Racismo obstétrico: mulheres negras são mais negligenciadas no parto

29 de Abril 2023 - 09h19


O conceito pode ser novo, mas a prática é antiga. O racismo obstétrico é caracterizado pelas diferenças de tratamento que as mulheres negras passam durante os atendimentos do pré-natal, no parto, durante o puerpério ou assistência ao aborto. No momento de maior vulnerabilidade, elas acabam sofrendo com falas ou ações opressivas, discriminatórias ou violentas em referência à sua etnia. Como consequência, mãe e bebê acabam expostos a desfechos negativos.

No início de 2022, o caso de uma jovem de Aparecida de Goiânia, em Goiás, ganhou repercussão nacional. Ayah Akili, 25 anos, denunciou nas redes sociais ter sofrido violência e racismo obstétrico em uma maternidade da cidade, após perder a filha com 33 semanas de gestação.

Na época, Ayah contou que as diferenças no tratamento começaram durante o pré-natal. Alguns exames básicos de gravidez, como de curva glicêmica e pré-eclâmpsia, nunca foram solicitados. Um exame de ultrassom realizado no oitavo mês de gestação confirmou que a bebê não tinha mais batimentos cardíacos.
 

Um estudo feito por pesquisadoras do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) mostra que mais gestantes negras morreram após serem infectadas pelo coronavírus durante a pandemia da Covid-19, em comparação com as brancas.

Racismo obstétrico

No século 19, o médico norte-americano James Marion Sims, considerado o “pai da ginecologia moderna”, realizava cirurgias experimentais em mulheres negras escravizadas sem anestesia. O médico acreditava que elas suportavam mais dor por terem “ancas largas, boas de parir”, dizem os historiadores. Mais de 200 anos depois, os relatos continuam.

“A manifestação do racismo carrega um legado histórico de violências, torturas e experimentos nos corpos das mulheres negras – como a realização de procedimentos sem anestesia, atenção ou cuidado, porque eram e são consideradas mais resistentes, na leitura colonizada de humanidade”, afirma a pesquisadora Emanuelle Góes, do Cidacs/Fiocruz Bahia.

Metrópoles 

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