Jovens potiguares superam demissão na pandemia e viram referência no mercado de açaí
Por Júnior Lins
A pandemia pode parecer coisa do passado, mas ainda tem relação direta com o andamento atual de muitas empresas no mercado. No pico da contaminação do Coronavírus, muitos comércios optaram pelo fechamento presencial, como forma de seguir recomendações governamentais para a contenção do aumento dos casos. A mudança exigiu adequação no modelo de trabalho e, em muitos casos, enxugamento nos gastos com pessoal retirando, principalmente, aqueles que atuavam informalidade. E, nesse contexto, alguns empreendedores aproveitaram a condição imposta pelo momento para se arriscarem no próprio negócio, aliando experiências passadas, com novos conhecimentos e qualificação.
Os empreendedores, Victor Santos e Vinicius Santos, de 24 anos, são exemplos disso. Antes das orientações de fechamento, ambos trabalhavam na condição, popularmente conhecida como "freelancer", em uma açaiteria. Os irmãos gêmeos recebiam cerca de R$ 30 pela diária. Com o valor gasto em transporte, ficavam com apenas R$ 20. Contudo, a situação ficou ainda pior quando o local passou a funcionar, exclusivamente, em formato delivery, o que causou o desemprego e forçou o início precoce de um plano antigo de abrir o próprio negócio.
Como outras histórias parecidas, o início, ocorrido em abril de 2020, foi difícil. As vendas começaram no condomínio onde moravam. Apesar das dificuldades, os irmãos conseguiram montar um esquema de trabalho objetivo, com divisão de funções: um produzia e o outro atendia os clientes à domicílio. O nome do empreendimento foi, talvez, a parte mais fácil de encontrar: “Açaí dos Gêmeos”.
Empreendedores Victor e Vinícius - Foto: Cedida
Não demorou e logo começou a fama do produto no residencial e as compras para estoque, consequentemente, precisaram ser ampliadas. Porém, para que pudessem adquirir açaí em maior proporção, as distribuidoras exigiam, pelo menos, um registro como Microempreendedor Individual (MEI). Em busca ao Sebrae, os gêmeos obtiveram o apoio para abrirem seu primeiro registro como MEI e formalizaram seu negócio.
“O começo foi complicado. Não tínhamos ideia de como fazer as coisas para poder formalizar o trabalho. Só após ir ao Sebrae consegui virar um cliente ‘fidelizado’ das distribuidoras de açaí e fazer crescer meu negócio. Depois disso, tudo foi consequência”, afirmou Victor Santos.
De acordo com o gerente da Agência Sebrae na Grande Natal, Thales Medeiros, o número de formalizações expõe a necessidade da população brasileira de encontrar alguma saída para crescimento aterrorizante do desemprego durante a pandemia.
Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego durante a pandemia foi maior do que o estimado. Apesar de os índices agora serem animadores, com o desemprego que caiu a 9,4% em abril, o menor nível desde outubro de 2015, na época agravada da disseminação do coronavírus as taxas chegaram a alcançar 14,9%.
“Em 2020, percebemos um grande incremento no saldo de abertura de empresas, majoritariamente como uma resposta de sobrevivência frente ao aumento do desemprego. O alto índice de formalizações como MEI, até pela sua facilidade de abertura, indica isso”, comentou Thales.
Repentinamente, Victor e Vinícius viraram reflexo do último levantamento do publicado pelo Sebrae, que aponta que as micro e pequenas empresas (MPE) puxaram a criação de empregos formais em 2023. Conforme o estudo, mais de 1,1 milhão de postos de trabalho no país em 2023 foram abertos por MPEs. Isso representa 80% das vagas com carteira assinada que foram criadas ao longo do ano passado.
EMPRESAS INOVADORAS
Com a flexibilização das atividades econômicas e o processo de retomada à normalidade, os gêmeos Victor e Vinicius perceberam que poderiam expandir seu negócio e migrar do seu apartamento para uma loja física.
“Sentimos que era o momento de um novo passo. Precisávamos expandir e começar a realizar nosso sonho”, comentou Victor.
A loja presencial do Açaí dos Gêmeos inaugurou no dia 6 de maio de 2022. Localizada na avenida Abel Cabral, em Nova Parnamirim, na Grande Natal, o empreendimento agora vive uma nova saga: sobreviver em formato de atendimento físico para seus clientes. Para chamar a atenção, os gêmeos buscaram inovações: especializações em redes sociais, plataformas de entregas e contato com o cliente.
Loja física do Açaí dos Gêmeos - Foto: Larissa Azevêdo
Desde o evento de inauguração, os trabalhos dos gêmeos dobraram. A necessidade de ter mais gente para ajudar ampliou o leque da empresa e fez com que outras pessoas em busca de emprego passassem a procurá-los, o que transformou um comércio informal em um gerador de trabalhos e realizador de outros sonhos.
“Sempre quisemos algo nosso e poder abrir é ver tudo que construímos desde o começo, lá no condomínio, se concretizar. Todo o trabalho árduo e cansativo de madrugadas em claro parece estar sendo recompensado e os frutos colhidos”, disse Victor.
Conforme Thales Medeiros, já é uma caraterística do brasileiro optar por arriscar em momentos de dificuldades para encontrar alternativas aos momentos de dificuldades na empregabilidade.
“Empreender, seja por necessidade ou oportunidade, sempre foi uma dinâmica muito bem vista e acolhida pelo povo brasileiro. Temos em nossa cultura, uma grande abertura e experiência aos riscos. Isso pelo fato de que tudo significa mais postos de trabalho e maior dinâmica de recursos locais, de forma positiva”, contou o gerente.
Gerente do Sebrae Grande Natal, Thales Medeiros - Foto: Agência Sebrae
A loja dos gêmeos ganhou, rapidamente, notoriedade e, após especializações, Victor e Vinicius conseguiram ganhar um posto de referência em aplicativos de delivery. Atualmente, mais de 100 entregas são feitas diariamente e a média de avaliação do estabelecimento é de 4,8 estrelas, em uma nota total de 5 no Ifood. O local possui também nível 4 na plataforma, o que consta sofrer poucas reclamações, cancelamentos e boas avaliações.
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