Em um cenário global de escalada dos conflitos e ampliação do gasto militar, o Exército Brasileiro está preocupado com a possibilidade de cortes nos investimentos em defesa. A notícia é da CNN.
O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2025 ainda não foi votado e prevê R$ 133 bilhões para as Forças Armadas, mas quase 90% disso é para despesas obrigatórias (custeio e pessoal), sendo apenas uma pequena parcela destinada a reequipamento e modernização.
Para o Exército, segundo oficiais do Alto Comando ouvidos pela CNN em caráter reservado, a volta de Donald Trump à Casa Branca precipitou uma mudança em que o mundo saiu do estágio de “paz relativa” para “competição” bélica.
Isso significa aumento das tensões, inclusive regionais, com os países gastando mais em armamentos e se preparando para o cenário de guerra.
Em 2024, de acordo com o britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), os gastos militares cresceram 7,4% e chegaram a um recorde de quase US$ 2,4 trilhões.
Enquanto isso, projetos estratégicos de defesa têm sofrido cronicamente com cortes e dilatação dos cronogramas de entrega para se adaptar ao orçamento disponível no Brasil.
O temor, agora, é de que as Forças Armadas sejam alvos preferenciais do governo — como tem ocorrido historicamente — no congelamento de despesas que deve sair ainda no primeiro semestre.
A equipe econômica, conforme já relatou a CNN, trabalha com uma perspectiva de contingenciamento e bloqueio orçamentário para cumprir a meta de déficit fiscal zero no ano.
Ainda não se fala oficialmente em valores, mas o mercado prevê uma contenção elevada, como R$ 35 bilhões — número citado em relatório do Itaú Unibanco.
Em conversas recentes, o comandante do Exército, Tomás Paiva, tem dito que as guerras em curso demonstram a necessidade de investir em drones.
Ele também mencionou, a interlocutores, que o Brasil precisa acelerar o projeto de um segundo satélite geoestacionário para deixar as comunicações estratégicas e militares sem vulnerabilidade.
A capacidade do primeiro satélite, que foi lançado e entrou em órbita em 2017, está perto do esgotamento. Em localidades remotas, por exemplo, o serviço de internet torna-se dependente dos serviços prestados por empresas como a Starlink.
Tudo isso sem falar em investimentos mais regulares em equipamentos como veículos blindados e sistemas de defesa antiaérea — todos muito afetados ao longo do tempo por cortes orçamentários.
Para o Exército, as guerras atuais se dão em seis frentes diferentes: terrestre, aérea, naval, espacial, cibernética e eletromagnética — dimensões que antes não estavam presentes (ou não com tanta força).
Os generais ouvidos pela CNN lembram que o crescimento dos gastos em defesa e as ameaças bélicas não têm ocorrido apenas em regiões distantes do Brasil. Eles mencionam, como exemplo, os movimentos recentes da Venezuela nas águas territoriais da Guiana e até a ameaça explícita de invasão do país pelo ditador Nicolás Maduro.
Todos esses argumentos têm sido levados pelo Exército ao ministro da Defesa, José Múcio, e à equipe econômica em uma tentativa de sensibilização
O mantra ecoado pelos generais é de que as Forças Armadas entendem a situação econômica, estão comprometidas com a responsabilidade fiscal e têm dado suas contribuições ao longo do tempo — principalmente com os cortes orçamentários em projetos estratégicos. Mas que, agora, um novo cenário global foi estabelecido e requer máxima atenção.
Oportunidade
Além da questão do reequipamento da própria força, o Exército vê uma oportunidade de aumento das exportações e consolidação da base industrial de defesa nesse cenário.
O general Tomás Paiva se reunirá na primeira semana de abril, por exemplo, com o comandante do Exército da Polônia. O encontro ocorrerá à margem da LAAD, maior feira de defesa da América Latina, no Rio de Janeiro.
Em alerta máximo por causa da guerra na Ucrânia e do medo de hostilidades por parte da Rússia, a Polônia — pertencente à Otan — anunciou recentemente a intenção de treinar todos os homens em idade ativa para um eventual conflito. Falou até na possibilidade de buscar armas nucleares para sua proteção.
A União Europeia flexibilizou suas regras fiscais para gastos militares depois do bate-boca entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky no Salão Oval da Casa Branca.
O Exército Brasileiro enxerga boas possibilidades de empresas nacionais elevarem suas exportações, mas destaca a necessidade de financiamento e garantias creditícias.
Em novembro de 2024, ainda faltando dois meses para o encerramento do ano, o Ministério da Defesa celebrou um recorde nas exportações brasileiras de produtos de defesa: US$ 1,65 bilhão.
No entanto, alguns temas preocupam, como a situação da Avibras. Uma das mais tradicionais empresas do setor, ela está em recuperação judicial e todas as negociações para sua venda fracassaram até agora.
Uma nova proposta foi colocada à mesa recentemente. Ela prevê aportes de US$ 500 milhões de um consórcio formado por Brasilinvest, Abu Dhabi Investiment Group, GF Capital e Akaer.