Entenda a história de tensão em João Dias, que chegou ao ápice hoje com o assassinato do prefeito
O noticiário recente de João Dias, município com pouco mais de 2 mil habitantes, pode ser contada tanto na editoria de política, quando na de polícia. Isso porque denúncias, operações, eleições, renúncias e posses se misturaram bastante ao longo dos últimos quatro anos.
Por isso, apesar do clima de tensão local ter chegado, possivelmente, ao seu ápice nesta terça-feira (27), com o assassinado do prefeito Marcelo Oliveira e do pai dele, há algum tempo o clima lá é de constante risco a vida e a tranquilidade daquela região, localizada na tromba do elefante potiguar, já quase na divisa entre o RN e a Paraíba. Veja toda a trajetória dessa história nos tópicos abaixo:
COMEÇO DA HISTÓRIA
A primeira vez que a redação da 96 FM teve acesso a essa história foi com base em uma informação divulgada pela Polícia Civil do RN, em outubro de 2020, quando a Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado (DEICOR) anunciou que estava a procura de Damaria Jácome de Oliveira, então com 31 anos, candidata a vice-prefeita de João Dias.
Damaria estava na condição de foragida da Justiça. Em desfavor dela, foi expedido um mandado de prisão preventiva, referente à suspeita da prática dos crimes de integrar milícia privada, receptação e posse ilegal de arma de fogo.
Damaria era irmã de quatro foragidos da Justiça (mais abaixo tem mais informações sobre eles) e cunhada de Carlos André Freire da Silva, 45 anos, investigado pela suspeita da prática dos crimes de tráfico de drogas internacional e associação para o tráfico. As diligências duraram três dias, mas os policiais não conseguiram capturá-la. Naquele mês, a Deicor havia deflagrado uma operação que resultou nas prisões de sete pessoas e na desarticulação de uma organização criminosa, na cidade de João Dias.
Entre os presos, está o vereador Laete Jácome de Oliveira, 64 anos, pai da candidata a vice-prefeita. Na residência do vereador, foram apreendidas uma quantia de R$ 15 mil, duas espingardas calibre 12, com 100 munições do mesmo calibre, dois rifles de calibre 38, com 103 munições do mesmo calibre, e três pistolas calibre 380, com 80 munições.
VITÓRIA E RENÚNCIA
Apesar das acusações, Damaria Jácome conseguiu reverter a ordem de prisão judicialmente e seguiu candidata. Dias depois, foi eleita ao lado de Marcelo Oliveira. Tomaram posse juntos. O pai dela, Laete, também foi reeleito e se tornou presidente da Câmara Municipal de João Dias.
Após assumirem os mandatos, no entanto, houve uma inversão extraoficial dos papeis. Marcelo Oliveira solicitou afastamento e, em seguida, renunciou oficialmente em maio (cerca de cinco meses como prefeito), alegando um problema de saúde. Damaria Jácome virou prefeita.
PRISÕES, MORTES E HOMENAGEM
Enquanto um lado da família Jácome seguia tranquila na política de João Dias, aparentemente, outro lado tinha problemas com a polícia. Reportagem do jornal AgoraRN, de outubro, apontou que a Polícia Civil seguia a procura de quatro irmãos potiguares suspeitos de comandar o tráfico no Nordeste.
Segundo o delegado Erick Gomes, na época titular da Deicor, os procurados foram identificados como Francisco Deusamor Jácome de Oliveira, de 37 anos, Samuel Jácome de Oliveira, 40, José Romeu Jácome de Oliveira, 34, e Leidjan Jácome de Oliveira, 36. Eles eram irmãos de Damaria e filho de Laete.
Em junho do ano seguinte, Samuel foi preso na cidade de Aracaju. Quatro meses depois, uma grande operação policial no interior da Bahia deu um "fim" a dois desses irmãos. Na zona rural do município de Barras, Deusamor e Leidjan foram mortos em confronto com a Polícia.
No local, foram encontrados vários fuzis, um carro de luxo, armas e munições. Na mesma ocasião, Romeu Jácome foi detido num shopping.
Segundo a Polícia Civil, a quadrilha de irmãos era apontada como os principais fornecedores de drogas no Nordeste, chegando a comercializar, durante os meses de investigação, mais de R$ 30 milhões em maconha.
Após as mortes, a prefeita Damaria Jácome chegou a decretar luto no município de João Dias e fez até uma cavalgada em homenagem a ele. Escreveu um texto afirmando que foram mortes sem o direito de se defender.
RETORNO DE MARCELO E AFASTAMENTO DE DAMARIA
Um ano após a morte dos irmãos, Marcelo Oliveira conseguiu autorização da Justiça para retomar o mandato, mesmo após ter renunciado. A decisão da desembargadora Zeneide Bezerra atendeu a um pedido do prefeito, onde ele afirmou que sofreu "coação moral irresistível consistente em ameaças de morte à sua pessoa e à sua família" e, por isso, havia deixado o cargo.
Depois meses depois, após denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Norte, a Justiça potiguar determinou o afastamento dos cargos da vice-prefeita e do presidente da Câmara Municipal de João Dias por 180 dias.
Pai e filha, Laete Jácome e Damária Jácome eram acusados de terem cometido extorsão contra o atual prefeito da cidade para que ele renunciasse ao cargo e a vice assumisse a prefeitura local.
Além do afastamento, a Justiça também decretou as prisões preventivas dos políticos, que agora são considerados foragidos e réus em ação penal, segundo o MP.
LUTO E CANDIDATURA
Após uma série de idas e vindas, inclusive, com a informação de que chegou a romper a tornozeleira eletrônica que usava, Laete Jácome faleceu em maio deste ano. Ele sentiu-se mal, foi socorrido para o Hospital Regional de Pau dos Ferros. Contudo, não resistiu e veio à óbito.
Damaria seguiu em frente e se candidatou a prefeita da cidade. Atualmente, faz campanha nas redes sociais e, até o momento da publicação dessa reportagem, não se manifestou sobre o assassinato de Marcelo Oliveira.
A Prefeitura deve ser assumida pela irmã dela, Leidiane Jácome (conhecida como Leida de Laete), que era vice-presidente da Câmara Municipal e assumiu a Presidência desde a morte do pai - sim, pai e filha eram vereadores. Ainda não se sabe se a irmã vai assumir a Prefeitura, porque isso pode impedí-la de tentar a reeleição para a Câmara.
É importante ressaltar que, oficialmente, não há nenhum impedimento legal para a candidatura de Damaria Jácome a Prefeitura de João Dias.
REFORÇO NA SEGURANÇA
Após o assassinato do prefeito Marcelo Oliveira e do pai dele, Sandi Alves de Oliveira, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED) determinou reforço nos efetivos da Polícia Militar e Polícia Civil com o objetivo de identificar, localizar e prender os criminosos.
Vale ressaltar que o crime foi registrado nesta manhã, no próprio município de João Dias, em condições ainda a serem esclarecidas. A motivação também está sendo investigada.
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O Brasil é uma vergonha! Como que uma cidade de apenas 2 mil habitantes tem estrutura de prefeitura? Dinheiro público jogado no lixo!
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O reforço da governadora chegou tarde nesse atípico assassinato.
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Exatamente! Paulo Guedes quando era ministro da economia quis acabar com todos esses municípios com menos de dez mil habitantes mas não deixaram.
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Esses municípios pequenos é uma vergonha e da prejuízo à nação. Essa família Jacome é sucesso de terror. Vergonha do RN
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