Severino Galdino da Silva, paraibano de Campina Grande. Pouca gente sabe quem é. Mas se disse Burunga, ai vão se levantar torcedores de Alecrim, ABC, América, além de Campinense e mais uma galera paraibana, onde ele nasceu. Burunguinha passou para outro plano nesta triste segunda-feira.
E fiquei arrasado por um motivo: não sabia que ele estava doente, internado no Giselda.
Ele lutava contra um câncer em decorrência de complicações de Hepatite C, infelizmente descoberta e tratada muito tarde, doença maldita que vitimou tantos ex-craques. Burunga completaria 81 anos no mês de julho, e entra nessa longa lista de lendas de nosso futebol que, agora, efetivamente, viraram lendas.
Joguei ao lado de Burunga no ano de 1978. Eu, garotão, começando, empolgado, e ele, aos 36 anos, em final de carreira. O time era o Força e Luz de Ranilson Cristino. Com ele e Arandir, volante que brilhou em ABC e América, aprendi lições de raça, amor ao clube que defendia e entrega total. Os dois faziam de cada jogo uma decisão de campeonato.
O velhilho era um guerreiro num time de mestres queridos - Bastos, Zoca, Babau, Alfredo, Nunes, Wilde, Carlos Ataliba, Arandir, Valdeci Santana, Bandeira, Bebé, Djalma, Cocó, Elson, Maia, entre outros.
Minha estreia com eles se deu no estádio Coronel Bezerra, em Currais Novos, período mais lúdico de minha jornada no futebol. Muitas saudades.
Três historinhas do mestre querido:
Quando cheguei no Forcinha, o time semi-amador, quase todos os jogadores trabalhavam de dia e só treinavam à noite, na quadra da Cosern, ainda estatal. No primeiro dia, bola rolando, ele bateu um lateral para mim, dominei com a parte da frente do pé, uma maneira que sempre gostei, ao contrário do natural que aparar com o lado. Ele olhou desconfiado, cara feia e disse: "esse menino parece que está pisando em ovos..." Fiquei todo errado e com raiva dele. Raiva que durou só um dia.
A outra foi numa partida em Macau, o campo ainda era um areal danado, jogo pegado. Pressão enorme da torcida presente em grande número. A bola saiu na lateral, ele correu, pegou e na hora que ia bater e aí um cara da torcida começou a passar uma peixeira no alanbrado e dizia: "olha aqui o que tenho para você, Burunga". Ele, sem se preocupar, olhou para trás e lascou: "isso só corta na mão de homem", e seguiu jogando.
A terceira que me emociona até hoje. Burunga era conhecido por ser guerreiro e, muitas vezes, malvado com seus marcadores. Ele não alisava. E sua maior arma de defesa era o cutuvelo, e arrebentava mesmo quem chegasse batendo (lembram de Pelé contra o Uruguai?). Claro, ele usava porque apanhava demais dos defensores.
Um dia de Alecrim x Força e Luz, no Machadão, eu já defendendo o Time Verde. A bola vai na lateral, eu disparo e chego apertando ele na marcação, forte, quase faltoso, ele prepara o cutuvelo, levanta o braço, mas nesse momento, olha para trás, vê que sou eu e o braço fica parado no ar, e diz: "eita, é tu Pepê? (era assim que ele me tratava).
Não consigo evitar as lágrimas quase todas as vezes que lembro dessa demonstração de carinho e amizade, e hoje então...
Buruguinha, meu mestre querido, que, agora, você descanse em paz.
O corpo de Burunga será velado no Centro de Velório da Rua São José.
*Na foto, eu, na ponta direira e ele na esquerda
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