Por Edmo Sinedino
Se eu não fosse tão cegamente apaixonado, juro, praticamente só escreveria para criticar. Quanta coisa errada, triste. Racismo, homofobia, violência gratuita, intolerância, falta de respeito, falta de educação, enfim, um depositário de tantas coisas tristes é o nosso esporte mais popular. Os estádios são campos de guerra. E olha que nem é só no Brasil. Nos últimos duelos de Corithians e Boca Juniores, torcedor argentino, em Itaquera e no La Bombonera promovendo inacreditáveis, ainda, atos de racismo.
Lembram das cenas na Copa do Mundo de 2018, os "homens" brasileiros zombando da torcedora russa com palavras tão chulas quanto eles? Vergonha! Lembram do showzinho dado por dirigentes da CBF num restaurante em Moscou. Ficou para sempre. Manchas de nossa participação pífia na última Copa do Mundo. Sem falar na falta de caráter, compromisso social, cidadania, até mesmo honestidade da grande maioria dos atuais e ex-jogadores, muitos deles envolvidos em falcatruas e até crimes mais graves. Claro, isso acontece em todas as classes, mas essa é a minha classe, e por isso me incomoda.
Até mesmo na Europa, onde vinham lições de civilidade, vemos ídolos como Cristiano Ronaldo acusado de estupro, o argentino Messi de irregularidades fiscais, sem falar nos brasileiros, podendo citar os exemplos de Neymar, Felipe Melo, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho fazendo apologia a políticos indecentes, culminando com os atos inomináveis do ex-santista Robindo, condenado por estupro. Quase todos já denunciados, acusados de promover espetáculos de luxúria e falta de respeito e até crimes variados, um horroroso exemplo aos garotos torcedores, futuros atletas.
Muitas vezes, me calo, penso, me pergunto: vale a pena? Ladroagens de dirigentes, jogos de cartas marcadas, agora essas apostas corrompendo e combinando resultados (a polícia inerte), federações corruptas, presidentes se locupletando enquanto os clubes cada vez mais pobres, endividados, e lotados de problemas insolúveis. Não acontece nada. Bandidos soltos, impunes, e esse jogo de empurra na "Casa Bandida", como diz Juca Kfouri continua o mesmo. Só muda o nome do mandatário, mas as safadezas, armações são as mesmas, com presidente sendo eleitos por votos de cabrestos, cobrados a um bom preço.
O nosso futebol brasileiro, tão rico de valores, não toma um rumo e mesmo sendo um celeiro sempre fecundo de talentos continua com seus principais clubes enterrados em dívidas que se agigantam, com raras exceções, vítimas de uma Lei Pelé nunca revista pela Bancada da Bola, da CBF ou mesmo falta de interesse de omissos cartolas. Quase todos agora tentando se agarrar a uma "tábua de salvação" chamada SAF. Mas será mesmo que isso vai funcionar com o nível de dirigentes, organização de clues, em nosso país?
Desculpe o azedume, mas já prestaram a atenção nas comemorações de gols de nossos artilheiros? Mais tristeza. Imitações baratas de invenções quase nunca lúdicas, mas só provocativas, marrentas, violentas. Na moda agora, a superforça do Gabigol e o gesto de cruzar os braços na garganta, acho que simulando a degola do adversário, criada pelo meia Gerson, do Flamengo, sem falar nas repetições de outras formas e a dancinhas mal ensaiadas, menos mal. Eu sou do tempo da explosão de alegria, do correr para a galera, não para a lente da tevê, do soco no ar, do abraços apertado, sem porradas da cabeças, sem voadoras ou puxão de cabelos nos companheiros.
Nas entrevistas, a pobreza maior. A completa falta de cultura, quer dizer, a total desatenção do clube formador com seus atletas-cidadãos, sem leitura, sem escola, sem perspectivas, a não ser ficar rico jogando futebol, caso contrário, fora da bola, o risco sério até mesmo de engrossar os números da marginalização, como já testemunhamos tantos ou enveredar pelos tristes caminhos do vício - álcool e outras drogas destrutivas - como comumente acontece ao final de carreiras que não tiveram sucesso ou um lastro financeiro.
E a nossa imprensa? Um monte de trouxa, com exceções, claro, falando sobre o que não entende, analisando gols e lances, vendo somente o resultado da partida. Os gritos aterrorizantes de alguns narradores, a facilidade com que jogadores comuns, após um lance casual, são elevados à condição de craques. Sem falar no pouco caso com que assuntos sérios - CBF, patrocinadores, seleção, contratos televisivos, gestão de clubes e corrupção - são tratados.
E ainda temos alguns loucos comentaristas, ex-atletas ou não, fazendo do futebol marketing pessoal com atitudes, palavreado e modo de conduzir programas que são verdadeiros tapas em nossas caras, ainda mais quando testemunhamos o sucesso que fazem com grande teor de baixaria.
Para encerrar esse meu texto de desabafo, cansaço, diria, esse ano, com o advento da dominação dos estrangeiros técnicos portugueses, tomando conta de nosso cenário, coisa louca de se ver, claro que, isso, sem dúvida, se deu graças à comprovação da incompetência galopante, retranquismo, burrice, covardia, atraso de nossa classe de treinadores, quase todos eles formados sob a "ordem nacional" do maior enganador que esse nosso futebol já teve: o Carlos Alberto Parreira. Mas isso eu já vinha falando há anos e anos.
Não sei se ainda vale a pena...mas vale sim, está no sangue.
Deixe o seu comentário
O seu endereço de email não será publicado