O dólar opera em queda nesta terça-feira (22), favorecido pelos juros elevados do Brasil e também por um fluxo voltado a mercados ligados a commodities e vistos como mais baratos. A escalada na tensão entre Rússia e Ucrânia segue no radar dos investidores, mas ainda não supera os fatores de alta do real.
Por volta das 9h23, a moeda norte-americana caía 0,56%, cotada a R$ 5,078. O contrato futuro do dólar de primeiro vencimento negociado na B3 recuava 0,56%, a R$ 5,075.
Na segunda-feira (21), o dólar teve queda de 0,70%, cotado a R$ 5,105, no menor valor desde 29 de julho de 2021. Já o Ibovespa caiu 1,02%, aos 111.725,30 pontos.
Ucrânia
Na segunda-feira, o reconhecimento por parte do presidente da Rússia, Vladimir Putin, da independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia, com autorização de envio de tropas para as áreas, afetaram negativamente o mercado, com várias bolsas encerrando o dia no negativo. Os Estados Unidos e seus aliados responderam ao ato com uma série de sanções.
O novo cenário não chegou a ser absorvido pelo mercado na reta final das negociações do dólar no Brasil na segunda-feira, mas deve concentrar as atenções de investidores ao longo da semana.
O potencial de novas escaladas envolvendo a Rússia e a Ucrânia, como uma invasão do país, aumenta a aversão a riscos dos investidores e leva à busca pelo dólar. Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, “o aumento da tensão pode favorecer o real via commodities mais elevadas”.
A situação ainda não superou os benefícios para o real de um ciclo de migração de investimentos para mercados ligados a commodities e vistos como baratos, com o Brasil beneficiado também pelos juros altos, que limita os efeitos das apostas em uma política de alta de juros agressiva pelo Federal Reserve.
Exterior
O ciclo está ligado, em partes, a expectativas de mais medidas pró-crescimento na China que estão aumentando as esperanças de uma recuperação na demanda por metais, o que leva a altas nos preços. Por outro lado, intervenções do governo chinês no mercado têm gerado quedas recentes, em um sobe e desce na cotação.
No caso do petróleo, analistas do Goldman Sachs afirmam que os preços do tipo Brent devem superar os US$ 100 por barril neste ano. Segundo eles, o mercado de petróleo continua em um “déficit surpreendentemente grande” já que o efeito da variante Ômicron do coronavírus na demanda pela commodity é, até agora, menor do que o que era esperado. Além disso, as tensões na Ucrânia fazem os preços subirem, já acima dos US$ 90.
Outro fator que pesa nesse movimento é a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos já no mês de março, de 0,25 ou 0,5 ponto percentual, reforçada por dados de inflação levemente acima do esperado. Com isso, investidores estrangeiros têm saído do mercado de ações norte-americano.
Com a inflação americana batendo recorde em quatro décadas, o Fed vem dando indicações mais duras aos mercados, mas a ata da última reunião do banco não deixou claro o tamanho e ritmo do aperto que o banco central americano fará, indicando que as decisões ocorrerão a cada reunião pelo contexto econômico.
Qualquer alta de juros no país pode afetar os investimentos no Brasil, já que torna os títulos do Tesouro norte-americano ainda mais atrativos para os investidores, pressionando negativamente o real.
Brasil
No radar dos investidores também está a chamada PEC dos Combustíveis, que permitiria a suspensão de impostos para esses produtos. Representando um possível descontrole de gastos, o tema tem potencial para afetar negativamente o real e o Ibovespa.
Duas PECs já foram protocoladas, uma no Senado e outra na Câmara, com cálculos de perda de arrecadação indo de R$ 18 bilhões até R$ 100 bilhões dependendo do conteúdo, mas o foco no momento são dois projetos de lei sobre o tema que podem ser votados nesta semana.
Um dos PLs determina um valor fixo de cobrança do ICMS para combustíveis, com o tributo estadual deixando de variar seguindo flutuações de preço do produto, e expande o chamado vale-gás para famílias brasileiras.
Já o outro criaria um fundo de estabilização do preço do petróleo e derivados (diesel, gasolina e GLP), com uma nova política de preços internos de venda para distribuidores.
Deixe o seu comentário
O seu endereço de email não será publicado