Cristiano Ronaldo atingiu a marca de 900 gols em jogos oficiais. O número é expressivo, principalmente, nos dias de hoje, por não ter nenhum outro jogador com uma perspectiva tão grande de atingir a marca expressiva dos 1 mil gols, alcançada inicialmente pelo Rei Pelé.
Se em nível mundial já está difícil, no cenário nacional a situação ainda é menos animadora. Os dois brasileiros com mais gols no século XXI são Neymar, com 436 gols, e Hulk, com 428. Ambos estão no top-10 maiores goleadores, porém em um ciclo de mais fim de carreira do que de projeção futura. Neymar já não joga desde outubro de 2023 e eu não o vejo com o interesse de dobrar sua marca individual. Já Hulk, aos seus 38 anos, não deve prolongar tanto sua carreira a ponto de também chegar perto do gol mil.
Uma verdade é: paramos de produzir goleadores. Cansei de ver campeonatos nacionais encerrarem com artilheiros perto dos 30 gols. Atualmente, vemos os atacantes recebendo o trófeu de artilharia sem ter feito nem dez gols. O futebol modernizou, mas não sei se a atualização foi tão boa. Inventaram até uma história de que atacante não precisa fazer gols. Tite cansou de falar a importância tática de Gabriel Jesus, na época, camisa 9 da Seleção Brasileira e que nunca marcou em Copa do Mundo.
Lembro-me de, quando criança, ter visto entrevistas emblemáticas de Túlio Maravilha, Romário e Edmundo se provocando na briga pela artilharia. Depois, ainda tivemos mais grandes matadores, até encerrarmos nossa produção em Luís Fabiano e Fred, os últimos centroavantes de verdade que o Brasil teve em copas.
Esse movimento se dá também pelo comércio que virou o futebol. Já é visto que jogadores de beirada de campo são mais caros e, com isso, triplica-se a produção desse tipo de atleta. Até mesmo os que não nasceram para a função, se perdem em tentativas desgastantes de virar um item fácil de vender. Considero a estratégia como uma falta de inteligência.
Phillippe Coutinho era mais um ponta. Foi vendido a preço de banana pelo Vasco. Não rendeu belas beiradas de campo na Inter de Milão. Só no Liverpool, quando foi inteligentemente colocado no meio, virou o jogador de valor que é hoje. É uma analogia de milhares que podem mostrar o fato de que não precisa ser ponta para virar uma peça de valor.
Nossa formação de jogadores virou, apenas, comercial. Deixamos de fazer bons laterais, camisas 10 e os matadores. Pedro, talvez, seja o melhor da fornada, mas ainda não é perto dos goleadores que já tivemos. Ainda assim, é o 9 que eu teria usado e abusado na Copa de 22 e na Copa América. Ainda tenho esperança em Vitor Roque. Endrick, apesar de ter um grande potencial, não é um centroavante para jogar em uma estratégia de bolas aéreas entre zagueiros gigantes. Já Marcos Leonardo, outro que surgiu na função, optou por esconder sua carreira no 'Arabão'.
Por isso é tão assustador para a gente ver jogadores como Haaland, um jovem, e Lewandowski, mais experiente. Fedem a gol. São dois cinturas de cimento, mas são artilheiros. Isso é o suficiente. Nem sempre vai se conseguir criar camisas 9 tão completos como foi Ronaldo Fenômeno.
O pior de tudo é que o restante da América do Sul não largou mão de fazer esse tipo de atleta. As provas estão nas boas referências de alguns dos próprios clubes brasileiros: Flaco, Lucero, Mastriani, Vegetti e Calleri. Se formos passear em seleções, encontraremos mais. Só a Argentina tem dois: Álvarez e Lautaro.
No momento em que os comerciantes do futebol brasileiro perceberem a escassez da função, quem sabe, apenas nesse instante, voltaremos a fazer os matadores.
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