O advogado Demóstenes Torres afirmou, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode contar com ele para levar “cigarro” em qualquer lugar. O defensor representa o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier. A informação é do Metrópoles.
Demóstenes declarou que “deve ser a única pessoa no Brasil” a gostar tanto de Bolsonaro quanto do ministro Alexandre de Moraes. O advogado usou 22 minutos de sua fala (que pode durar, no máximo, 1h) para fazer elogios aos ministros do STF e comentários sem relação direta com a defesa do almirante.
“Ele parou naquele lugar que passa o Raio-X e ‘tals’, olhou, me viu, voltou correndo e me deu abraço, dizendo: ‘Senador, para mim não aconteceu nada’. Se Bolsonaro precisar de eu levar cigarro em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto”, disse Demóstenes, relatando um encontro com Bolsonaro em um aeroporto, logo após ter deixado a política.
Antes, o advogado elogiou o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, ressaltando que o ministro é uma referência para ele na advocacia. Demóstenes também fez elogios a outros magistrados, como Luiz Fux, lembrando sua atuação anterior ao ingresso no STF.
Alegações finais
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Garnier aderiu de forma explícita à empreitada criminosa para uma tentativa de golpe, principalmente após a derrota de Bolsonaro nas urnas. Gonet destacou que o ex-comandante da Marinha foi o maior defensor da ruptura dentro das Forças Armadas.
O procurador citou que o nome de Garnier aparece em anotações do general Augusto Heleno que, para a PGR, reforçam o interesse do ex-comandante na trama golpista — mesmo ciente de que as eleições ocorreram com absoluta lisura.
“A certeza sobre a impossibilidade de reversão do resultado das eleições, por meios legais e legítimos, fez com que a organização criminosa concentrasse seus esforços na consumação de um ato de força, único meio capaz de garantir a sua permanência no poder”, escreveu Gonet.
O procurador ressaltou, ainda, que apesar de comandantes demonstrarem receio em relação à ideia de um golpe de Estado, Garnier não apenas apoiou como se colocou como braço direito de Bolsonaro, oferecendo tropas como “suporte da implementação de medidas autoritárias” — segundo relato do tenente-brigadeiro Baptista Júnior, que contribuiu com as investigações.
Para Gonet, o engajamento Garnier não pode ser minimizado, pois a conspiração não era apenas retórica, mas tinha ressonância concreta em uma das mais relevantes estruturas do poder da República. Sobre a minuta golpista, o procurador frisou que, mesmo diante da recusa de outros comandantes após a apresentação feita pelo ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, Garnier aderiu ao plano.