Formalização ajuda pequenos negócios a gerar empregos e concretizar sonhos

27 de Junho 2022 - 20h00

Por Júnior Lins

O Rio Grande do Norte possui um saldo positivo de 62,2 mil empresas de pequeno porte criadas entre o início de 2020 e o primeiro semestre deste ano.  Após quase 16 anos da criação, aprovação e promulgação do Estatuto Geral da Micro e Pequena Empresa, lei que garante benefícios aos empresários e promove o desenvolvimento econômico, o RN possui cerca de 319 mil pequenos negócios em atividade, conforme dados da Receita Federal, disponibilizados pelo Serviço Brasileiro de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Durante a pandemia, muitos comércios de maiores proporções optaram pelo fechamento presencial, como forma de seguir recomendações governamentais para a contenção do aumento dos casos de Covid-19. A mudança exigiu adequação no modelo de trabalho e, em muitos casos, enxugamento nos gastos com pessoal retirando, principalmente, aqueles que estavam na informalidade. 

Foi nesse contexto que alguns empreendedores aproveitaram a condição imposta pela pandemia - e pelo mercado - para se arriscarem no próprio negócio, aliando experiências passadas, com novos conhecimentos e qualificação. Foi dessa maneira que boa parte das empresas citadas nos números mencionados inicialmente foram abertas.

Os empreendedores, Victor Santos e Vinicius Santos, de 22 anos, são exemplos disso. Na condição popularmente conhecida como "freelancer" em uma açaiteria, os irmãos gêmeos recebiam cerca de R$ 30 pela diária e, com o valor gasto em transporte, acabavam ficando apenas com R$ 20. A situação ficou ainda pior quando o local onde trabalhavam passou a funcionar, exclusivamente, em formato delivery, o que causou o desemprego e forçou o início precoce do plano antigo de abrir o próprio negócio.

Como outras histórias parecidas, o início, ocorrido em abril de 2020, foi difícil, com eles vendendo açaí no próprio condomínio onde moravam. Apesar das dificuldades, os irmãos traçaram um esquema de trabalho objetivo, com divisão de funções: um produzia e o outro atendia os clientes à domicílio. O nome do empreendimento também não foi muito complicado de encontrar: “Açaí dos Gêmeos”.

Empreendedores Victor e Vinícius - Foto: Cedida

Com o trabalho iniciado, logo começou a fama no residencial e as compras para estoque, consequentemente, precisaram ser ampliadas. Porém, para que pudessem adquirir açaí em maior proporção, as distribuidoras exigiam, pelo menos, um registro como Microempreendedor Individual (MEI). Em busca ao Sebrae, os gêmeos obtiveram o apoio para abrirem seu primeiro registro como MEI e formalizaram seu negócio. 

“O começo foi complicado. Não tínhamos ideia de como fazer as coisas para poder formalizar o trabalho. Por sorte, recebi bastante orientações no Sebrae e consegui virar um cliente ‘fidelizado’ das distribuidoras de açaí e fazer crescer meu negócio. Depois disso, tudo foi consequência”, afirmou Victor Santos.

Victor e Vinícius com documento quando fizeram o MEI - Foto: Victor Gadelha

De acordo com o gerente da Agência Sebrae na Grande Natal, Thales Medeiros, o número de formalizações expõe a necessidade da população brasileira de encontrar alguma saída para crescimento aterrorizante do desemprego durante a pandemia.

Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego durante a pandemia foi maior do que o estimado. Apesar de os índices agora serem animadores, com o desemprego que caiu a 9,4% em abril, o menor nível desde outubro de 2015, na época agravada da disseminação do coronavírus as taxas chegaram a alcançar 14,9%.

“Em 2020, percebemos um grande incremento no saldo de abertura de empresas, majoritariamente como uma resposta de sobrevivência frente ao aumento do desemprego. O alto índice de formalizações como MEI, até pela sua facilidade de abertura, indica isso”, comentou Thales.

Repentinamente, Victor e Vinícius viraram reflexo do último levantamento do publicado pelo Sebrae, que aponta que as micro e pequenas empresas (MPE) puxaram a criação de empregos formais em 2022. Conforme o estudo, dos 700,5 mil postos de trabalhos formais criados no Brasil de janeiro a abril, 585,5 mil, ou seja, o equivalente a 76% do total, originaram-se de pequenos negócios.

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Foto: Portal 96

EMPRESAS JOVENS 

A empresa dos gêmeos é considerada uma sobrevivente em meio ao aumento do fechamento de empresas em 2021. No ano, apenas no Rio Grande do Norte, o crescimento no índice da finalização dos serviços em pequenos negócios foi de 115%. Enquanto em 2020, a criação total foi de 49,1 mil e o encerramento de atividades foi de 12,8 mil, em 2021, a abertura reduziu para 47,4 mil e o fechamento saltou para 27,1 mil.

“Já em 2021, embora tenhamos um número expressivo de aberturas quase igual ao do ano anterior, nós tivemos um maior fechamento. Especialmente as nascentes, aquelas com menos de 2 anos. O prolongamento da pandemia, tornou o ambiente muito duro, principalmente, para pequenos negócios”, explicou Thales.

Com a flexibilização das atividades econômicas e o processo de retomada à normalidade, os gêmeos Victor e Vinicius perceberam que poderiam expandir seu negócio e migrar do seu apartamento para uma loja física. Desta forma, iniciaram a procura por lugares e retornaram ao Sebrae para a documentação necessária para realizar essa mudança.

O recebimento de informações de diversas fontes desencontradas fez com que eles fossem para outros lugares sem necessidade. Após uma visita ao Sebrae, toda a documentação foi resolvida de uma vez só, de forma que agilizou ainda mais a abertura da loja física.

“Me mandaram em vários lugares, mas nunca solucionavam meu problema. Resolvi ir lá no Sebrae e me receberam muito bem. Além disso, agilizaram e me orientaram sobre toda a documentação. Paguei a taxa de R$ 100 dos Bombeiros e adiantei a fiscalização sanitária”, comentou Victor.

A loja presencial do Açaí dos Gêmeos inaugurou no dia 6 de maio. Localizada na avenida Abel Cabral, em Nova Parnamirim, na Grande Natal, o empreendimento agora vive uma nova saga: sobreviver em formato de atendimento físico para seus clientes. Nas oscilações da Covid-19, o público tem alternado, junto com os índices do vírus, os desejos entre o delivery e o comparecimento no estabelecimento.

Loja física do Açaí dos Gêmeos - Foto: Larissa Azevêdo

Desde o evento de inauguração, os trabalhos dos gêmeos dobraram. A necessidade de ter mais gente para ajudar ampliou o leque da empresa e fez com que outras pessoas que precisem de emprego passassem a procurá-los, o que transformou um comércio informal em um gerador de trabalhos e realizador de outros sonhos.

“Realizamos um sonho. Sempre quisemos algo nosso e poder abrir é ver tudo que construímos desde o começo, lá no condomínio, se concretizar. Todo o trabalho árduo e cansativo de madrugadas em claro parece estar sendo recompensado e os frutos colhidos”, disse Victor.

Conforme Thales Medeiros, já é uma caraterística do brasileiro optar por arriscar em momentos de dificuldades para encontrar alternativas aos momentos de dificuldades na empregabilidade.

“Empreender, seja por necessidade ou oportunidade, sempre foi uma dinâmica muito bem vista e acolhida pelo povo brasileiro. Temos em nossa cultura, uma grande abertura e experiência aos riscos. Isso pelo fato de que tudo significa mais postos de trabalho e maior dinâmica de recursos locais, de forma positiva”, contou o gerente.

Gerente do Sebrae Grande Natal, Thales Medeiros - Foto: Agência Sebrae

A loja dos gêmeos é mais uma que pode ser observada como exemplo do crescimento da responsabilidade dos últimos negócios abertos neste ano. Em 2022, até o momento no RN, conforme os dados do Sebrae, a criação de pequenas empresas segue uma tendência mais moderada, com 10,9 mil, mas o encerramento também apresenta um índice baixo, de 4,8 mil. Esses números reforçam a estabilidade econômica que o estado vivencia, seguindo o ritmo de pós-pandemia da Covid-19.

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