O ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi citado como “o Doutor” em mensagens trocadas entre os envolvidos na negociação dos respiradores comprados pelo Consórcio Nordeste durante a pandemia de Covid-19. A informação consta em documentos e delações premiadas divulgadas pela Revista Veja, que teve acesso ao inquérito encaminhado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao Ministério Público Federal (MPF). Veja destaques no vídeo abaixo:
O caso, ocorrido em abril de 2020, envolve o pagamento antecipado de R$ 48 milhões para a aquisição de 300 respiradores que nunca chegaram ao Brasil. O Consórcio, na época presidido por Rui Costa, transferiu os valores à empresa Hempcare Pharma, especializada em produtos à base de cannabis, sem histórico de importação de equipamentos hospitalares.
Delações revelam bastidores das negociações
A empresária Cristiana Prestes Taddeo, proprietária da Hempcare, e seu então marido, Luiz Henrique Jovino, firmaram acordos de delação premiada e relataram detalhes das tratativas com integrantes do governo baiano.
De acordo com as delações, todas as ordens de compra precisavam passar pelo aval de Rui Costa, e dois lobistas que atuavam nas negociações afirmavam ter contato direto com a então primeira-dama, Aline Peixoto, e com “o Doutor” — forma usada para se referir ao governador nos registros de telefone e nas mensagens trocadas pelos envolvidos.
As conversas também apontam que Bruno Dauster, então secretário da Casa Civil da Bahia, era o principal interlocutor de Cristiana Taddeo e responsável por intermediar as decisões do governo estadual. Segundo a empresária, Dauster chegou a comentar com ela:
Negociações sem controle e prejuízo milionário
As investigações indicam que as negociações foram realizadas de forma amadora e sem controle técnico. As tratativas ocorreram por WhatsApp, sem checagem da idoneidade da empresa contratada, com pagamentos antecipados e sem garantias de entrega dos produtos.
A Hempcare, que não possuía experiência prévia na importação de insumos médicos, foi escolhida para intermediar a compra dos respiradores destinados aos nove estados nordestinos. Os equipamentos, no entanto, nunca foram entregues, e grande parte do dinheiro público nunca foi recuperada.
Rui Costa nega envolvimento direto
Desde o início das investigações, Rui Costa tem negado qualquer envolvimento direto no caso. Ele sustenta que foi o Consórcio Nordeste quem acionou a polícia ao perceber o golpe e justificou o pagamento antecipado pela urgência da pandemia.
Em depoimento, o ministro declarou ainda que não tem pleno domínio da língua inglesa, o que teria o impedido de perceber que o nome “Hempcare” fazia referência à maconha (“hemp”, em inglês).
Situação atual
Mais de cinco anos após o episódio, o caso continua sob análise do Ministério Público Federal, que deve decidir, com base no material enviado pelo STJ, se pedirá novas diligências ou o arquivamento do processo.