Mais de 50% dos médicos do RN estão com salários atrasados desde julho, de acordo com Sinmed
A saúde pública no Rio Grande do Norte enfrenta uma crise crítica, considerada "fora de controle" por Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed-RN). Durante uma entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (27), Ferreira revelou que mais de 50% dos médicos do estado estão com salários atrasados desde julho de 2024, tanto por parte dos municípios quanto do Estado. Além disso, a falta de diálogo com os gestores e a carência de profissionais têm gerado uma sobrecarga insustentável. Ferreira alertou que o Sinmed-RN está articulando uma greve geral para o mês de dezembro como uma forma de pressionar a Justiça, o Ministério Público, os Tribunais e os gestores públicos.
O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, o principal centro de urgência e emergência do estado, está sendo descrito como um "retrato do caos". Segundo Ferreira, setores essenciais, como anestesia e cirurgia geral, correm o risco de colapsar devido à redistribuição inadequada da carga horária. Ele destacou que essa crise também afeta serviços essenciais como alimentação e fornecimento de insumos básicos, prevendo que, sem ações imediatas, o final do ano será ainda mais desastroso.
Francisco das Chagas, vice-presidente do Sinmed-RN, sublinhou o impacto direto da crise nos pacientes, como longas esperas por cirurgias e superlotação de corredores. Ele afirmou que a situação é a pior que já viu em seus 45 anos de profissão. Ferreira, por sua vez, enfatizou a necessidade urgente de construção de novos hospitais e convocação de mais profissionais para aumentar a capacidade de atendimento, além de uma grande campanha de conscientização sobre acidentes de trânsito, que geram uma média de 30 casos por dia, sobrecarregando ainda mais o hospital.
Nos municípios do interior, a precariedade é igualmente alarmante, com hospitais enfrentando falta de medicamentos e infraestrutura básica, além de pacientes aguardando até 30 dias para transferência para unidades superiores. O atraso nos pagamentos a cooperativas e empresas terceirizadas também é um problema recorrente, como no caso do Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, onde as pendências somam R$ 432 mil em julho e R$ 392 mil em agosto, com previsão de pagamento apenas em dezembro.
A crise financeira é agravada pela falta de compromisso de algumas prefeituras, que propõem quitar apenas os débitos mais recentes, deixando os atrasos acumulados sem solução. Isso coloca em risco o funcionamento dos serviços, especialmente durante a transição de governo, já que os gestores tratam as dívidas como responsabilidade da gestão anterior.
Diante desse cenário de inadimplência e precarização, o Sinmed-RN estuda a possibilidade de uma greve geral em dezembro, se não houver uma solução rápida para os problemas enfrentados pelos médicos. O sindicato já solicitou audiências com o Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Federação dos Municípios para pressionar os gestores e evitar o agravamento da crise. Estima-se que a saúde pública do RN tenha mais de 6,5 mil médicos, sendo que cerca de 50% deles ainda aguardam o pagamento de seus honorários, que somam mais de R$ 10 milhões em dívidas.
Além disso, um grupo de profissionais da saúde realizou um ato público no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, pedindo a convocação dos aprovados no concurso público de 2018. Sônia Godeiro, responsável pela mobilização, ressaltou a necessidade de mais enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos para a unidade, especialmente com a reabertura dos leitos do segundo andar. Embora haja mais de 300 aprovados no cadastro de reserva, as vagas estão sendo preenchidas por contratos temporários, que podem ser rescindidos a qualquer momento, prejudicando a qualidade do atendimento. João Batista, enfermeiro que ainda aguarda a convocação, se deslocou de Serra do Mel para lutar pelo seu direito, acreditando que sua convocação trará melhorias para a saúde do estado.
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