Essa história, já tem 13 anos anos, publiquei no portal Nominuto, já o republiquei umas duas vezes, essa aqui no protal da 96 Fm é a primeira. Especial demais porque "Meu Galêgo" já é pai, meu amigo Francisco Diá ainda está sem clube (cegos de guia do futebol do Brasil) e meu amigo Giba, também presente no texto, já está em outro plano.
Uma história linda, eu acho e me emociono sempre que me lembro e a releio.
Republico neste final de domingo de novembro.
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O “meu Galego” não virou a casaca
Saí da tevê Assembleia às pressas.
Gosto de chegar no estádio bem antes da hora do jogo, mas no meio de semana não dá por conta do programa Esporte em Pauta.
Minha esposa tinha saído no carro, e chegou na hora marcada, com uma novidade: Meu Galego queria ir para o jogo.
Fomos.
Surpreso, perguntei porque ele queria ir ao Machadão.
Lacônico, bem ao seu estilo, ele dissse: “vou torcer pela derrota do América”
Era um jogo do Estadual entre América x Coríntians de Caicó.
Deixa eu explicar como as coisas são lá em casa:
Tenho quatro filhos – Dimitri (25 anos), Filipe (22), Ludmila (16) e João Vitor (12), o Meu Galego.
O mais velho é alecrinense, o segundo é palmeirense, Ludmila e João Vitor, a exemplo da mãe, Evânia, são ABC.
Meu Galego me dá uma colher de chá ao dizer que torce pelo Botafogo no Rio.
Mas voltemos ao campo.
Como chegamos em cima da hora tivemos que estacionar o carro longe. Perto do Machadinho.
Andamos um pedação.
Entramos no estádio.
Fui com ele para a Tribuna de Honra, lugar que, achava eu, seria mais tranqüilo para nós.
O Meu Galego estava de bermuda, não podia. Entendi as desculpas do funcionário da SEJEL.
Nenhum problema.
Fomos para as cadeiras (gosto da visão lá de cima).
– Pai se quiser ir lá para o campo eu fico aqui – falou ele. Claro, não fui. Fiquei do seu lado.
Começou o primeiro tempo. Ele, impassível, bem ao seu estilo, sem demonstrar nenhuma emoção ou maior interesse.
Nada pergunta.
Olha em volta, ver a fofoca da torcida do Galo (numerosa) e continua como se estivesse em qualquer outro lugar.
Sério que só um burro coiceiro, como diria o meu povo lá de São Tomé.
Não estava gostando do jogo, pensei.
O primeiro tempo se foi inteiro. E como ele disse que ia torcer pela derrota do América fiquei sem entender porque também na hora do gol do Galo Meu Galego de manteve frio.
“Esse danado é de gelo”, pensei. Muito diferente de mim.
O América bailou. O Meu Galego, enfim, comprou um refrigerante e pipoca depois de minha terceira oferta.
O telefone tocou. Era meu amigo Gilberto de Nadai.
Disse a ele que ficasse onde estava, pois subiria para falar com Gilberto. Fui e fiquei do lado de Gilberto lamentando o péssimo jogo do América.
Fim do primeiro tempo, ele olhou para trás, para mim, fiz sinal, ele subiu. Veio ter com a gente.
Gilberto de Nadai o cumprimentou, ele abriu um meio sorriso, apertou a mão de Giba, e só.
O segundo tempo recomeçou.
O América diferente. Bem melhor, atacando, levando perigo.
Como Meu Galego estava sentando agora atrás de mim, uma fila acima, não prestei atenção mais às reações dele.
Assis, meia do time rubro, ajeita, passa, se livra do marcador e chuta. Goooooooooooooooooooooooooooooooool! Um berro de vibração.
Mas peraí, quem gritou? Não fui eu. Gilberto, comedido como sempre, também não.
Pois é, foi ele sim, o Meu Galego.
Olhei para trás sem acreditar.
O grito, a comemoração foi dele mesmo, pois Meu Galego estava com um sorrisão do tamanho do mundo no rosto.
Notei que ele participava mais, se mexia. Se contorcia e torcia sim, sintomas claros de quem estava torcendo intensamente.
Rafael Paraná, volante do América, ajeita, bate um petardo, e, para minha surpresa, antes mesmo de eu notar que a rede balançava, Meu Galego já havia gritado com mais intensidade e vibração ainda.
– Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool!
E de novo aquele sorrisão feliz. E e olha, pode crer no que reafirmo: Meu Galego não é muito de sorrisos.
E depois ainda viria o terceiro. E claro, ele vibrando muito ainda, e querendo mais.
No terceiro gol vi o professor Francisco de Assis vibrar, cair de joelhos voltado para a torcida do América.
Sorrimos, eu e Gilberto, de novo com a vibração do professor.
Aí entendi: matei a charada: o Meu Galego não virou a casaca, não deixou de torcer pelo seu ABC, deixou não.
Assim como eu, como Gilberto e mais um monte de gente, Meu Galego estava torcendo, não pelo América, mas por aquele sujeito simples, tantas vezes humilhado, massacrado, zombado e tripudiado que comandava o time rubro na beira do Gramado.
Meu Galego estava torcendo, não pelo América, mas sim pela vitória do velho amigo de seu pai.
Ele vibrou, ficou feliz por Diá.
Foi um sentimento especial.
Futebol é uma coisa muito especial.
Danada de uma emoção boa que mantém a gente vivo, remoçado, empolgado e acreditando no mundo.
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