Justiça absolve 'Gatinha da Cracolândia' de uma das três acusações de tráfico de drogas

10 de Março 2022 - 13h47

A Justiça de São Paulo absolveu a estudante Lorraine Cutier Bauer Romeiro, de 19 anos, conhecida como ‘Gatinha da Cracolândia’, de uma das três acusações de tráfico de drogas.

Em sentença do dia 23 de fevereiro, o juiz Gerdinaldo Quichaba Costa, da 13ª Vara Criminal da Barra Funda, determinou a soltura da jovem. Porém, como ela responde a outros dois processos por tráfico e organização criminosa, a jovem ainda deve permanecer presa no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, segundo os advogados de defesa.

Ao julgar o caso, o juiz entendeu que havia insuficiência de provas que ligassem a jovem ao crime de tráfico de drogas, após ela ter indicado o local onde havia escondido uma mochila com quase 420 quilos de entorpecentes na Rua Helvétia, região da Luz.

'Gatinha' e 'Rainha': quem são as mulheres que já foram presas por traficar drogas na Cracolândia, Centro de São Paulo
No processo, a promotoria narra que ao ser presa em casa, na cidade de Barueri, na Grande São Paulo, a jovem teria indicado aos policiais que havia escondido a mochila em um hotel da região da Cracolândia, que é muito utilizado por outros traficantes de drogas.

Ao chegarem no local indicado, os policiais encontraram a mochila exatamente onde ela supostamente teria relatado onde estavam os produtos.

Durante audiência em juízo, a jovem negou que tivesse indicado aos policiais o local da mochila (entenda mais abaixo).

O juiz entendeu que não houve registro formal da confissão da moça sobre o local da droga, o que levanta suspeitas sobre se o material pertencia realmente à moça, já que estava há mais de 30 quilômetros do local da apreensão.

“Os policiais tiveram a cautela de filmar o momento do encontro das drogas e verifica-se nas gravações que a ré não aparece, mas não houve o mesmo cuidado para se gravar o momento da confissão informal da ré dizendo que havia drogas em local bem distante de onde ela se encontrava e quando ela supostamente teria dito com exatidão em que hotel ou similar estavam as drogas. Por que alguém que estava sendo presa temporariamente por outro processo e cumpria prisão domiciliar por outro, confessaria mais um crime?”, declarou o juiz.

O magistrado também alegou que os investigadores do caso deveriam ter se aprofundado mais nas apurações sobre um celular que teria sido apreendido com a moça, que ligava ela a traficantes da região. Ele também estranhou a ausência de policiais femininas no cumprimento do mandado de prisão na casa onde Lorraine Cutier foi presa, em Barueri.

“Haveria necessidade da presença de policial feminina não somente para o ato da prisão como para acompanhar em todo o trajeto até a Delegacia de Polícia. Constata-se, também, que após ser presa, a ré foi apresentada na Delegacia além do horário que seria comum. Tudo isso gera muita dúvida sobre o que de fato aconteceu naquela ocasião. Em situações dessa natureza, o caminho mais razoável é a absolvição por insuficiência de prova”, disse Gerdinaldo Quichaba Costa.
Audiência judicial
Em novembro de 2021, a influenciadora digital e estudante Lorraine Cutier Bauer Romeiro negou à Justiça ter indicado à polícia o local onde as drogas foram encontradas. E disse que os entorpecentes apreendidos não eram dela. As informações foram divulgadas pela advogada de Lorraine.

Ela e o namorado, André Luís Santos Almeida, conhecido como "China", foram presos em 22 de julho após serem identificados pela Polícia Civil como traficantes durante a Operação Caronte. A ação iniciada em fevereiro busca combater o tráfico na Cracolândia, onde além da venda há também consumo de drogas por usuários.

Por causa da pandemia de coronavírus, o depoimento ocorreu feito por videoconferência. Lorraine é ré em três processos: dois por tráfico de drogas e um por organização criminosa.

A estudante e o namorado foram detidos pela polícia na casa onde moravam com a filha dela de nove meses em Barueri, na região metropolitana. Os dois foram acusados de guardar crack, maconha, ecstasy e lança-perfume no imóvel.

Atualmente ela cumpre prisão preventiva na Penitenciária Feminina de Franco da Rocha, na região metropolitana. André também está preso pela mesma acusação.

Como influencer, Lorraine se apresentava como Lo Bauer nas redes sociais e tinha mais de 50 mil seguidores no Instagram antes de ser detida. De acordo com a denúncia do MP, a vida de luxo que ela mostrava nas fotos e nos vídeos era sustentada pelo tráfico.

Mais 2 processos


Os outros dois processos que Lorraine responde ainda não tiveram suas audiências marcadas, segundo a advogada de Lorraine.

A influencer também é ré num outro processo por tráfico de drogas, pelo qual havia sido presa em flagrante em 30 de junho na Praça Princesa Isabel, na região da Cracolândia. Naquela ocasião, policiais militares a acusaram de esconder drogas nas roupas íntimas.

Ela teve a prisão em flagrante convertida para domiciliar naquela ocasião, pelo fato de ter uma filha de nove meses. O pedido de conversão da prisão em flagrante para a domiciliar foi baseado em um entendimento de 2018 do Supremo Tribunal Federal (STF), de conceder o benefício a presas sem condenação gestantes ou que forem mães de filhos com até 12 anos.

"Nesse processo, o flagrante de tráfico também foi forjado. Ela não estava com drogas", disse a advogada.

Lorraine também é ré num terceiro processo, com mais 22 acusados, este por organização criminosa. Durante a Operação Caronte, a Polícia Civil filmou e fotografou suspeitos de traficarem drogas em tendas na Cracolândia. A influencer e o namorado foram vistos no local, segundo a investigação, vendendo drogas.

Questionada, a defesa de Lorraine informou ao g1 que sua cliente irá se pronunciar sobre essa acusação na Justiça.

Imagens exclusivas obtidas pelo Fantástico, da TV Globo, mostraram Lorraine e André vendendo drogas na região, segundo o Ministério Público. Caso seja condenada nos três processos, ela poderá receber penas, que somadas, chegariam a até 19 anos de prisão.

Operação Caronte


De acordo com a Operação Caronte da Polícia Civil, Lorraine e André armazenavam drogas em um hotel na Rua Helvétia, na Cracolândia. E ajudavam a abastecer outros hotéis com os entorpecentes. Em uma mochila, havia 85 porções de maconha, 295 de cocaína e oito de crack. Também foram localizados 97 frascos de lança-perfume e 16 comprimidos de ecstasy e R$ 750 em dinheiro.

A Justiça já negou dois pedidos da defesa anterior de Lorraine: um de prisão domiciliar e outro de liberdade.

O g1 não conseguiu localizar a defesa de André para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Família
 

O irmão de Lorraine publicou vídeos em uma rede social em 23 de julho em que diz que a jovem "se envolveu com pessoas erradas" e que "a família não vai passar a mão na cabeça" dela.

Lorruam Bauer afirmou que ela "vai pagar pelo que fez".

De acordo com informações da polícia, o pai de Lorraine morreu baleado em uma tentativa de assalto em 2014, o que teria desestruturado a família. Com informações do G1.

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