O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (6), que, no momento, não vê espaço para ligar para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o tarifaço imposto aos produtos brasileiros. Ele pontuou, porém, que não terá dúvida de ligar quando sua “intuição” lhe disser que o líder americano está disposto a negociar. A notícia é do Estadão.
“Não tenho o porquê ligar para Trump porque, nas cartas que ele mandou, ele não fala em negociação”, disse Lula em entrevista à Reuters. “Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Quando minha intuição disser que Trump quer negociar, não terei dúvida de ligar”, afirmou. “Mas eu não vou me humilhar”, frisou.
O presidente ressaltou que o Brasil não está encontrando interlocução com o governo americano, mas que a diplomacia brasileira está aberta para o diálogo. “Na hora que eles quiserem conversar, vamos conversar. Acreditamos que países que possuem 201 anos de relação diplomática civilizada não vão jogar isso fora por atitude destemperada”, afirmou.
Nesta quarta-feira, entrou em vigor a tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros, que se soma à tarifa recíproca de 10%, totalizando 50%. A Casa Branca, no entanto, excluiu da sobretaxa 694 itens, como aviões da Embraer, suco de laranja e petróleo.
O presidente ressaltou que não há nada anormal na relação comercial entre os dois países e lembrou que, nos últimos 15 anos, os EUA acumularam superávit de mais de US$ 400 bilhões com o Brasil. Ainda segundo ele, dos 74 principais produtos americanos importados, grande parte entra no País com tarifa zero, e a média de imposto é de apenas 2,7%.
Big techs
Lula voltou a defender o direito de o Brasil de regular empresas de tecnologia - as big techs - conforme suas próprias leis e soberania nacional. “É da nossa obrigação regular o que a gente quiser regular. Se não quiserem regulação, que saiam do Brasil. Não existe outro mecanismo”, declarou.
Ele também reiterou que o Brasil não tem parceiro privilegiado e que seu compromisso é com quem quiser comprar e vender. “Se os EUA quiserem taxar o México, nós vamos oferecer oportunidades de venda e compra”, afirmou.
O presidente informou que está em diálogo constante com sua equipe de ministros e com empresários, promovendo reuniões diárias para definir as próximas medidas. O petista ressaltou que as negociações estão sendo lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que “não tem nada de esquerda”.
Segundo ele, se não houver abertura para uma solução negociada, tomará decisões “que não tenham mais volta”. Ainda assim, garantiu que o País vai esgotar todas as possibilidades de diálogo, inclusive utilizando os canais da Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo reconhecendo que são processos demorados. “Já ganhamos dos Estados Unidos na OMC. É um instrumento que precisamos valorizar”, disse.
Crítica a Bolsonaro
O petista aproveitou para criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), que atuaram nos bastidores para “insuflar os Estados Unidos contra o Brasil”.
Lula chegou a dizer que ambos deveriam ser processados e condenados como “traidores da pátria”, e revelou que o ex-presidente teria arquitetado, em caso de derrota eleitoral, o assassinato dele próprio, do vice-presidente Alckmin e do juiz responsável por julgá-lo, Alexandre de Moraes. “Se tivesse um mínimo de civilidade, ele teria feito como eu fiz: perdi eleições e fui para casa me preparar para a próxima”, afirmou.
Segundo o petista, o tarifaço de Trump foi recebido de forma “totalmente autoritária” pelo governo brasileiro. Ele classificou a medida como mais do que uma “simples intromissão”, afirmando que se tratava do próprio presidente dos EUA agindo como se pudesse ditar regras a um país soberano.