Retomar a produção de carros populares, ou carros de entrada, como eles são chamados hoje, é um dos temas que o setor automotivo quer discutir com o governo Lula. Para isso, um grupo composto por montadoras, empresas de autopeças e concessionárias já conversou com representantes do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), comandado por Geraldo Alckmin.
Uma das justificativas para que se volte a fabricar automóveis mais baratos é a diminuição nas vendas de carros novos, consequência direta da queda do poder aquisitivo dos consumidores. Também tiveram influência os juros elevados, o crédito restrito e o alto custo dos modelos mais modernos, com tecnologia avançada e maior segurança. Esses veículos têm seu público, mas em menor número entre os consumidores.
O presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), José Andreta Júnior, afirmou que o setor 'precisa de escala'; do contrário, não consegue gerar rentabilidade, o que poderia abrir as portas para demissões no setor.
Ele afirmou que a entidade tem um banco de dados que pode ser colocado à disposição do governo, para ajudar a "ativar a produção [de carros mais baratos] no Brasil".
Embora a venda de automóveis e comerciais leves tenha registrado alta de 56% em março, na comparação com fevereiro (mês com menos dias úteis), o presidente da Fenabrave disse que os números "não refletem a realidade, pois estão mascarados pelo fraco desempenho de 2022".
O balanço do primeiro trimestre, divulgado nesta terça-feira (4), também mostrou que houve reação do mercado nesses três primeiros meses de 2022, com aumento de 16,6% nas vendas, o que corresponde a 436,8 mil unidades que saíram dos páteos.
Crise do setor
Porém, um estudo realizado pela consultoria S&P Global mostra que as montadoras operam com quase 40% de ociosidade. Em fevereiro, a produção de veículos foi a menor para o mês dos últimos sete anos, com 161,2 mil automóveis montados, uma queda de 2,9% em relação ao mesmo período de 2022, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Há poucos dias, uma das maiores montadoras de automóveis do país, a Volkswagen, anunciou que iria conceder novos períodos de férias coletivas aos trabalhadores das fábricas de Taubaté e de São Carlos, no interior de São Paulo, no início deste mês. Entre os dias 22 de fevereiro e 3 de março, a marca já havia dado férias gerais para os funcionários de três fábricas, incluindo a de São Carlos, mais as unidades de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e em São José dos Pinhais, no Paraná.
Cerca de 15 dias atrás, as empresas Hyundai, General Motors e Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) também vieram a público comunicar uma pausa na produção, com férias coletivas dos trabalhadores, com o objetivo de tentar reverter os impactos causados pela queda nas vendas de veículos no Brasil.
Por tudo isso, Andreta avalia que "o crescimento do setor tem de vir de baixo para cima, e atingir o consumidor que, hoje, não consegue mais comprar carro zero".
R7
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