Dólar norte-americano pode se tornar digital; entenda o que isso significa

13 de Março 2022 - 08h55

Com a tecnologia revolucionando a maneira como as pessoas vivem, trabalham e gastam, os bancos centrais de todo o mundo iniciaram esforços para reinventar suas moedas locais para a era digital.

Os Estados Unidos sinalizaram recentemente a “urgência” na pesquisa de uma possível versão digital de seu dólar por meio de uma Moeda Digital do Banco Central, ou Central Bank Digital Currency (CBDC).

Parte do decreto presidencial sobre ativos digitais do presidente Joe Biden assinado na quarta-feira (9) inclui “colocar urgência na pesquisa e desenvolvimento de uma potencial CBDC dos Estados Unidos, caso a emissão seja considerada de interesse nacional”, de acordo com uma ficha técnica divulgada pela Casa Branca.

China, segunda maior economia do mundo de acordo com o PIB, lançou seu renminbi digitalem janeiro. A CBDC chinesa já possui mais de cem milhões de usuários.

Ao todo, cerca de 100 países estão explorando CBDCs em um nível ou outro, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, durante comentários feitos no encontro do think tank do Atlantic Council no mês passado.

“Nós fomos além das discussões conceituais de CBDCs e agora estamos na fase de experimentação”, declarou Georgieva. “Os bancos centrais estão arregaçando as mangas e se familiarizando com os bits e bytes do dinheiro digital”.

David Yermack, presidente do departamento de finanças da Stern School of Business da Universidade de Nova York, disse ao CNN Business que agora é “inevitável que o mundo inteiro esteja emitindo dinheiro dessa maneira”.

Nos Estados Unidos, a pandemia impulsionou a demanda por métodos de pagamento sem dinheiro e muitos investidores fora da bolsa adotaram criptomoedas como o bitcoin e o ethereum, pressionando o governo a não ficar para trás na tendência.

Com o governo Biden agora dando novo peso à inovação da moeda, saiba o que é preciso entender sobre uma potencial CBDC.

O que é uma CBDC?

Federal Reserve define CBDCs como “uma forma digital de dinheiro do banco central amplamente disponível para o público em geral”.

Uma diferença fundamental das formas atuais de dinheiro digital em uma conta bancária ou aplicativo de pagamento é que o dinheiro seria um passivo do Fed e não dos bancos comerciais – daí o “dinheiro do banco central”. Isso significa que seria um dólar americano real em formato digital, não um investimento em uma criptomoeda ou um fundo no PayPal.

Existem opiniões divergentes sobre como isso funcionaria na prática, mas, em teoria, seria possível aliviar a necessidade de processadores de terceiros ao transferir dinheiro.

“Em um nível muito alto, uma CBDC é apenas dinheiro digital que seria emitido pelo banco central”, disse Sarah Hammer, diretora administrativa do Stevens Center for Innovation in Finance na Wharton School da Universidade da Pensilvânia.

“Seria baseada na moeda fiduciária daquele país, portanto ela seria baseada na oferta de dinheiro – e então implementada usando um banco de dados do governo ou entidades do setor privado aprovadas trabalhando com o governo”.

Yermack, que estuda a ascensão das moedas digitais há anos, acrescentou que uma CBDC “realmente operaria muito como a bitcoin ou outras criptomoedas”.

“Seria uma rede de carteiras, provavelmente mantidas por pessoas físicas, onde elas poderiam pagar umas às outras diretamente sem passar por terceiros”, comentou Yermack.

De acordo com a especialista Hammer, uma decisão tecnológica significativa para os formuladores de políticas é definir se uma moeda digital do banco central dos Estados Unidos é executada em uma blockchain, a tecnologia que sustenta criptomoedas como o bitcoin, pois isso colocaria o peso do governo federal por trás dessa tecnologia emergente.

“Ela pode ser operada por meio de um banco de dados central ou por meio de tecnologia de contabilidade distribuída, a blockchain”, disse Hammer.

O Federal Reserve Bank de Boston e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicaram uma pesquisa conjunta no mês passado sobre um experimento da CBDC. O estudo foi apelidado de “Projeto Hamilton”.

O trabalho usou a tecnologia blockchain e “produziu uma base de código capaz de lidar com 1,7 milhão de transações por segundo”, de acordo com uma declaração do Fed de Boston.

Isso ficou muito acima da referência de 100 mil transações por segundo que os pesquisadores inicialmente procuraram atingir.

A declaração acrescentou que o Projeto Hamilton “se concentra na experimentação tecnológica e não visa criar uma CBDC utilizável para os Estados Unidos”.

No entanto, Yermack, da Universidade de Nova York, disse que é “provável que o que quer que eles estejam trabalhando seja o que aquilo que o Fed vai agarrar e tentar implantar”.

O yuan digital da China, no entanto, não opera na tecnologia blockchain. Ele visa a substituir os pagamentos em dinheiro e pode ser acessado por meio de um aplicativo móvel mantido pelo governo, bem como pelo app WeChat, da Tencent.

Ele usa a infraestrutura de tecnologia existente usada por bancos comerciais e online chineses aprovados e plataformas de pagamento, e é emitido pelo Banco Popular da China (BPOC).

Quais são os potenciais benefícios e riscos?

Uma CBDC poderia oferecer aos consumidores uma alternativa mais conveniente, segura e barata às opções disponíveis atualmente.

Também poderia aliviar a necessidade de dinheiro e reprimir transações fraudulentas, de acordo com Hammer, além de ser mais eficiente para coletar impostos ou distribuir fundos governamentais direcionados.

“Existem alguns benefícios de inclusão financeira em ter uma moeda digital do banco central”, acrescentou a especialista da Wharton School, aludindo à capacidade de beneficiar norte-americanos que não têm contas bancárias.

Existem vários riscos potenciais, incluindo barreiras tecnológicas e preocupações de segurança, bem como ameaças à privacidade, observou Yermack.

O potencial para assumir parte do trabalho realizado por bancos comerciais e mercados de crédito também causou preocupação.

O Fed alertou especificamente sobre possíveis riscos de segurança cibernética em um relatório de janeiro, dizendo que “qualquer infraestrutura dedicada para uma CBDC precisaria ser extremamente resiliente a essas ameaças, e os operadores da infraestrutura da CBDC precisariam permanecer vigilantes, pois os maus atores empregam métodos e táticas cada vez mais sofisticados”.

Além disso, uma CBDC poderia ameaçar a independência do Fed e levantar uma série de novas questões políticas.

“O risco de abuso político é enorme”, disse Yermack. “Se você der ao banco central esse tipo de poder, as salvaguardas políticas provavelmente precisariam ser muito mais altas do que as atualmente em vigor para o Federal Reserve”.

Embora Yermack diga que uma CBDC provavelmente exigirá um “redesenho político cuidadoso” e um período de transição à medida que as nações o experimentarem na próxima década, ele ainda vê “muitas boas razões para fazer isso”.

“Acrescente a isso o fato de que as pessoas realmente não gostam de usar dinheiro, ou seja, as preferências do público também estão empurrando os governos nessa direção”, disse Yermack.

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