Record é acusada de demitir autores de novelas bíblicas que se recusaram a se tornar evangélicos

01 de Junho 2023 - 12h17

A Rede Record está sendo acusada de demitir autores de novelas bíblicas que se recusaram a se tornar evangélicos. Emílio Boechat, Camillo Pelegrini, Joaquim Assis, Cristianne Fridman e Paula Richard foram alguns dos rejeitados por não seguirem a religião do dono da emissora, Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e de Cristiane Cardoso, sua filha e diretora de Dramaturgia.

Autora de Jesus (2018-19) e O Rico e o Lázaro (2017), Paula Richard levou a denúncia à Justiça e pede indenização por preconceito religioso. Procurada desde a última segunda (29), a Record não se pronunciou sobre as acusações. Após a publicação deste texto, emitiu pequena nota dizendo que "não tem religião" (leia abaixo).

O Notícias da TV teve acesso ao processo de Paula em primeira mão. Entre outros solicitações trabalhistas, a autora pede cerca de R$ 5,6 milhões de indenização. Para defender sua tese de que foi demitida por preconceito religioso, ela anexou falas de colegas que passaram pela mesma situação.

Um dos depoimentos usados foi o de Emílio Boechat, que criticou publicamente a emissora em sua rede social em 2021. Na época, Cristiane Cardoso e a Igreja Universal passaram a comandar formalmente a produção de novelas. Mas, mesmo antes disso, a filha de Edir Macedo já tinha influência, uma vez que mexia livremente nas sinopses e mandava mudar diálogos de que não gostava.

"O que esperar de uma emissora que entregou a dramaturgia nas mãos de amadores cujo compromisso é apenas divulgar os dogmas de uma igreja específica? Tenho pena dos atores e demais profissionais que se submetem a essa humilhação porque precisam do dinheiro", afirmou Boechat na época.

Na ação que move contra a Record, Paula diz que sempre respeitou as mais diversas crenças e que tentou fazer novelas religiosas sem um enfoque direto para uma igreja específica, mas que era impedida.

"Evidente que a autora nutre profundo respeito pela denominação religiosa dos donos da emissora em que laborou por tantos anos, mas esse respeito não foi recíproco", afirma o documento protocolado na Justiça.

Autora mostrou e-mails da Record

Paula Richard afirma que sempre teve uma boa relação com membros da Igreja Universal, com exceção de Cristiane Cardoso. Para a autora, a filha de Macedo sempre quis ter escritores alinhados com a Universal para escrever as tramas bíblicas da Record.

"A relação de trabalho da autora com membros da igreja, seja na produção ou com as colaboradoras que foram inseridas na sua equipe, sempre foi amena; entretanto, ao que tudo indica, a já mencionada senhora Cristiane Cardoso estava determinada a ter apenas membros da Igreja Universal escrevendo na Record TV --o que constitui, a toda evidência, inaceitável discriminação de cariz religioso", diz a advogada da autora da ação.

Paula Richard anexou e-mails do período em que trabalhou diretamente com Cristiane Cardoso. "Esse aspecto é ainda mais evidenciado quando se verifica que todos os roteiristas profissionais que trabalhavam na Record e não são membros da Igreja Universal foram demitidos. Hoje, somente a senhora Cristiane Cardoso e membros da referida igreja escrevem e atuam como roteiristas da Record", aponta o documento.

Além de Boechat, Paula usa como exemplo outros autores, como Joaquim Assis e Camilo Pellegrini, que não tiveram seus contratos renovados recentemente por não se declararem da Igreja Universal ou evangélicos.

"A saída de todos esses profissionais --entre os quais, a reclamante--, ao que tudo indica, é fruto da intolerância religiosa da senhora Cristiane Cardoso que, na tentativa de formação da sua 'nação cristã', retirou todos os roteiristas de outras denominações religiosas e segue substituindo outros profissionais da cadeia do audiovisual, com base em parâmetros idênticos. Todos esses funcionários, como noticia a mídia, foram substituídos por membros da Igreja Universal", conclui o texto da advogada Luciene Adam Oliveira.

Como diretora de Dramaturgia da Record, a filha de Edir Macedo é responsável não só pela qualidade dos textos, mas também por assegurar que eles estejam de acordo com a ideologia da Universal.

'A Record não tem religião'

Após a publicação deste texto, a Record emitiu a seguinte nota: "A Record TV vem a público declarar que é contra qualquer tipo de intolerância, inclusive a religiosa. Portanto, o Grupo Record anuncia que tomará todas as providências judiciais necessárias com relação a acusação sofrida hoje."

O Notícias da TV, por sua vez, reafirma o conteúdo publicado, todo ele baseado em ação judicial movida contra a emissora, e relembra que ela pertence a Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.

UOL 

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