O adolescente Luiz Antônio Machado, de 17 anos, descobriu um tumor raro no cérebro, do tamanho de uma laranja, após uma especialista perceber que ele fazia movimentos involuntários com a língua.
Esse não era o único sinal de que algo estava errado.
"Minha mãe [Elza Machado] começou a desconfiar quando comecei a roncar estranho à noite, como se eu sentisse falta de ar. E ela também começou a perceber uma falta de equilíbrio em mim", lembra Luiz.
A situação chegou ao limite quando o garoto quase caiu sozinho a caminho do carro do padrasto.
Como Luiz havia conseguido recentemente um emprego de jovem aprendiz e tinha plano de saúde, ele se consultou com uma otorrinolaringologista conhecida da cidade onde vive, Vilhena (RO).
"Ela percebeu que eu tinha palpitações na língua e que ela fazia movimentos involuntários. Então ela disse que, possivelmente, tinha alguma coisa no cérebro. Uma ressonância magnética comprovou que eu tinha uma alteração. Minha mãe ficou bem preocupada, porque disseram que tinha que resolver com urgência", relata o jovem.
O jovem foi encaminhado ao Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, para uma consulta com o neurocirurgião Carlos Alberto Mattozo. Mas a situação ainda era uma novidade para o adolescente.
"Quando ela me contou [da urgência] fiquei confuso, porque eu não estava entendendo direito o que estava acontecendo. Foi tudo muito rápido", recorda.
Luiz e a mãe foram de Rondônia a Curitiba, em uma viagem de dois dias, e tiveram uma conversa pessoalmente com o especialista, que finalmente compreendeu a seriedade do quadro.
"Só fui entender a gravidade quando o doutor Mattozo explicou os riscos da cirurgia", lembra.
O tumor do adolescente era um xantoastrocitoma pleomórfico, considerado com baixo grau de malignidade (grau 2), mas que pode evoluir para um tumor maligno. É mais incidente em crianças e adultos jovens, além de ser considerado raro.
"É um tumor que foi recentemente incluído pela OMS [Organização Mundial de Saúde] como um tipo de tumor no cérebro, porque, até então, os casos que eram descritos eram considerados tão raros que se tratava de relatos de caso [estudos]", explica Matozzo, que acabou realizando a cirurgia no jovem.
No caso do adolescente, o quadro era ainda mais complicado, já que o tumor estava em uma área incomum.
"Estava em uma localização muito complexa do cérebro chamada tronco do cérebro — fica na parte de trás da cabeça. É basicamente como se fosse um tronco de uma árvore, ele conecta toda parte de cima e a raiz (a parte de baixo). O tronco cerebral é importantíssimo, porque ali estão estruturas que controlam até os movimentos da respiração, o batimento do coração, a pressão arterial", relata Mattozo.
O tamanho do tumor, que estava equivalente ao de uma laranja, também foi algo surpreendente. Segundo o especialista, geralmente, eles não são tão grandes. No caso de Luiz, possivelmente, ele tinha o tumor desde criança, mas só foi encontrado agora, de forma tardia.
A cirurgia, apesar de complexa e demorada, foi bem-sucedida. No entanto, o tumor não foi retirado por completo, em razão da área extremamente delicada.
"Não foi possível retirar o tumor completamente, nós tivemos que deixar uma parte dele meio grudada no cérebro, para que ele não saísse com problemas neurológicos", conta o neurocirurgião.
Toda essa situação fez com que o adolescente passasse mais tempo do que o esperado no hospital. Ele precisou ser entubado, passou por uma traqueostomia (quando médicos fazem um orifício no pescoço para colocar o tubo de ar) e utilizou sonda — para se alimentar sem correr o risco de sofrer uma infecção ou algo do tipo.
O padrasto e o irmão do adolescente também acabaram indo para Curitiba por causa da cirurgia. Eles passaram cinco meses na capital paranaense — a internação foi feita no dia 9 de outubro e a alta aconteceu no dia 5 de março.
"Dia 7 de outubro, três dias antes [da internação], foi o aniversário da minha mãe. Os aniversários do meu padrasto e do meu irmão também foram em outubro. Então, eu passei os aniversários [do padrasto e do irmão], Ano-Novo, Natal e o meu aniversário no hospital", relembra.
"Foi bem difícil, mas foi preciso", conta Luiz.
O hospital fez de tudo para que ele se sentisse bem, especialmente durante o seu aniversário, em janeiro. "
Fiquei muito feliz porque lembraram de mim e fizeram uma homenagem", conta.
Luiz terá de permanecer em acompanhamento com especialistas pelo resto da vida para observar se o tumor não voltará a crescer ou se apresentará forma mais agressiva. Mas, por ora, ele vai avaliar com um oncologista a necessidade de realizar radioterapia preventiva.
Tudo isso, no entanto, não desanima o adolescente.
"Eu tenho fé em Deus que eu vou voltar a comer de tudo depois da radioterapia e, com fisioterapia em casa, vou voltar a andar normalmente. Também vou voltar ao trabalho e continuar estudando", diz.
O ocorrido possibilitou que ele passasse a enxergar a vida de uma maneira mais positiva, e incentiva que todos façam o mesmo: "Procurem passar mais tempo em família e reclamar menos das coisas que acontecem, porque existem pessoas nos hospitais com problemas muito maiores."
O caso de Luiz ainda acende um alerta para que os pais fiquem atentos a pequenos sinais que podem indicar uma hipertensão intracraniana (aumento da pressão em razão do crescimento do tumor) em crianças, como: dor de cabeça que piora progressivamente, vômitos, confusão mental e desequilíbrio. O acompanhamento regular com pediatra é fundamental.
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