Alberi José Ferreira de Matos. O dez eterno do ABC, agora, de verdade, se eternizou ao lado do Pai. O craque genial faz parte de três etapas da minha vida. O Edmo torcedor, quando acompanhado de uma irmã assistíamos quase todos os jogos do ABC no inesquecível Campeonato Brasileiro de 1972. Os vários shows de nosso Bola de Prata, marcadamente contra os times mais poderosos - Botafogo, Flamengo, Palmeiras e Santos. Naquele ano, mesmo com a distância abissal de folha salarial, peraltices de arbitragens, viegens, disficuldades, o alvinegro potiguar venceu, vejam só. o vice-campeão, Botafogo, 2 a 1, e empatou com o campeão, Palmeiras, 2 a 2.
A segunda etapa deste convívio se deu no meu período de jogador de futebol. E aí vem a dureza das vezes que tive que enfrentá-lo, já anos 1980 e ele ainda mostrando sua qualidade inigualável. Nesse mágico tempo, sonho, incrível, inimaginável de jogar ao lado do nosso rei no Alecrim, em 1980. Marcantes curtos momentos. O eu chegar aos treinos sempre brincando, muitas vezes cantando "Sonho Meu", canção de samba composta por Dona Ivone Lara em parceria com Délcio Carvalho em 1978 e que fazia muito sucesso na voz de Alcione.
Lembro como se fosse agora, aqui diante de meus olhos, sua elegância ao bater na bola, "o segredo é caminhar na ponta dos pés e bate no meio da bola, mais embaixo, mais em cima, depende onde você quer colocar, embaixo ou no alto". Recordo dos seus passes de primeira, dos toques mágicos, o malabarismo vertical, lançamentos precisos, chutes impressionantes. Momentos vividos nos campos ainda não tão gramados da Sede Campestre do Alecrim.
O terceiro convívio. Eu jornalista iniciante no Diário de Natal, temendo, pois ele sempre reclamava, com razão, da pouca atenção que recebia da imprensa e de dirigentes, não quisesse me receber para uma matéria especial no Diário de Natal. Lêdo engano. "Pra você 'lindos-lindos' não precisa nem avisar, pode vir quando quiser", foi dizendo ao me receber em sua casa em Morro Branco. E foi assim, sempre com sorrisos, brincadeiras, relembrando "Chopinho", nosso treinador Walfredo Medeiros, da época, contando, relembrando causos e sorrindo. Justiça seja feita a dona Marluce, companheira de estrada longa, que também sempre me tratava com carinho, pessoa que tenho maior respeito e admiração pela sua luta.
Tempos depois, vejam só, ainda receberia o bônus de voltar a jogar no mesmo time de Alberi. Os bons tempos do ABC de Master, atendendo convite dos queridos amigos Álvaro e Rômulo. Então, na verdade, uma história de quatro tempos que nunca vai se encerrar, eternizada na minha memória e nessas linhas toscas para os meus poucos leitores.
Nesta sexta-feira (28) triste, mesmo dia em que Mané Garrincha, se vivo, completatia 89 anos, o Negão 10 mudou de plano. E foi velado e enterrado neste sábado, 29, véspera de eleição decisiva para o povo brasileiro, além de ser o dia da conquista do tricampeonato do Flamengo na Libertadores. Ao acompanhar a partida, ossos do ofício, imaginando Alberi jogando ao lado de Arrascaeta, Everton Ribeiro, recebendo a bola de João Gomes, deixando Pedro ou Gabriel na cara do gol ou mandando aqueles petardos de fora da área,c om qualquer uma das pernas, que fizeram Mário Jorge Lobo Zagallo, técnico do Flamengo, quase infartar tentando encontrar uma maneira de pará-lo, na partida história de 0 a 0 para a sorte do Mengo naquele ano da graça de 1972. no Estádio Castelão de saudosa memória.
Neste sábado, durante seu velório, várias gerações de craques, seus ex-colegas, ex-adversários, jornalistas, dirigentes e uma grande massa de torcedores, àqueles que ele fez felizes, prestaram sua última homenagem, abaraçaram familiares, reviveram histórias, jogos, gols e brincadeiras. Alberi subiu em festa, missa cantada, aplaudida, chorada, doída, mas de muita fé, do pequeno conforto do fim de seu sofrimento. Destaco, claro, a presença da governadora Fátima Bezerra, fã de sempre, que depositou a bandeira do RN na urna e prestou sua homenagem de agradecimento. Por fim, sob aplaudos e muita dor da família, o momento da saída no carro de bombeiros para o sepultamento com toda a honra que merece o maior artista da bola que o futebol do RN já viu em ação.
Obrigado, de coração, Alberi, 10 eterno da Frasqueira.
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