Assédio no Ministério Público do Trabalho: 83% já viram pessoas sendo assediadas no órgão

12 de Setembro 2022 - 07h12

Perseguição, gritaria, desconfiança, pressão na execução do trabalho e diferença de tratamento entre funcionários e promotores, procuradores e membros da diretoria são exemplos de assédio moral sofridos por servidores do MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Relatos como esse são comuns às vítimas ouvidas pelo R7. Para tentar modificar a cultura institucional, uma carta anônima foi enviada ao procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo. 

O estopim foi o suicídio de um funcionário dentro da instituição. O analista jurídico se jogou do prédio sede do MP, na capital paulista, em 29 de junho e morreu na hora. 

"A forma que a instituição tratou o ocorrido foi horrorosa. No dia seguinte, o prédio funcionou. Trabalhamos com cheiro do formol usado na limpeza de onde estava o corpo. Só soltaram uma nota 24 horas depois. Isso foi a gota d'água. A partir da morte dele veio o despertar nosso. Ele ter feito isso no local de trabalho é simbólico. É um grito de 'chega'", afirmou uma das assinantes das cartas anônimas que prefere não se identificar.

Um grupo de servidores elaborou um questionário e enviou aos funcionários com o objetivo de explicitar a cultura do assédio dentro do Ministério Público paulista. O levantamento reuniu 777 respostas entre 5.500 servidores.

A partir da análise dos dados, foi identificado que 76,4% dos entrevistados já sofreram assédio moral e 14,3% sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho. Também foi constatado que 83,3% dos servidores presenciaram alguém sendo assediado na instituição.

"Fiquei com dor de estômago dos relatos. Deu para ter a amplitude do problema. O MP tem um canal de denúncias, mas é como denunciar o abuso para o abusador. Não funciona, não vai para frente. O assédio não vem só de promotores e procuradores, mas também da diretoria, são servidores com cargos de chefia", revela a denunciante.

Entre os relatos de assédio sofridos dentro da instituição estão ameaças de que o funcionário não vai passar em concurso, que vão investigar a vida pregressa do candidato, que não vai ter boas referências, além da execução de funções como servir café ao promotor, buscar o carro no lava-rápido, em geral tarefas de cunho pessoal.

Também há casos de gritos e ameaças de abrir indevidamente um processo administrativo, uma espécie de sindicância interna para apurar a conduta do funcionário.

Segundo o levantamento, as denúncias de assédio moral estão em maior número. No caso do assédio sexual, as vítimas são mulheres que relatam ter que se agachar para pegar processos no chão ou serem colocadas contra a parede, por exemplo. São situações mais veladas e não acontecem na frente de todos.

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