RN tem caso grave de manipulação de resultado que põe em xeque Campeonato Potiguar de 2021

11 de Maio 2023 - 18h51

Por Júnior Lins

O imprevisível sempre foi o mais encantador no futebol. Não à toa, o esporte recebeu aquela história de que é uma caixinha de surpresas. No entanto, a interferência do dinheiro pode colocar em xeque a beleza da autenticidade dentro das quatro linhas. Jogadores, grupos criminosos e apostas são os pilares de um esquema que tem roubado a atenção dos admiradores do esporte.

Em sua segunda fase, a Operação "Penalidade Máxima", do Ministério Público de Goiás, apontou que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas para gerarem o lucro de apostadores em sites do ramo. De acordo com a investigação, jogadores cooptados assumiam a missão de, por exemplo, cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida - normalmente uma derrota de sua equipe.

Contudo, a relação do Rio Grande do Norte com essa polêmica que tomou o cenário nacional vai muito além da citação do jogador recém-contratado pelo ABC, Thonny Anderson. Conforme foi apurado pela redação da 96, existem informações que lançam uma nuvem de desconfiança sobre o Campeonato Potiguar de 2021, que teve o Globo FC como campeão. A suspeita está relacionada à "estranha" parceria do time de Ceará-Mirim com uma empresa do Acre que teria tido influência direta na contratação de jogadores e, também, na suspeita de manipulação de resultados.

A empresa chegou como investidora do Globo para a temporada. A proposta era investir no clube e lucrar com as bonificações de competições nacionais e regionais que estariam no calendário do time potiguar. No entanto, além de aplicar dinheiro no time, uma das sócias da empresa teria tentado aliciar jogadores e até o treinador de outra equipe que disputava o Estadual naquele ano.

Há suspeitas, também, de que esse esquema tenha influenciado em decisões, não só na contratação de jogadores, mas também na rescisão de alguns contratos, inclusive, do treinador da época, Renatinho Potiguar - que teve uma saída considerada "inexplicável" na época. Renatinho pediu demissão em meio a uma série de resultados positivos com o grupo. 

Um ponto alto dessa situação foi o vídeo vazado de um momento de possível interferência do presidente de honra, Marconi Barreto, no vestiário, em um episódio que gerou desconfiança de jornalistas e, inclusive, de órgãos de investigação, como Polícia Civil e Ministério Público do RN. 

A reportagem descobriu que pessoas foram ouvidas nessas investigações e até solicitações de quebra de sigilos foram feitas, sendo algumas negadas, e envolviam figuras "importantes" no futebol potiguar.

Mesmo assim, pelo que foi apurado, a investigação seguiu e chegou a virar denúncia formal na Justiça Estadual. O caso, no entanto, acabou tendo sua tramitação suspensa, porque a suspeita "sumiu do mapa", conforme foi apurado pela 96. 

SUSPEITAS VÃO MUITO ALÉM DO GLOBO

A relação "estranha" entre clube e empresa do Acre, apesar de ter sido um caso levado adiante e se transformado em denúncia formal, não foi o único motivo de suspeita que atingiu o futebol potiguar naquele ano. Um polêmico jogo entre Força e Luz e Assu, teve 19 escanteios apenas no primeiro tempo e chegou a fazer uma casa de apostas retirar a opção da lista de possíveis apostas dos interessados, pela situação "estranha" para aquela partida. (veja os lances bizonhos no vídeo abaixo)

Teve mais: naquele mesmo ano, o Potiguar de Mossoró viu, pelo menos, seis atletas, o presidente Benjamim Machado e um diretor de futebol deixarem o clube, após derrotas seguidas. E quem levantou uma suspeita foi o lateral Mattheus Gaúcho, que atuava pelo clube e participou dessa debandada. 

  • Meu pai e minha mãe me deram princípios. Vagabundos sem caráter se vendem! EU NÃO! Eu respeito a tradição desse clube e eu era o maior interessado em ajudar a lutar por esse clube, mas ao invés disso desprezaram quem queria ajudar”, disse Mattheus Gaúcho pelas redes sociais, na época.

Esses dois casos levantados pela reportagem da 96 e outros mais, citados na época por torcedores, jogadores e jornalistas, no entanto, não foram adiante em investigações formais de instituições ligadas ao controle do futebol. E o motivo, conforme foi dito à 96, está longe de ser a ausência de indícios. Na verdade, o fator determinante, foi a simples falta de uma denúncia formal, fundamental para a abertura de inquéritos para esses conteúdos. Quem sabe depois de tudo isso que está sendo noticiado atualmente, os envolvidos não decidam formalizar essas denúncias? 

PENALIDADE MÁXIMA TRANSFORMA DENUNCIAS LOCAIS EM ESQUEMA NACIONAL

No tocante à operação Penalidade Máxima, as primeiras denúncias ouvidas surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro. Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.

O zagueiro do Santos, Eduardo Bauermann, que recebe cerca de R$ 200 mil, entrou em acordo com os apostadores para receber R$ 50 mil se fosse expulso no jogo contra o Botafogo, em que o Alvinegro praiano perdeu por 3 a 0. O atleta acabou não conseguindo o cartão vermelho e ficou refém da organização.

Diante da polêmica, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou um núcleo para acompanhar volumes de apostas. Esse grupo é responsável por monitorar se há algum movimento suspeito em um jogo de pouco valor ou em algum time com chances improváveis.

Vale lembrar que o assunto foi destacado no Jornal das 6, desta quinta-feira (11). Assista: 

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