Medicamentos usados para induzir o sono, conhecidos como “drogas Z”, se tornaram populares no Brasil, mas o uso prolongado pode causar dependência, alterações cognitivas, sonambulismo, convulsões e comprometimento da memória.
Essas medicações — que incluem zolpidem, zoplicona, eszoplicona e zaleplon — foram criadas para uso curto, geralmente não mais que 14 dias, em baixas doses. O consumo excessivo, no entanto, se tornou comum. “Cheguei a ter um paciente que consumia 700 miligramas por dia”, revela Leonardo Ierardi Goulart, neurologista do Einstein Hospital.
As drogas Z atuam sobre receptores do neurotransmissor Gaba, promovendo efeito sedativo sem comprometer cognição como os benzodiazepínicos. O problema é a dependência psicológica: muitos usuários buscam a sensação de controle e o alívio imediato do sono.
O desmame não deve ser feito sozinho. Estratégias incluem substituir a medicação por outra de meia-vida mais longa e associar terapia cognitivo-comportamental. “O que pega nesses pacientes é a dependência psicológica, a mais difícil de tratar”, afirma o psiquiatra Michel Haddad, do HSPE.
Estudos mostram casos extremos de mulheres com dependência severa, usando doses muito acima do recomendado, com consequências graves à saúde física e mental. Terapia em grupo e acompanhamento multidisciplinar são essenciais para o tratamento.
A Anvisa endureceu a venda dessas medicações: desde agosto de 2024, a prescrição exige receita azul, controlada por médicos habilitados. A medida buscou conter o consumo desenfreado — que chegou a 23 milhões de caixas em 2020 — e reduzir os riscos de dependência.
Especialistas alertam que o uso prolongado para insônia crônica é um equívoco. “Muito mais que falta de sono, insônia crônica é excesso de alerta e preocupação com o próprio sono”, explica Goulart. Para ele e outros profissionais, a solução está na terapia, não na medicação.
“Houve uma luta para conseguir a exigência da receita azul. Em termos de volume de prescrição e risco de dependência, essas drogas são algumas das mais perigosas da humanidade”, conclui Haddad.
Com informações do Estadão.