Criar um filho pode custar mais de R$ 1,5 milhão; veja como economizar ao longo dos anos

11 de Agosto 2023 - 10h53

Muitos casais sonham em ter um filho, mas poucos colocam na ponta do lápis o quanto tem que desembolsar para criar uma criança.

Um levantamento do planejador financeiro Guilherme Baía, feito a pedido da CNN, mostra que os gastos podem chegar a mais de R$ 1,5 milhão ao longo dos anos.

Ter um filho é mais do que uma simples meta — é um marco de vida que acarreta mudanças financeiras que os pais precisam estar preparados.

Para alcançar uma estimativa financeira, o primeiro passo é analisar a situação econômica atual.

Mas como fazer isso?

Segundo Thelma Ribeiro, diretora de cursos internacionais da Strong Business School e autora de dois livros sobre educação financeira para crianças lançados nos Estados Unidos, México e Brasil, primeiro é preciso começar registrando quanto e onde a pessoa ganha e gasta.

“Com essas anotações, você pode categorizar as despesas e dividi-las em necessidades e desejos. Os desejos são os primeiros a serem analisados quando objetivamos a redução de custos”, explica.

“As necessidades, por serem indispensáveis, não podem ser eliminadas, mas podemos buscar maneiras de reduzir os custos associados a elas.”

Nesta fase, a especialista destaca que a criatividade é essencial para eliminar algumas despesas desnecessárias ou encontrar formas de gastar menos.

“Além de criativos, precisamos ser honestos conosco e entender que, independentemente da renda, todos precisamos abrir mão de alguns desejos para alcançar um objetivo. As proporções variam, mas a necessidade de renúncia é uma constante.”

Na visão de Guilherme Baía, os pais precisam tem em mente o tipo de educação que querem dar aos filhos.

Segundo ele, os responsáveis podem optar por investir em educação ou na forma educacional.

“Investir em educação é apostar seu dinheiro em uma escola cara e arcar com o meio que a criança vai se inserir. Agora, focar na meta educacional é oferecer ao filho um modo de vida que os pais são inseridos, pensando em um futuro mais ideológico.”

Guilherme Baía

Segundo ele, a escolha da escola acaba sendo uma das maiores preocupações dos pais em relação aos filhos.

Mas há outros impactos que devem ser considerados, pois, quase sempre, quando a escola é selecionada, vai também se determinar o meio social na qual a criança estará inserida.

“Os presentes de aniversário dos colegas, por exemplo, serão necessários para uma boa socialização da criança. As atividades extras escolares, padrão de vestuário imposto pelo ambiente escolar, também devem estar no orçamento.”

Ou seja, são escolhas que deixam de passar pelo aspecto mensalidade/ transporte/ alimentação, mas traz um custo para vida na totalidade da criança — e a própria definição da escola já é determinante.

Ele pontua que, se a escola é em tempo integral, significa que a criança vai conviver com uma única turma ao longo de toda sua vida escolar.

Porém, quando escolhe uma escola com apenas um turno, ele abre a possibilidade da criança ter interações com várias outras turmas — a do esporte, da dança, da música, etc.

“Isso tem muito a ver com o estilo dos pais, e nem sempre é uma escolha que é pensada. Mas, quando pensada, traz seu aspecto financeiro envolvido.”

Preparação financeira antes da gravidez

Baía diz que os pais devem começar a planejar os custos no momento que o teste de gravidez dar positivo.

Pensando nesse fator, Ribeiro elencou os pontos para se pensar quando a barriga da mãe começa a crescer:

  • Avalie a situação financeira atual, elaborando uma planilha detalhada de custos e despesas, registrando as receitas e saldos bancários;
  • Identifique áreas onde é possível economizar. Com os registros de custos e despesas, você pode detectar gastos desnecessários ou encontrar formas de gastar menos;
  • Estabeleça um orçamento realista que inclua as despesas atuais e modele para as futuras. Com uma meta estabelecida, a consistência nas decisões é crucial para economizar recursos do orçamento atual e criar uma reserva para o futuro;
  • Pesquise antecipadamente o que o seu plano de saúde cobrirá e o que ficará fora da cobertura;
  • Aumente a reserva de emergência para abranger possíveis imprevistos relacionados ao novo membro da família.

Preparação financeira pós-nascimento

A altora ressalta que acrescentar um novo integrante à família e sustentá-lo representa uma meta de longo prazo. Isso implica que será necessário um período considerável para acumular a quantia necessária para atingir tal objetivo.

“Por exemplo, não é preciso ter todo o dinheiro para a faculdade do seu filho antes mesmo de ele nascer. Você pode acumular esse valor gradualmente ao longo de muitos anos”, explica.

Para ela, educar os filhos sem excessos, mantendo um controle sustentável dos gastos e preservando a qualidade da educação pode parecer um desafio. Mas, é possível equilibrar todas essas variáveis.

“Mostre, por meio de exemplos e de acordo com a idade e compreensão deles, o valor das coisas. Lembre-se: mais do que a disponibilidade financeira, uma criança precisa de tempo e atenção para crescer saudável”, diz a especialista.

“A recompensa financeira pouco significa para quem não entende o valor intrínseco das coisas. Portanto, invista em momentos de qualidade e interação com seus filhos.”

Outra situação relevante citada por Baía o aspecto construção de reserva e constituição de patrimônio.

De acordo com o planejador financeiro, se a família investe demais na criança, precisa entender que não necessariamente terá um retorno financeiro .

“Não se pensa num filho com base no retorno financeiro.”

Porém, muitos pais se colocam em situação de vulnerabilidade em favor da condição financeira dos filhos.

“São pais que se tornam fiadores do Fies do filho, que compram o primeiro consultório, ou dão o primeiro carro. Muitos pais, para o filho ir para a faculdade, dão um carro a ele e acabam sem endividando.”

Ele explica que esse jovem, quase sempre, não pensa que o pai abriu mão do seu próprio futuro a favor do filho. Então, os pais devem pensar nas seguintes questões:

  • Quando o pai conseguir suprir sua necessidade futura, e se é possível gerar uma sobra, passa a fazer mais sentido pensar no filho;
  • Não sacrifique a reserva para a aposentadoria para que fazer um capricho para o filho.

Tempo é dinheiro

Falando de uma família padrão — com ambos responsáveis com possibilidade de trabalhar — Baía disse que deve-se pensar em como vai criar o filho para o mundo, com alguns questionamentos

“A gente vai formar nosso filho para ser reprodutor de conceitos, ele vai para uma escola padrão, vai ter que passar no Enem, fazer uma faculdade? Eu quero meu filho sendo capaz de intervir na humanidade, oferecer algum diferencial?

Para isso, ele afirma que os pais precisam gastar tempo com o filho para transmitir valores. E tudo tem consequência do dinheiro.

“Vale ressaltar que o dinheiro é instrumento, não é objetivo. Você não tem que juntar uma determinada quantidade de dinheiro para poder ter um filho. Você tem que pensar no filho que quer ter, na vida que pode levar, e daí determinar quanto dinheiro vai se tornar necessário.”

Guilherme Baía, planejador financeiro

O planejamento financeiro proporciona mais segurança e também serve de exemplo para as crianças, esclarece a Ribeiro.

Ela diz que é importante deixar os filhos participarem dos planos da família.

“Elas aprendem observando e brincando, replicando nas brincadeiras o funcionamento do ambiente ao seu redor. Por isso, é importante conversar sobre dinheiro e finanças desde cedo, adequando a complexidade das informações à idade delas.”

A autora acredita que não é necessário explicar conceitos avançados, mas é útil mostrar, no dia a dia, a função do dinheiro.

Estudos do Journal of Pension Economics and Finance e do American Economic Journal: Applied Economics sugerem que crianças expostas à educação financeira tendem a desenvolver mais habilidades empreendedoras, economizar, investir e tomar decisões com facilidade.

“Demonstre interesse no que realmente importa. Quando a família se envolve na educação da criança, ela percebe o valor daquela atividade. Dê importância à educação, o nível de escolaridade afeta positivamente a renda de um indivíduo. Quanto mais habilidades desenvolvemos, mais chances temos de produzir e sermos retribuídos.”

Na ponta do lápis

Baía elaborou um levantamento com os gastos mensais, anuais e totais para um filho de pais de diferentes classes sociais.

Os gastos mensais consideram despesas médias estimadas por classe social, na média do Brasil, para despesas com educação, lazer e atividades complementares, alimentação da criança e despesas gerais com saúde — incluindo farmácia.

O levantamento não considera eventualidades, despesas sociais, como presentes e festas de aniversário, nem provisionamentos ou reservas necessárias
para custeio de demais atividades da vida cotidiana ou profissional.

Os números são médias, portanto escolhas pessoais e regionalizações precisam ser consideradas. Para maior acerto, pode ser considerada a variação de 10% a menos até 15% a mais.

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