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‘Voo’ a 10 metros de altura e impacto de 26 toneladas no solo: por que Ranger ficou destruída após manobra em duna

Carro voa nas dunas do Ceará
TUDO SOBRE assassinado do ex-prefeito.gif

A picape filmada praticamente voando sobre uma duna em Canoa Quebrada, no município de Aracati, estava a mais de 130 km/h quando se descolou do solo e foi projetada no ar. Com isso, o veículo chegou a cerca de 10 metros de altura. Os dados foram obtidos pelo professor de Física, Astronomia e Ciências, vinculado à Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), Luan Angelo. A notícia é do g1.

Na manobra, a picape preta do modelo Ranger Raptor acelerou e subiu a duna em alta velocidade e "voou" sobre um buggy amarelo, que estava parado com o grupo de turistas. Quando desceu e chegou ao chão, o impacto da pancada furou os quatro pneus, avariou o capô e acionou o sistema de airbag.O motorista da picape chegou a ficar desmaiado com o impacto da 'aterrissagem'. Ninguém mais ficou ferido. Veja no vídeo acima.

 

Oito segundos no ar: a trajetória

Luan analisou o vídeo quadro a quadro com o software Tracker, ferramenta que permite transformar pixels em medidas reais. Com base nas dimensões da Ford Ranger Raptor, foi possível estimar altura máxima atingida pela picape, a velocidade no momento em que ela se desprende da duna e a força do impacto ao tocar o solo.

Conforme a análise, ao sair da duna, a picape passou a seguir um movimento oblíquo (quando algo é lançado para cima e para frente ao mesmo tempo), caracterizado por uma trajetória em forma de parábola (como um arco ou uma curva suave) — um conceito comum nas aulas de cinemática nas escolas.

Ou seja, assim que o veículo saiu da duna, ele não foi só para cima nem só para frente — ela fez os dois movimentos ao mesmo tempo. Isso criou uma curva no ar, uma trajetória parabólica.

Um dado que não é possível calcular a partir do vídeo é o alcance da picape, ou seja, a distância entre o início e o fim do "voo". Isso porque a pessoa que filmou a cena se moveu para acompanhar o trajeto, em vez de ter ficado parada.

As imagens também não conseguiram captar o momento em que o veículo “pousa” no chão. Por isso, é possível apenas estimar que o "voo" levou 8 segundos, segundo o professor.

 

Alta velocidade e 'voo' a 10 metros de altura

Durante o salto, a picape chegou a cerca de 10 metros de altura — quase a altura de um prédio de três andares. Segundo o professor Luan Angelo, isso só foi possível por causa da alta velocidade no momento em que o veículo perdeu contato com a duna, que pode ter chegado perto dos 150 km/h.

“Se ele [o veículo] tivesse tido uma velocidade menor, o alcance dele teria sido menor, e ele teria provavelmente colidido ali com o buggy.”, comenta.

O alcance maior também foi possível graças à inclinação da duna, que tinha cerca de 27º. Uma inclinação diferente também teria diminuído o alcance, podendo ter feito com que a picape caísse mais perto do ponto inicial.

O professor Gabriel Dutra, especialista em Física, explica que a velocidade da picape ao chegar ao topo da duna também foi influenciada por fatores como o tipo de pneu, a tração das rodas e o formato do terreno. Segundo ele, em um solo plano, o veículo apenas seguiria em linha reta, mas, por conta da inclinação da duna, a força foi direcionada para cima e para frente, o que ajudou a impulsionar o salto.

 

26 toneladas de impacto no solo

Ao tocar o solo, a picape sofreu um impacto tão forte que danificou os quatro pneus, amassou o capô e acionou o sistema de airbag. Segundo o professor Luan, o veículo atingiu o chão com uma força estimada em mais de 268 mil newtons — o equivalente a 26,5 mil quilos-força, mais de 11 vezes o peso da própria picape.

“Além do sistema de suspensão desse modelo da picape, que amorteceu o impacto, também foi na areia. Isso também ajudou a amortecer o impacto. Em um solo plano e duro, ele [o motorista] poderia ter tido grandes lesões”, comentou Luan.

Segundo Gabriel, é importante lembrar do conceito de força, conforme a segunda lei de Newton. Na equação que se aprende na escola, a força é igual à massa multiplicada pela aceleração.

- Massa: o peso da picape — aproximadamente 2.415 kg.

- Aceleração (ou desaceleração): no salto, o veículo estava a cerca de 150 km/h e, ao tocar o solo, caiu para 0 km/h. Quanto mais rápida for a mudança, maior será a força envolvida.

- Força: é o resultado da multiplicação da massa pela aceleração/desaceleração.

- Equação: F = m × a

 

Ou seja, a picape, que tem massa de duas toneladas, sofreu uma desaceleração brusca ao tocar o solo — passando de alta velocidade para zero em poucos segundos. Essa mudança repentina gerou uma força de impacto alta.

“Quanto maior e em menos tempo for essa variação da velocidade do carro, maior vai ser a força que foi aplicada sobre o carro. [...] Foi durante o contato que ele teve com o chão, então foi o chão que aplicou essa força sobre o carro”, explica Gabriel.

Ainda durante o impacto, outro conceito importante a ser lembrado é o da terceira lei de Newton: toda ação gera uma reação igual em sentido oposto. Assim, a força que o veículo exerceu sobre o chão teve a mesma intensidade da força que o chão exerceu sobre o carro.

- Quando a picape atinge o chão após o salto, ela empurra o solo com muita força.

- Solo reage empurrando a picape de volta, com a mesma força, mas no sentido oposto.

“Então agora pensa em tudo o que está no carro, em tudo que está lá dentro. [...] Essa força é transmitida para toda a estrutura e para todas as pessoas e todos os conteúdos lá de dentro do carro”, detalha o professor.

 

Da realidade para a sala de aula

O exemplo do "voo" sobre a duna de Canoa Quebrada vai entrar para o repertório das aulas do professor Luan Angelo para abordar os conceitos da cinemática.

“Colocando situações do dia a dia, isso ajuda o aluno a se interessar e perceber que a física pode ser utilizada, por exemplo, para determinar situações perigosas e avaliar os riscos, pensarem também antes de fazer algo tão perigoso como foi esse caso”, explicou Luan.

Para o professor Gabriel Dutra, os conceitos da física podem ajudar a entender estas situações aplicadas na rotina. O momento, por exemplo, é um das grandezas que relacionam a massa de um corpo à velocidade de um corpo.

“O momento de um carro grande vai ser maior do que o momento de um carrinho de brinquedo, se eles tiverem a mesma velocidade, porque o carro grande tem a massa maior do que o carro pequeno”, ilustra Gabriel Dutra.

No caso da picape que "voou" sobre a duna, ele explica que o veículo passou por uma variação de momento muito alta. Isso porque ele estava com uma velocidade alta no ar e atingiu uma velocidade nula após cair no chão.

Também nesse caso, a grande massa da picape Ford Ranger Raptor resultou em um maior impacto ao colidir com o solo.

“Essas grandezas são colocadas assim com base matemáticas e filosóficas, mas é basicamente tentando entender por que é mais difícil mover um objeto pesado do que um objeto leve. Também é muito útil para entender o perigo de veículos pesados quando eles estão a altas velocidades”, conclui o professor.

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