Jovelina e as peladas na Prainha de Pirangi do Norte

05 de Outubro 2023 - 02h15

Jovelina, que não era a Pérola Negra, jogava muita bola. Ela trabalhava na casa de minha irmã.  Uma baixinha entroncada, super animada e ao mesmo tempo enfezada, que era apaixonada por futebol. Abcdista de coração, fã incondicional de João Avelino, treinador que passou pelo ABC em meados dos anos 1970. Jovelina ficou um bom tempo com a gente, mas se mudou para São Paulo.

A última notícia que tívemos dela é que se fez torcedora do Palmeiras. Me espantei ao saber, imaginei que ela seria corinthiana. Hoje, vendo as chamadas para as seletivas das meninas do ABC fico imaginando se fosse no tempo de Jojoba, certamente, ela estaria na primeira fila sonhando em se tornar a capitã do ABC e nunca que partiria para buscar a sorte em Sampa.

Nossa maitre era titular absoluta e incentivadora, programadora das peladas de todas as tardes em Pirangi do Norte, praia, ainda nos áureos tempos de morros, dunas, pequenos matagais e quase movimento nenhum. E depois de terminadas as tarefas, na qual pedia nossa ajuda, estava marcada a disputa na nossa prainha, o sol já quase se escondendo por trás da casa de Camilo e Ana Maria Cascudo, um das poucas edificações naquela esquina de mar, a gente jogava até quase escurecer.

Jovenlina é a prova de que o amor das mulheres pela prática do futebol sempre existiu, mas infelizmente o machismo adoecido tirou esse prazer com proibições e discriminação, aliás,  que o diga minha querida amiga Lenira, precursora da prática em Natal.

Ao escrever o texto sobre a nossa Jovelina lembrei dor meu encontro com Lenira no dia da decisão do Sub-20 (nem tivemos tempo de conversar). Fico sem entender porque nenhuma equipe de futebol feminino contrata a veterana craque para ajudar na formação de seus times.

PS: nessa mesma praia, minha sobrinha Karina e minha irmã Edian faziam parte desse grupo de peladeir(oa)s. Mais tarde, bem mais tarde, uma sobrinha mais nova, Talita, hoje personal trainer de grande prestígio em Brasília, mostrou talento e  chegou a receber convites para jogar em clubes expressivos do Brasil. Tatá jogava demais, assim como a prima e a tia precursoras.

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