Como o pânico nos mercados globais pode afetar o Ibovespa?

05 de Agosto 2024 - 17h32

Uma queda generalizada. Esse tem sido o tom dos mercados globais nesta segunda-feira (5), conforme se acentuaram os temores de uma desaceleração na economia do Estados Unidos.

O primeiro tombo veio da Ásia, com o índice Nikkei 225 – que comporta as principais ações em Tóquio – registrando uma perda de impressionantes 4.451 pontos, sua maior queda na história. O pregão por lá encerrou com perda acima de 12%, o pior resultado desde 1987.

Mais tarde, as bolsas da Europa receberam o choque, com o Stoxx 600 encerrou com queda de  2,17%, enquanto do outro lado do Atlântico, os índices em Wall Street também operavam em queda geral.

O Brasil não ficou de fora e o Ibovespa abriu a sessão desta segunda-feira com um recuo de mais de 2% e dólar com chegando a tocar R$ 5,86.

Passado o baque inicial, a divisa dos EUA perdeu fôlego e opera praticamente estável, negociado na casa de R$ 5,72. O Ibovespa também devolveu parte das perdas, com recuo próximo de 0,6%.

O mercado avalia que o movimento observado nesta segunda-feira tende a ser passageiro, sendo um choque que exige correções obrigatórias por parte de investidores e fundos de investimentos, que antes estavam otimistas após a última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, indicar cortes nas taxas de juros em setembro.

Esse bom humor durou até a última sexta-feira (2), quando dados mostraram que a criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos desacelerou mais do que o esperado em julho, enquanto a taxa de desemprego aumentou para 4,3%.

O resultado gerou um forte temor de uma possível recessão na maior economia do mundo e já havia afetado os mercados na semana passada.

“Vimos todas a bolsas caindo muito. Geralmente quando temos perspectiva de cortes de juros nos EUA isso tende a valorizar o mercado de ações, as bolsas sobem. Mas quando combinamos isso com uma preocupação de recessão, a tendência é de impactar a perspectiva de lucro das empresas”, explica Francisco Nobre, economista da XP.

Os números de sexta-feira, apesar de apresentarem fraqueza no mercado de trabalho, não seriam suficientes para indicar uma deterioração do mercado de trabalho que seria consistente com uma recessão.

Luiz Rogé, sócio da Matriz Capital Asset, pontua que a reação vista neste início de semana é exagerada diante de outros fatores da economia norte-americana.

Dados de julho mostraram que o Produto Interno Bruto (PIB) do país teve alta de 2,8% no segundo trimestre, em comparação ao mesmo período do ano passado.

“Eu não enxergo a possibilidade de recessão como certa. O mercado de trabalho e economia como um todo está indo muito bem. O que estamos vendo é o ponto de inflexão no crescimento, ou seja, está crescendo menos”, explica.

Economistas ainda avaliam que existem outras instabilidades que se acumularam ao longo do mês de julho e que contribuíram para um aumento das incertezas globais.

Diego Chumah, gestor de bolsa macro do ASA Hedge, cita a expectativa do ex-presidente Donald Trump vencer as eleições americanas, marcadas para novembro, além de volatilidades no cenário de balanços corporativos, principalmente de empresas de peso como a Tesla, Intel e Microsoft.

Chumah explica ainda que o posicionamento dos investidores estava muito voltado para as big techs. Com uma piora das perspectivas para os EUA, a tendência é de reduções dessas companhias no portfólio dos investidores.

No Ibovespa

Com relação aos impactos que a aversão ao risco pode gerar para o Brasil e para o Ibovespa – principal índice nacional -, os especialistas consideram que a queda tende a se estabilizar.

Francisco Nobre diz que, em um primeiro momento, o temor global se reflete nos preços das commodities, principalmente, do petróleo, que caminha para fechar fechar a sessão no campo negativo.

Os preços em queda seriam negativos para o Brasil, que é um forte exportador do combustível.

Contudo, o economista entende que os preços não devem manter a tendência de queda, visto que os riscos geopolíticos são contínuos no cenário atual com a escalada de tensões no Oriente Médio.

Para Rogé, da Matriz Capital Asset, o cenário cria oportunidades em mercados nos EUA e também em bolsas emergentes, como o Ibovespa.

O cenário local, porém, também depende de questões internas, como a questão fiscal e um possível aumento dos juros pelo Banco Central.

“Mercado está achando que a inflação será mais alta do que o previsto e BC aqui tem que atuar de alguma forma”, diz.

Regra de Sahm

Além do pessimismo com números acima do esperado no mercado de trabalho americano, os dados divulgados na sexta-feira também trouxeram um alerta para o risco de acionamento da chamada Regra de Sahm, um indicador de recessão que se baseia justamente em resultados de emprego.

Segundo informou a CNN, a regra foi estabelecida pela economista Claudia Sahm e indica que uma economia está em recessão se a taxa de desemprego registrar alta de 0,5 ponto porcentual ou mais na média de três meses sobre o mínimo registrado nos 12 meses anteriores.

O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, disse na segunda-feira que o Fed reagirá a qualquer “deterioração” na economia.

“O trabalho do Fed é muito simples: maximizar o emprego, estabilizar os preços e manter a estabilidade financeira”, disse Goolsbee em uma entrevista na CNBC.

“Estamos olhando para o futuro e, portanto, se as condições coletivas começarem a surgir na linha de produção e houver deterioração em qualquer uma dessas partes, vamos consertar”, disse ele antes da abertura do mercado.

“Não há mau tempo. Há apenas roupas ruins. As condições vêm, vamos responder conforme apropriado”, acrescentou Goolsbee.

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