Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) tem chamado atenção ao estimar o impacto de 33 alimentos populares no Brasil sobre a saúde e o meio ambiente. Publicado na revista Preventive Nutrition and Food Science, o levantamento revela que algumas escolhas alimentares podem “roubar” até 40 minutos de vida saudável por porção. A informação é da Coluna Claudia Meireles, de Metrópoles.
A pesquisa usou o modelo do Índice de Saúde Nutricional (HENI), ferramenta que estima quantos minutos de vida saudável podem ser ganhos ou perdidos a cada porção consumida de determinado alimento. Para chegar aos resultados, os cientistas cruzaram informações sobre a composição nutricional dos alimentos com o risco de desenvolver doenças crônicas — como diabetes, infarto e câncer.
Entre os piores colocados estão a carne suína, associada à perda de 36,09 minutos de vida saudável; a margarina, com ou sem sal, 24,76 minutos; a carne bovina, 21,86 minutos; e biscoitos salgados, 19,48 minutos por porção.
Em resumo, os estudiosos chegaram a conclusão que quanto mais ultraprocessado e pobre em nutrientes for o alimento, maior o impacto negativo sobre os anos vividos com qualidade.
Por outro lado, alimentos frescos e ricos em nutrientes essenciais, como frutas, legumes e grãos integrais, foram associados ao aumento da expectativa de vida saudável.
Para entender melhor os dados divulgados pela pesquisa e os impactos diretos das escolhas alimentares sobre a expectativa de vida, o cardiologista Rafael Marchetti explica o que significa conceito de “perda de vida saudável”.
“O termo quantifica o impacto a longo prazo de suas escolhas alimentares na duração da sua vida com qualidade e autonomia, livre de doenças que limitam. Não é um ganho ou perda imediato, mas uma estimativa do efeito acumulado de padrões alimentares regulares ao longo de décadas”, explica Marchetti.
Rafael Marchetti destaca que muitos dos alimentos analisados pertencem ao grupo dos ultraprocessados — ricos em açúcares, gorduras, sódio e aditivos. “Essa combinação, quando consumida regularmente, promove inflamação e disfunção metabólica, contribuindo para doenças cardiovasculares como aterosclerose e hipertensão”, alerta.
Embora o cardiologista enxergue o estudo como um instrumento valioso de conscientização sobre o impacto das escolhas alimentares na prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), ele ressalta a importância de não generalizar os resultados.
“Para evitar conclusões equivocadas, é importante ressaltar que o estudo apresenta médias populacionais. A resposta varia, inclusive, por genética. Ele foca em alimentos, no entanto, o padrão alimentar global é mais relevante. São guias para conscientização e não devem gerar alarmismo ou culpa, e sim incentivar mudanças graduais e informadas”, pontua Marchetti.
Os alimentos que somam tempo de vida
Se alguns alimentos retiram minutos do relógio biológico, outros fazem o caminho oposto. O estudo mostrou que o consumo de banana, peixe de água doce e feijão, por exemplo, está associado ao ganho de minutos de vida saudável. “Ao trazer à consciência o valor dos ‘minutos ganhos’, torna-se mais fácil optar por alimentos saudáveis, otimizando o bem-estar geral e adicionando anos de vida plena com foco na prevenção de múltiplas doenças”, afirma o cardiologista.
Segundo Marchetti, muitos desses alimentos são pilares da dieta mediterrânea, amplamente recomendada por instituições internacionais como a American Heart Association. “A banana é rica em potássio e fibras; o peixe, em ômega 3; e o feijão, em proteínas vegetais e fibras solúveis. Quando inseridos em um padrão alimentar saudável, eles melhoram a pressão arterial, o colesterol e a glicemia, promovendo uma saúde cardiometabólica robusta. É importante lembrar que o benefício vem do conjunto da alimentação, não de alimentos isolados”, reforça.
Apesar do papel central da alimentação, o médico lembra que a longevidade depende de múltiplos fatores: atividade física regular, sono de qualidade, controle do estresse e abandono do tabagismo — fatores que fazem toda a diferença na balança da saúde.