O presidente da Argentina, Javier Milei, adotou tom duro e confrontacional durante a cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu, ao declarar apoio explícito à pressão dos Estados Unidos sobre a Venezuela e classificar o regime de Nicolás Maduro como uma “ditadura atroz e inumana”. Com informações do R7.
A fala ocorreu em meio à escalada da tensão entre Washington e Caracas, agravada por declarações do presidente norte-americano Donald Trump sobre a possibilidade de conflito armado.
“A Argentina saúda a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano. O tempo da tibieza terminou”, afirmou Milei, ao defender uma postura mais agressiva do bloco sul-americano diante do cenário venezuelano.
O discurso marcou um contraste direto com a posição apresentada minutos antes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao alertar para o risco de uma guerra na região e classificar qualquer escalada militar como uma catástrofe humanitária.
‘Narcoterrorista’
Ao se referir a Maduro, Milei utilizou a expressão “narcoterrorista” e afirmou ver na Venezuela uma ameaça capaz de lançar uma “sombra sombria” sobre toda a América do Sul. Para o argentino, a permanência do regime bolivariano representa risco político, institucional e humanitário ao continente.
O presidente também pressionou os demais integrantes do Mercosul a adotar condenação explícita às violações de direitos humanos em Caracas.
A iniciativa, porém, não avançou. O Brasil rejeitou, na sexta-feira, uma resolução proposta por Argentina e Paraguai contra o governo venezuelano, ampliando o isolamento diplomático defendido por Milei dentro do bloco.
Além das críticas ao regime chavista, Milei exigiu a libertação do policial argentino Nahuel Gallo, detido na Venezuela, e exaltou o reconhecimento internacional concedido à líder opositora María Corina Machado, recentemente laureada com o Prêmio Nobel da Paz.
Críticas ao Mercosul
O presidente argentino também aproveitou a cúpula para atacar a estrutura do próprio Mercosul. Sem rodeios, afirmou ver um bloco distante de seus objetivos originais, marcado por burocracia excessiva, baixo dinamismo comercial e ausência de coordenação macroeconômica efetiva.
“O que existe é uma burocracia excessiva e ineficaz”, disparou.
Segundo Milei, o comércio intrabloco segue abaixo de níveis históricos, enquanto tarifas externas complexas e regulações rígidas travam a competitividade regional. Para ele, integração deve servir ao comércio, não à manutenção de estruturas administrativas ineficientes.
O argentino defendeu uma reforma institucional ampla, com redução de custos, flexibilização normativa e adoção de tarifas externas mais simples e competitivas. “Flexibilidade representa um ativo, não uma ameaça”, disse, ao criticar décadas de protecionismo.
A demora na conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia também entrou na mira do discurso. Milei classificou o ritmo das negociações como inaceitável e afirmou não existir mais espaço, no cenário global atual, para processos arrastados por anos sem resultados concretos.
Antes do encerramento, o presidente reiterou a reivindicação argentina sobre as Ilhas Malvinas e pediu apoio firme do bloco.