A citação do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, como sendo o mandante do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, reacendeu a disputa entre esquerda e direita nas redes sociais, com um lado empurrando para o outro o envolvimento político do acusado. De fato, porém, haveria no passado de Domingos Brazão citações de aproximações com os dois lados da política brasileira.
Quem primeiro se manifestou sobre isso foi o deputado federal Nikolas Ferreira, do PL. Ele repetiu uma série de Twitter onde aponta Domingos Brazão como "petista". Há na internet, inclusive, referência a participação do conselheiro na campanha presidencial de 2014, apoiando Dilma Rousseff, do PT. Não era por acaso. Ex-filiado ao MDB, ele era correligionário de Michel Temer, candidato a vice de Dilma.

Do outro lado, porém, as citações são do envolvimento de Domingos Brazão com a família Bolsonaro. Marcelo Freixo, que seria o alvo do conselheiro, citou que ele já recebeu passaporte diplomático das mãos do ex-presidente da República. Segue:

Há, ainda, citações ao envolvimenot de Domingos Brazão com o atual senador Flávio Bolsonaro. Ele teria participado de uma "dobradinha" com o filho do ex-presidente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O envolvimento data de 2006, 12 anos antes da morte de Marielle.
A motivação de Brazão para mandar matar Marielle Franco
Ex-filiado ao MDB, Domingos Brazão figurou entre os suspeitos do caso. Em 2019, chegou a ser acusado formalmente pela Procuradoria-Geral da República, a PGR, de obstruir as investigações. Brazão passou quatro anos afastado do cargo de conselheiro no TCE, após ser preso, em 2017, na Operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, sob acusação de receber propina de empresários.
A principal hipótese para que Domingos Brazão ordenasse o atentado contra Marielle é vingança contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo Psol, hoje no PT, e atual presidente da Embratur. Quando era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Domingos Brazão entrou em disputas sérias com Marcelo Freixo, hoje no PT, e com quem Marielle Franco trabalhou por 10 anos até ser eleita vereadora, em 2016.
Domingos Brazão foi citado, em 2008, no relatório final da CPI das milícias, presidida por Freixo, como um dos políticos liberados para fazer campanha em Rio das Pedras.
Marcelo Freixo teve também papel fundamental na Operação Cadeia Velha, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2017, cinco meses antes do assassinato da vereadora. Na ocasião, nomes fortes do MDB no estado foram presos, a exemplo dos deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi e Jorge Picciani – morto em maio de 2021.
Freixo defendeu a manutenção da prisão dos três deputados no plenário da Assembleia Legislativa. A Comissão de Constituição e Justiça da casa votou no dia 17 de novembro de 2017 um relatório favorável à soltura dos deputados. Freixo enfatizou sua posição contrária aos colegas da Casa.
Em maio de 2020, quando foi debatida a federalização do caso Marielle, a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, informou que a Polícia Civil do Rio e o Ministério Público chegaram a trabalhar com a possibilidade de Domingos Brazão ter agido por vingança.
“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro”, diz o relatório da ministra.
“Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, escreveu Vaz.