estilo para uma vida saudável, focadas em evitar fatores de risco para doenças cardiovasculares, como pressão alta e níveis de colesterol.

As principais ações preventivas (por indivíduos ou autoridades públicas) apontadas pelas duas meta-análises incluíram:

Manter o nível adequado de açúcar no sangue e o peso sob controle para evitar diabetes
Manter o peso em um nível saudável, normalmente abaixo de um Índice de Massa Corporal (IMC) de 25
Obter o máximo de educação escolar possível a partir da infância
Evitar traumatismo craniano (como concussões)
Manter-se cognitivamente ativo com leituras e aprendendo coisas novas
Evitar ou controlar a depressão
Gerenciar o estresse
Tratar a “hipotensão ortostática” (sensação recorrente de tontura ao se levantar)
Manter a pressão arterial sob controle a partir dos 40 anos
Examinar os riscos de perda de audição ao longo da vida e adotar aparelho auditivo se necessário (perda auditiva está associada a dano na região cerebral vinculada à memória)
Evitar níveis elevados de homocisteína, um aminoácido que pode contribuir para a formação de coágulos nos vasos sanguíneos e danos nas artérias (prevenção com base em suplementação de vitaminas do complexo B, com recomendação médica)
Praticar exercícios físicos
Gerenciar a fibrilação atrial, que é uma frequência cardíaca rápida e irregular devido a sinais elétricos caóticos no coração (com acompanhamento médico regular)
Comer alimentos com vitamina C ou tomar suplementos (frutas cítricas, como laranja e acerola; legumes, como cenoura, pimentão amarelo e pimentão vermelho, e verduras, como couve e brócolis)
Reduzir a exposição à poluição do ar e ao fumo passivo do tabaco
Evitar abuso de álcool
Evitar o hábito de fumar
Ter sono de boa qualidade
Evitar terapia de reposição de estrogênio no pós-menopausa (isso não se aplica em casos de menopausa precoce ou perimenopausa)
Evitar o uso de medicamentos para demência como prevenção
Combater a pobreza e a discriminação racial
 

 

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