Por William Medeiros.
A paralisia infantil, também conhecida como poliomielite, tem gerado bastante preocupação por parte dos especialistas em saúde pública a nível global. Para se ter ideia, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiu um alerta, ontem (21), sobre o risco do Brasil ter a reintrodução da doença devido à queda na cobertura regional de imunização. Atualmente, o país tem cerca de 79% do público alvo da campanha, ou seja, crianças de 1 ano a menores de 5 anos.
No Rio Grande do Norte a situação não deixa de ser preocupante. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), apenas 37% do público-alvo está vacinado, mas o esperado pelas autoridades para se ter uma condição "segura" é 95%. O número é considerado ainda mais baixo em Natal, que possui apenas 19,37%. Os dados fazem da cidade uma das piores capitais do Brasil no enfrentamento da doença e o terceiro pior município do estado nesse índice.
Até agora, apenas nove dos 167 municípios potiguares atingiram a cobertura indicada, o que aponta para aproximadamente 120 mil crianças sem devida proteção contra a poliomielite.
Os dados preocupam especialistas, é o que explica o infectologista e diretor do Hospital Giselda Trigueiro, André Prudente, ao Portal 96. "Toda vacina para ter um bom efeito na comunidade, precisa atingir o público alvo em, pelo menos, 90%. Isso por anos a gente conseguiu com a vacina da pólio em todos os estados brasileiros. Quando a gente reduz para 37%, por exemplo, isso significa a possibilidade de retorno dessa doença na comunidade", disse.
Segundo o médico, um dos fatores que contribuem para a baixa vacinação são a erradicação da doença no Brasil em 1994. Com isso, as pessoas perderam o medo. "Por conta disso não se fala mais nela e as pessoas perderam o medo. Obviamente que a pandemia da Covid-19 também prejudicou a vacinação, já que as pessoas ficaram com medo de sair de suas casas e procurar outros serviços em saúde", conta André. Ele ainda relata a falta de divulgação do problema.
Perguntado sobre qual a preocupação que os pais devem ter, André explicou que a poliomielite pode trazer consequências para o resto da vida das crianças. "Como o nome está dizendo: paralisia infantil. Ou seja, pode fazer com que a criança não tenha força e não consiga movimentar os seus membros inferiores. Por isso, muitas pessoas que adiquiriram a doença na época em que ela havia sido erradicada, estão andando de muleta. Não é isso que a gente quer para nossas futuras gerações.
Pacto com municípios
Para enfrentar o problema, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) se reuniu com representantes de vários municípios do Rio Grande do Norte para traçar um pacto em busca de avançar na cobertura vacinal nesta reta final de campanha, que vai até a próxima semana.
Entre as propostas apresentadas pela Sesap aos municípios estão a abertura dos postos aos sábados e/ou horários estendidos, ampliação dos locais, busca ativa de faltosos por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família e agentes comunitários de saúde, buscar parcerias com setores como escolas, igrejas, assistência social, sindicatos, etc, entre outras medidas.
Durante as discussões, os representantes dos municípios destacaram a necessidade de estratégias diferenciadas para Natal, em especial na disponibilidade de horários e locais para vacinação. "Entendemos que os profissionais estão com dificuldades, mas é preciso fazer esse esforço agora. Não podemos deixar que esse nível tão baixo permaneça, porque a vacina é a principal estratégia da atenção básica", comentou a coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap, Kelly Lima.
O que diz a Secretaria Municipal de Saúde de Natal?
No último final de semana, foi realizado o Dia D da vacinação contra a doença, quando os pontos extras e equipes de vacinação aplicaram cerca de 697 doses. Com isso, a cidade possui mais de 7 mil crianças imunizadas até então.
A Secretaria Municipal de Saúde pede aos que não puderam levar as crianças anteriormente, que procurem em horário convencional uma das unidades básicas de saúde do município. As Unidades Basicas de Saúde (UBS) funcionam de 8h às 15h, com intervalo para almoço. Para vacinar, é importante levar o cartão de vacina e documento com foto da criança. A SMS também disponibiliza pontos extras com funcionamento diferenciado.
“Durante esse mês de setembro, nos pontos extras estamos disponibilizando as vacinas contra Covid-19, Influenza e Pólio dentro do projeto Vacinando com Natal. A partir de outubro a vacina contra pólio será encontrada apenas nas UBS”, esclarece George Antunes, Secretário de Saúde de Natal.
Serviço nos pontos extras, que funcionam de segunda a sábado:
Via Direta: 09h às 21h.
Nélio Dias: 09h às 16h.
Midway Mall: 10h às 17h.
Partage Norte Shopping: 14h às 20h.
Foto: Elvis Edson/Divulgação.