Os casos de dengue ligados ao sorotipo 3 dispararam no Brasil, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná.
A noticia é de ROBERTO PEIXOTO. Segundo dados do Ministério da Saúde, esse crescimento foi mais evidente nas últimas semanas de dezembro de 2024, quando o chamado sorotipo DENV3 começou a se espalhar de forma mais significativa, representando 31,8% dos casos no Amapá, 28,7% em São Paulo, 18,2% em Minas Gerais e 9,3% no Paraná.
Esses estados lideram a circulação do DENV3, que tem mostrado um crescimento preocupante em comparação com os outros sorotipos predominantes, como o DENV1 e o DENV2.
E segundo infectoligistas ouvidos pelo g1, essa taxa de crescimento acende um alerta para o serviço de saúde de todo o país já que o avanço do DENV3 pode levar a um cenário alarmante, com um aumento expressivo no número de casos em um curto prazo. E tudo isso após um ano já marcado por recordes de diagnósticos, como foi 2024.
"O aumento dos casos de dengue 3 chama a atenção porque grande parte da população é suscetível, já que o vírus circulou em níveis baixos nos últimos anos e por causa disso, muitas pessoas não desenvolveram imunidade contra esse sorotipo", explica a professora da USP Maria Anice Mureb Sallum, que atua na área de taxonomia e ecologia de mosquitos vetores de agentes infecciosos há mais de 45 anos.
E como desde 2008 o DENV-3 não circulava de forma predominante no país, autoridades e especialistas alertam para o fato de que uma grande parcela da população está suscetível a novas infecções, o que torna o atual aumento de casos ainda mais alarmante.
"Isso é um problema porque a imunidade à dengue é específica para cada sorotipo. Ou seja, quem teve dengue dos sorotipos 1 ou 2 não pode ser reinfectado por esses tipos, mas pode ser infectado pelo sorotipo 3", ressalta Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emílio Ribas e diretora do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Além disso, como o DENV-1 e o DENV-2 continuam a circular ao mesmo tempo, a chance de infecções múltiplas (por mais de um sorotipo) também aumenta, o que eleva o risco de complicações graves.
"O problema não é o sorotipo 3 em si, mas o fato de que muitas pessoas, especialmente as mais jovens, nunca foram expostas a ele, pois ele não circulava há anos", acrescenta Richtmann.
Para se ter ideia, em dezembro de 2023, o Brasil apresentava apenas 0,32% de casos de DENV-3, mas em dezembro de 2024 esse percentual saltou para 40,79%
Aliado a isso, o Ministério da Saúde alerta que o fenômeno El Niño que impactou o Brasil no ano passado, junto com a circulação simultânea dos quatro sorotipos do vírus, tem favorecido o aumento de casos de arboviroses, como a dengue.