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Brasil

Quando as regras do condomínio violam direitos fundamentais

Condomínio | Imagem feita por IA / O Antagonista

Viver em condomínio significa compartilhar espaços comuns e respeitar normas coletivas, mas até que ponto essas regras podem limitar a liberdade individual?

Em muitos edifícios, a rigidez exagerada dos regulamentos internos faz surgir uma sensação de “prisão residencial”, quando direitos fundamentais de moradores e visitantes são violados sob o argumento da segurança ou da ordem interna. A informação é do O Antagonista.

Casos de proibição de visitantes, restrição de entrada de entregadores, imposição de trajes específicos ou até mesmo a limitação de atividades privadas dentro da unidade já se tornaram comuns em diferentes regiões do país. Essas práticas levantam questionamentos sobre a legalidade das deliberações tomadas em assembleias e sobre os limites do poder do síndico e da coletividade. 

Segundo o advogado Felipe Faustino, especialista em direito condominial e sócio do escritório Faustino e Teles, “o condomínio tem autonomia para estabelecer regras de convivência, mas essa autonomia encontra limites na Constituição Federal e na legislação civil. Nenhum regulamento interno pode se sobrepor a direitos fundamentais como a liberdade, a inviolabilidade do lar e a dignidade da pessoa humana”. 

Regras que extrapolam a legalidade 

Entre os exemplos mais recorrentes de práticas ilegais em condomínios estão: 

  • Proibição de visitantes: o condomínio não pode impedir que o morador receba amigos, familiares ou convidados, desde que não haja perturbação ao sossego e que sejam observadas regras razoáveis de identificação na portaria. 
     
  • Restrições a entregadores: impedir a entrada de profissionais para entrega de compras, refeições ou serviços é medida abusiva. O condomínio pode adotar protocolos de segurança, mas não criar barreiras que inviabilizem a liberdade de escolha do morador. 
     
  • Exigência de trajes: obrigar moradores ou visitantes a usar roupas específicas em áreas comuns (como proibir bermudas ou exigir camisas de manga longa) é prática discriminatória e sem respaldo legal. 
     
  • Limitação dentro da unidade autônoma: impor regras sobre como o morador deve se comportar dentro do seu próprio apartamento, desde que não haja abuso de direito (barulho excessivo, por exemplo), fere a inviolabilidade do domicílio prevista no art. 5º, XI, da Constituição. 
     

O papel do síndico e dos moradores 

O síndico tem a obrigação de zelar pela segurança e harmonia do condomínio, mas não pode agir como “xerife” ou “carcereiro”. Decisões que extrapolam os limites legais podem ser anuladas judicialmente, e o condomínio pode até ser condenado a indenizar moradores por danos morais, caso sejam comprovadas práticas abusivas. 

“É preciso lembrar que o condomínio é uma propriedade privada de uso coletivo, e não uma instituição penal. A gestão deve se pautar pelo equilíbrio entre o direito coletivo e o individual, evitando práticas que configurem constrangimento, discriminação ou violação de garantias constitucionais”, complementa Felipe Faustino. 

Caminhos para evitar abusos 

  • Revisão periódica do regulamento interno com acompanhamento jurídico; 
     
  • Assembleias transparentes, garantindo ampla participação dos condôminos; 
     
  • Educação condominial: promover palestras e informativos sobre direitos e deveres; 
     
  • Respeito ao Código Civil e à Constituição Federal, sempre como norte das decisões coletivas. 
     

A vida em condomínio exige respeito às regras, mas essas normas não podem se transformar em mecanismos de opressão.

Quando regulamentos internos e práticas administrativas se aproximam mais de um regime carcerário do que de uma convivência harmoniosa, há clara violação de direitos fundamentais.

O equilíbrio entre segurança, ordem e liberdade deve ser buscado constantemente, para que o condomínio seja um lar, e não um presídio. 

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