“Descobrimento do Brasil” neste 22 de abril, a história contada nos livros escolares volta ao centro do debate. Tradicionalmente, a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral ao sul da Bahia em 1500 é celebrada como o marco inicial do Brasil colonial. No entanto, uma série de teorias revisita esse momento e propõe novas leituras sobre onde e quando os europeus realmente pisaram pela primeira vez em solo brasileiro e uma delas aponta para o Rio Grande do Norte como o verdadeiro “berço” do Brasil.
A versão mais difundida afirma que, em 22 de abril de 1500, a frota portuguesa liderada por Cabral avistou terra firme no litoral sul da Bahia, na região de Porto Seguro. A data é sustentada principalmente pela famosa carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição. No entanto, dúvidas persistem sobre a precisão da data e sobre se esse foi, de fato, o primeiro contato europeu com a terra que viria a se tornar o Brasil.
Espanhóis chegaram antes?
Entre as teorias mais conhecidas está a de que o navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón desembarcou no litoral do atual estado do Ceará em janeiro de 1500, três meses antes de Cabral. Embora não pudesse reivindicar oficialmente a terra por conta das restrições do Tratado de Tordesilhas, há registros de sua passagem que desafiam a hegemonia da versão portuguesa.
O Rio Grande do Norte na rota do “descobrimento”
Uma das teses que vem ganhando força nos últimos anos coloca o Rio Grande do Norte no centro da polêmica sobre a verdadeira chegada europeia ao território brasileiro. De acordo com estudiosos locais, há evidências de que o primeiro ponto de contato da frota de Cabral com o Brasil teria sido o litoral potiguar mais especificamente a região entre Touros e o Cabo de São Roque.
Pesquisadores da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) apontam que registros náuticos e a análise da direção dos ventos e correntes marítimas da época tornam plausível a ideia de que a esquadra portuguesa teria avistado primeiramente o nordeste, antes de seguir rumo ao sul da Bahia, onde foi feito o desembarque oficial. Segundo essa linha de pesquisa, a escolha de Porto Seguro como local do “descobrimento” pode ter sido estratégica ou até simbólica para afirmar o domínio português naquela região.
Descoberta ou invenção?
Além dos debates geográficos e cronológicos, cresce a crítica ao uso da palavra “descobrimento”. Historiadores e educadores argumentam que o termo desconsidera a presença de milhões de indígenas que habitavam o território há milênios. Hoje, muitos preferem falar em “invasão” ou “início da colonização”, reconhecendo a violência e o impacto cultural provocados pela chegada dos europeus.
Um olhar mais amplo para o passado
A história do Brasil, como tantas outras, não é feita apenas de datas fixas e versões únicas. O redescobrimento de versões alternativas, como a que destaca o Rio Grande do Norte, mostra a importância de revisitar o passado com olhos críticos e abertos às múltiplas narrativas. Seja em Porto Seguro, no Ceará ou em Touros, o que está em jogo não é apenas onde começou o Brasil mas como escolhemos contar essa história.