Uma nova pesquisa questiona a versão histórica de que a frota de Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil pela região de Porto Seguro, na Bahia. Segundo o estudo, publicado em setembro no Journal of Navigation, da Universidade de Cambridge, o primeiro desembarque teria ocorrido no litoral do Rio Grande do Norte.
O trabalho foi desenvolvido pelos físicos Carlos Chesman (UFRN) e Carlos Furtado (UFPB), que analisaram dados da carta de Pero Vaz de Caminha e os compararam com informações atuais de ventos e correntes marítimas. Eles concluíram que o “grande monte” descrito por Caminha seria o monte Serra Verde, em João Câmara (RN), e que o primeiro contato com indígenas teria ocorrido na praia de Zumbi, em Rio do Fogo.
Os pesquisadores afirmam que as descrições e distâncias citadas por Caminha se alinham mais ao litoral potiguar do que à rota até Porto Seguro, tradicionalmente aceita. Eles também sugerem que um segundo desembarque teria ocorrido na praia do Marco, entre São Miguel do Gostoso e Pedra Grande.
A hipótese de chegada no RN não é nova e já havia sido citada por intelectuais potiguares, como Câmara Cascudo, mas agora volta ao debate com base em cálculos e expedições de campo feitas durante a pandemia.
Historiadores afirmam que a pesquisa reacende a discussão, mas destacam que estudos anteriores apontam para a Bahia, considerando cartografias, relatos e características das embarcações. Para que haja mudanças no ensino, seria necessário reunir mais evidências e uma revisão ampla entre especialistas.
As autoras consultadas, Ana Hutz (PUC-SP) e Juliana Gesueli (PUC-Campinas), concordam que o estudo contribui ao promover diálogo entre física e história, mas ressaltam que não deve provocar mudanças imediatas na narrativa oficial. Segundo elas, a ocupação portuguesa só se consolidou décadas depois, o que reduz o impacto prático dessa possível revisão.