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Esporte

Auditoria em clube da Série A constata desvios de materiais da Nike e põe vice como figura central

Foto: Reprodução

Uma auditoria realizada no Corinthians identificou uma série de irregularidades na gestão dos materiais esportivos fornecidos pela Nike, com a retirada de itens excedendo em quase 300% a cota anual prevista em contrato.

A matéria é do ge. Por outro lado, times das categorias de base e de outros esportes utilizam uniformes em condições precárias ou nem sequer os recebem.

Foram identificadas sete ocorrências que o relatório, obtido pelo ge, classifica como graves:

- Acúmulo de materiais esportivos de coleções anteriores, armazenados por longos períodos sem destinação definida;

- Parte dos uniformes enviados pela Nike não é devidamente distribuída aos departamentos e modalidades esportivas do clube;

- Ausência de inventário físico formal no almoxarifado do Parque São Jorge há mais de quatro anos;

- Notas fiscais de recebimento não lançadas no sistema, ocasionando inconsistências contábeis e exposição a riscos fiscais;

- Distribuição desigual de uniformes entre diretores, funcionários e atletas, aliada à falta de planejamento nos pedidos à Nike;

- Retirada de materiais antes da conclusão do fluxo completo de aprovações, contrariando o controle interno previsto e enfraquecendo o processo de governança;

- Retirada de materiais por solicitantes incorretos, o que fragiliza o controle de responsabilidade e dificulta a rastreabilidade de consumo por área ou modalidade.

O relatório da investigação coloca o vice-presidente Armando Mendonça, responsável pela administração dos materiais no clube, no centro de parte das ações consideradas como inconformidades, como a retirada direta de itens sem registro formal ou autorização prévia.

O documento aponta que Mendonça "demonstrou tom de preocupação em relação ao andamento dos trabalhos de auditoria" e usou "expressões de natureza agressiva e alusões interpretadas como ameaças" em conversas com o diretor de Tecnologia do Corinthians, Marcelo Munhoes, responsável por comandar a auditoria.

O vice-presidente respondeu ao ge que não é responsável pelas diretrizes de distribuição dos materiais da Nike, que solicita constantemente melhorias no controle de retirada dos itens, que usa produtos para ações de relacionamento, que não fez ameaças e que o relatório é tendencioso.

Estouro da cota em 297%

O Corinthians obteve 41.963 itens da Nike em 2025, até 10 de outubro — número 24% maior do que o volume registrado no ano passado, de 33.902 produtos.

Somando os itens destes dois anos, o Timão recebeu R$ 23.772.090,37 em materiais esportivos. Esse valor ultrapassa em R$ 15.772.090,37 o limite de cota contratual, estabelecido em R$ 4 milhões anuais, representando excedente de cerca de 297% no período.

A Nike não cobra pelos itens pedidos a mais.

Do total de itens recebidos em 2025 até o momento, 64% foram destinados ao almoxarifado do Parque São Jorge, que atende futebol feminino, futebol de base, esportes terrestres, corporativo (administrativo, diretoria e presidência) e marketing.

O Corinthians tem outro almoxarifado, no CT Joaquim Grava, que atende o futebol profissional masculino e a diretoria.

O descontrole na gestão dos itens também é expresso no valor total de R$ 6,4 milhões em notas fiscais não lançadas no sistema do clube em 2024 e 2025.

— O não lançamento de notas fiscais no sistema constitui não conformidade grave, comprometendo o controle interno e fluxo de informações a acuracidade dos saldos sistêmicos dos materiais e riscos de exposição fiscal — detalha o relatório.

Condições precárias na base

Mesmo com a expressiva quantidade de materiais retirados junto à Nike, a auditoria constatou que a "grande maioria das modalidades esportivas do clube não foi contemplada pela uniformização oficial da fornecedora".

Segundo o relatório, determinados departamentos "não estão recebendo as quantidades necessárias para suprir suas demandas de treino, viagem e competições". Os representantes de esportes aquáticos, por exemplo, estão sem receber uniformes oficiais.

Em contrapartida, o clube tem comprado materiais esportivos licenciados, com o objetivo de fornecê-los a determinados departamentos, como futsal e basquete de base, o que o relatório aponta que gera custos desnecessários, uma vez que os fornecimentos da Nike não resultam em despesas ao Corinthians. O clube gastou R$ 776 mil na compra de 13.503 itens licenciados.

Nas categorias de base, somente o time sub-20 recebeu uniformes completos de treino da coleção 2025. Os outros times não foram contemplados adequadamente, segundo o relatório.

O departamento de base chegou a ser orientado a "racionar o uso dos materiais esportivos sob a justificativa de que não haveria quantidade suficiente para atender às demandas da Copa São Paulo de Futebol Júnior".

O relatório aponta que, nas divisões inferiores, como sub-12 e sub-13, o Corinthians utiliza os modelos de 2019 para treinamento e os de 2021 para jogos.

A auditoria verificou ainda que muitos materiais do futsal, tais como camisas e calças, estão em condições precárias, "apresentando desgaste acentuado pelo tempo e utilização prolongada, além de costuras, remendos, rasgos e desbotamento da malha".

Falta de camisas no profissional

O relatório chama atenção para uma ocorrência em que o Corinthians precisou mudar o uniforme que utilizaria em partida contra o Fluminense, no Maracanã, no Campeonato Brasileiro, em razão da falta de camisas no estoque.

Segundo a auditoria, às vésperas da partida, em 13 de setembro, o clube percebeu que não havia quantidade suficiente de camisas brancas para compor o uniforme principal.

Como a Nike não conseguiria entregar o material a tempo em caráter de urgência, o Corinthians teve de pedir à diretoria do Fluminense para que a partida ocorresse com as duas equipes utilizando o seu segundo uniforme. Os rivais atenderam a solicitação.

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