Um policial militar virou alvo da corregedoria da corporação, no Rio de Janeiro, após tirar uma selfie com o rapper Oruam, filho do traficante Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho (CV). Fardado durante o expediente e perto de uma viatura, o PM se aproximou do artista e, com celular em punho, sorriu para fotos ao lado do cantor.
O vídeo que registrou a tietagem chegou à cúpula da Polícia Militar. Em entrevista à coluna nesta terça-feira (4), o comandante-geral da PMERJ, coronel Marcelo Menezes de Nogueira, informou que determinou a instauração de um processo administrativo.
“Determinei a abertura de inquérito policial militar, de cunho interno, a ser realizado pela corregedoria. Não farei julgamento preliminar, mas entendo que não é recomendável associar um órgão policial a um rapper que exalta o fato de ser filho de traficante. À medida que o policial está fardado, a serviço da segurança do estado, efetivamente minha visão é que não é desejável essa conduta. Repudio a posição do policial. Ela não representa a posição da Polícia Militar do Estado Rio de Janeiro”, afirmou Marcelo Menezes de Nogueira.
“Sem prejulgar, vamos promover a oitiva do policial para entender a dinâmica e a circunstância do ato. Vamos apurar respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa”, prosseguiu o chefe da Polícia Militar. Veja abaixo o momento em que o agente, agora investigado, abordou Oruam e solicitou a foto.
Antes de passar pela análise da corregedoria, o vídeo que mostra o pedido de selfie a Oruam circulou em um grupo fechado de policiais no WhatsApp. A atitude do militar foi criticada por colegas de farda.
Houve quem ponderasse que Oruam não pode ser associado aos atos cometidos pelo pai. Mas a maioria dos integrantes da comunidade virtual sustentou que algumas letras do rapper fariam apologia ao tráfico de drogas e de armas. E que uma das bandeiras do artista é a liberdade do traficante Marcinho VP, condenado e preso por esquartejar e matar adversários do Comando Vermelho.
“Meu pai errou. Mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Só queria que pudesse cumprir uma pena digna e saísse de cabeça erguida”, disse Oruam após se apresentar no Lollapalozza, em março do ano passado.
Uma das letras mais famosas de Oruam, “Filho do Dono”, é sobre um menor de idade que pegou em armas para “mudar de vida”. Em uma crítica à atuação das forças policiais, o rapper afirma que “o estado é genocida com o morador”. Diz a letra:
“O menorzinho sem expectativa/ Doido pensando em mudar de vida/ Encontrou o suporte, o oitão/ Garrou a vida e pegou no plantão”.
“De rolê no [Morro do] Jaca eu resgato a forte. Maior saudade que vários amigo aqui deixou. Dia de tragédia com cheiro de morte. O estado é genocida com o morador. Não tenho medo, eu sou filho do dono.”
Batizado Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, Oruam tem 24 anos e nasceu na Cidade de Deus, favela na zona oeste do Rio de Janeiro. O cantor chegou a ser o rapper mais ouvido no Spotify Brasil em diferentes meses do ano passado, atingindo a marca de 13,2 milhões de ouvintes mensais.
Recentemente, Oruam se envolveu numa polêmica com a vereadora Amanda Vettorazo (União Brasil). Por meio de projeto de lei, a parlamentar quer proibir o artista de fazer shows em São Paulo com o uso de recursos públicos. A medida busca impedir o financiamento a apresentações que façam apologia a crimes ou drogas.
Por conta da medida, Oruam e Amanda Vettorazzo protagonizaram trocas de farpas nas redes sociais. Após o episódio, ela solicitou escolta à presidência da Câmara Municipal de São Paulo.