Inflação do casamento: fazer festa agora pode custar até o dobro de antes da pandemia
Depois de terem de desmarcar e remarcar várias vezes o casamento devido à pandemia, finalmente os casais do Brasil estão podendo realizar suas festas. Tanto que há a expectativa de uma explosão de casamentos em 2022.
“Normalmente, no Brasil, são feitos 1,1 milhão de casamentos anualmente e a previsão para este ano é de que cheguemos a 1,6 milhão”, diz Ricardo Dias, presidente da Associação Brasileira de Eventos, a Abrafesta.
O problema é que, com essa escalada na demanda – e a alta da inflação – os noivos estão gastando até o dobro do que planejavam. É a inflação do casamento.
O casal Nayara Sheng Dall’Agnol e Vinícius Santana Petrone Bezerra, de São Paulo, está vendo essa inflação acontecer bem diante de seus olhos. O casamento, que começou a ser planejado em março de 2020, tinha inicialmente um orçamento de R$ 20 mil, para acontecer em setembro deste ano.
“No máximo R$ 25 mil, se acontecesse algo inesperado”, conta Nayara. Mesmo sem mudar a lista de convidados, a conta já está beirando os R$ 40 mil.
“A festa é a mesma. Não mudamos nada, mas o preço de decoração subiu muito, de bufê, de fotógrafo, de tudo”, diz o noivo. Eles contam que estava tudo dentro dos conformes até junho do ano passado.
“Foi começar a retomada, a reabertura pós-vacinação, que os preços começaram a disparar”, dizem.
Os dois itens mais caros para quem planeja uma festa de matrimônio são a decoração, especialmente as flores, e a parte de alimentação e bebidas. “Geralmente, gasta-se 25% do orçamento com alimentos e bebidas e de 35% a 40% com flores, móveis, convites, identidade visual, cobertura ou tenda”, diz Lilian Rocha, planejadora de casamentos e dona da Adéquat Eventos.
“A gente vê a frustração nos olhos dos noivos quando diz que o preço de alguma coisa vai ter que ser reajustado”, diz ela. E isso tem acontecido toda hora, do fim do ano passado para cá, com a demanda represada da pandemia acontecendo toda agora.
Para a Abrafesta, na média, casar está hoje 30% mais caro que antes da pandemia. É por isso, segundo Dias, que alguns bufês estão fechando as portas, como o Colonial, tradicional do mercado paulistano, que deixou mais de 100 casais sem festa.
“O empresário não teve ajuda na pandemia. Ele quitou dívidas com o dinheiro que o cliente pagou adiantado por celebrações que foram adiadas. Mas agora, na hora de realizar esses eventos, está tudo mais caro e ele não tem de onde tirar o recurso”, explica o presidente da associação.
Mas mesmo com tudo mais caro, ninguém está deixando de festejar. “A vontade de celebrar é maior ainda agora”, afirma Dias. Nesse cenário, as festas estão sendo modificadas para caber no orçamento.
A tática mais comum é cortar a lista de convidados. Lilian diz que muitos casamentos de 100 convidados encolheram para 40. Mas a qualidade da recepção continuou a mesma.
Ou até melhorou, declara Mateus Godoy, sócio-proprietário do restaurante Casa Santo Antonio, em São Paulo que também faz festas de casamento.
“Com menos gente, muitos noivos estão servindo champanhe mesmo em vez de espumante. Ou seja, o tíquete médio, o gasto por convidado, está maior”, afirma ele.
Para quem precisa mesmo cortar gastos, uma boa opção é fazer um “brunch” de casamento. Em vez de um jantar ou almoço, o “brunch”, que é aquele café da manhã reforçado, está ganhando popularidade pois fica aproximadamente 20% mais em conta.
“Tem também a opção do bufê de crepes ou de massas. Se colocar salada, aumenta o preço”, diz a cerimonialista Lilian. Outra opção, segundo ela, é optar por locais que fornecem um pacote fechado: local, alimentação e bebidas e decoração.
Corte e costura
Até o vestido de noiva está caro. “Tive que fazer um reajuste de 10% a 15%, mas mesmo assim encolhi minhas margens”, diz a estilista Emannuelle Junqueira, de São Paulo. O problema nesse caso dos vestidos é que a maioria dos tecidos é importada e segue a variação do dólar, que recentemente voltou à casa dos R$ 5.
“Existe também ainda uma grande escassez de tecidos e até de alfinetes. O Brasil importa, não fabrica aqui”, diz ela. A solução, no caso de Emannuelle, foi fazer uma parceria com uma fabricante nacional para desenvolver novos tecidos.
Mesmo assim, está difícil atender a todas as noivas, devido à quantidade de casamentos. A estilista, que normalmente faz 120 noivas por ano, até fevereiro já entregou 220 vestidos.
O mesmo acontece com os noivos. “O tecido para os ternos está de 30% a 40% mais caro agora que antes da pandemia”, diz Cristofer Mickenhagen, da loja de aluguel de trajes masculinos, Black Tie, de São Paulo.
Para os clientes de antes da pandemia, ele segurou os preços. Mas os novos estão pagando 20% a mais. “Não tem como não repassar. Até a mão de obra está mais cara e mais escassa”, afirma.
A cereja do bolo nessa conta, porém, são as flores. Algumas espécies de flores de corte, que são as usadas em eventos, chegaram a subir 400%, segundo os floristas.
“Lembra que os produtores destruíram flores na pandemia? Muitos deles foram plantar outras coisas. Agora está faltando flor e a demanda está lá em cima. O preço, por consequência, dispara”, conta Raquel Franzini, dona do perfil Conexão Florista, que conecta consumidores, floristas e produtores.
“Eu pagava, até o ano passado, R$ 5 o maço da Aster, aquela florzinha que o povo chama de mosquitinho. Agora está R$ 25”, conta Edilayne Ferraz, florista e decoradora de eventos de Campinas (SP). “De fevereiro para cá o aumento no preço das flores tem sido escandaloso”, diz ela.
Para contornar essa disparada nos valores, ela não acerta mais com o noivo a espécie de flor que vai usar. Só combina a cor. Aí ela pesquisa os tipos que estão com preços melhores na época da festa e faz a decoração na tonalidade acordada. “Se não, é até injusto com os noivos fazer o repasse do preço que os produtores estão pedindo”, afirma.
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