Pode parecer besteira do nosso ilustre Bora Porra, torcedor do ABC, mas enquanto o cadeado na casa de Zé Carlos não foi aberto, o alvinegro penou em Mossoró. Era bola na trave, Léo Gamalho perdendo gol embaixo das traves; tudo indicava na “virada definitiva da sorte”.
Isso porque o América vencia o time verde e assumia com boa diferença a liderança. Mas os caboclinhos de Bora Porra, de novo, foram muito fortes. Vou tentar resumir para vocês que não estão entendendo nada a história do cadeado. Os jogos em horários apertados, por isso não deu para ir a Goianinha ontem.
Combinamos, Eu, Bora Porra e Zé Carlos nos encontrarmos nas esquina da Santo Antônio e escutar os jogos pelo rádio. Eles dois, abcdistas, e eu acompanhando por conta da profissão de jornalista esportivo, para ter o que escrever depois. Terminou o programa Esporte em Pauta na tevê Assembleia e corri para o local combinado.
Lá só estava o ex-amor da “Rainha do Grude” (diz nosso herói que está curado para sempre da ‘doença’). Liguei para Zé Carlos que não tinha chegado ainda. Zé, para quem não sabe, vai ficar sabendo agora, foi um dos grandes craques de futsal na década de 80/90, campeoníssimo por América, AABB, ABC, Aspetro e outros.
Nós três, amigos de infância. Ele atendeu dizendo que já estava saindo. Esperamos, esperamos, esperamos e nada de Zé Carlos aparecer. De repente, chega uma moça, vizinha dele (Zé) pedindo ajuda. E ela disse que Zé Carlos foi saindo de casa, trancou o portão no cadeado e pegou a chave a errada.
Ficaram, ele e dona Duó, a mãe, que havia chegado da igreja, presos do lado de fora. Na mesma hora Bora Porra viu aí a intervenção das forças sobrenaturais. “Pêpa, esse cadeado tem que abrir se não o ABC não ganha do Potiguar”, me disse sério. Eu estranhei e não levei muito a sério. Bora se transformou a partir daquele momento.
Ele já estava chateado porque o América estava vencendo o Alecrim de 3 a 0, piorou muito. Na sequência, me garantiu que forças estranhas estavam trabalhando por uma “virada” do América no Estadual. O homem se aperreou, mais e mais, revirou seu apartamento em busca da serra para abrir o cadeado do “mistério”. Não achou.
Os vizinhos, sem saber do aperreio de Bora, queriam ajudar e chamaram o chaveiro. O rapaz chegou na moto, com sua mala de apetrechos e começou a trabalhar. E ele fez várias tentativas com serras diferentes para abrir o cadeado da marca Papaiz. E o jogo rolando. O tempo passando. O Potiguar de vez em quando ameaçando.
O profissional da chave vira, mexe, catuca, bate, serra, tenta sua mola mestra, e nada. E Bora Porra quase chorando de agonia com celular colado no ouvido, acompanhando todos os lances da partida. E também nada de gol do ABC, e já passando dos 35 minutos do segundo tempo.
Num último recurso, trouxeram uma furadeira elétrica, conseguiram extensões, ligaram a bicha e pegue zoada na Padre Calazans (a rua da casa de Zé Carlos). Aos 40 minutos do segundo tempo o chaveiro, finalmente, abre o cadeado. Bora Porra se enche de alegria. Já havia terminado América 4 x 1 Alecrim.
Ele olha para mim e assegura com toda firmeza que vai sair um gol do ABC. Eu, sinceramente, não acreditava mais. Zé Carlos nem prestava muito atenção no jogo, preocupado em abrir o portão para sua mãe poder entrar em casa. Mas foi a partir daí que o ABC, acho eu, passa a massacrar o Potiguar de Mossoró.
Renatinho, que havia entrando (tardiamente) deita e rola, Tiaguinho, Gamalho e Raul quase gol em alguns lances. E Bora Porra: “Vamos meus caboclinhos, eu sei que ainda dá tempo, o cadeado já abriu; o cadeado que estava fechando o gol do Potiguar já se abriu”, repetia, enquanto orava com fé.
Aos 44, Renatinho finta dois, chuta na trave. Bora Porra quase tem um chilique. Aos 46, bate, rebate, confusão, a bola sobra para Thiaguinho que havia entrado no lugar de Jérson. Finalmente! Gollllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll do ABC!
“Pega Poooooooooooooorra!” Grita o nosso herói assustando as senhoras que ainda estavam na rua prestando solidariedade à mãe de Zé Carlos. Bora Porra se ajoelha, mostra os braços arrepiados, levanta as mãos para o céu, quase chora de emoção, e agradece aos caboclinhos mais uma vitória do seu time do coração.
E foi assim. Depois, fomos lá para o Bar do Naldo e. excepcionalmente, nessa quarta-feira Bora Porra só foi “botar os óio pra murchar” depois da 12h, mas muito feliz.
* Esse texto do Bora eu publiquei em março de 2012.
** por falta de novidades em nosso futebol eu republico aqui.
*** charge impagável do meu amigo Brum
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