A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ainda não conseguiu tirar do papel o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs), prometido como a maior fábrica de vacinas da América Latina. O jornal O Globo divulgou as informações neste domingo, 20.
Desde 2009, o projeto já consumiu cerca de R$ 1,2 bilhão, mas o que existe no terreno são os alicerces de 46 prédios e cerca de 40 bois e vacas pastando na área de 580 mil metros quadrados, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
A produção, que deveria chegar a 120 milhões de frascos de imunizantes por ano, continua sem previsão para começar. Além disso, a própria direção da Fiocruz admite que serão necessários quase quatro anos para finalizar a obra e iniciar a operação.
Se o cronograma for cumprido, as vacinas só devem começar a ser fabricadas no fim de 2028.
Mário Moreira, presidente da Fiocruz, afirma que o processo ainda inclui dois anos e meio de obras, além de mais um ano para treinar profissionais e certificar equipamentos. Portanto, segundo ele, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige cuidados rigorosos em empreendimentos desse tipo.
“É um processo bastante demorado, e essa indústria é altamente regulada pela Anvisa, que é bastante cuidadosa com isso”, disse Moreira.
Em 2014, antes mesmo de concluir a terraplenagem, a Fiocruz, por meio da unidade Bio-Manguinhos, importou 27 máquinas industriais sob medida por R$ 813 milhões — valor atualizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Os equipamentos continuam encaixotados desde 2018 em um galpão alugado na Baixada Fluminense, no Grande Rio.
Aluguel de galpão já consumiu milhões
O depósito onde as máquinas permanecem armazenadas fica em Duque de Caxias, em uma área dominada pelo tráfico e cercada por barricadas. Mesmo sem uso, os equipamentos geram gastos públicos.
Somente com aluguel do espaço, a Fiocruz pagou R$ 14,3 milhões nos últimos três anos — valor que daria para produzir cerca de 400 mil doses de vacina contra a Covid-19.
A lista de itens parados inclui oito liofilizadores de 63 toneladas e quatro linhas de envase com lavadoras, túneis de esterilização e mesas de frascos. O TCU afirma que a garantia dos fabricantes já expirou.
A Corte rejeita a justificativa da Bio-Manguinhos, que alega risco de incompatibilidade física entre os equipamentos e o projeto. Como resultado, o tribunal multou três servidores em R$ 50 mil cada pela aquisição antecipada. Todos os valores já foram pagos.
Desde então, o projeto acumula relatórios de auditoria. Em 2024, depois de duas décadas de atraso, o TCU voltou a inspecionar a obra e confirmou: o Cibs continua parado, sem avanço.
Fiocruz tenta novo modelo com recursos do PAC
Depois do fracasso do modelo “built to suit” — no qual a fundação pagaria aluguel mensal à empresa que erguesse o complexo —, a Fiocruz apresentou uma nova proposta.
Nesse sentido, a ideia é fazer um aporte inicial de R$ 1,2 bilhão no fundo do consórcio NCPFI-RJ, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, para tentar atrair investidores privados.
O contrato original, assinado em 2021, previa repasses mensais de R$ 50,8 milhões. Ao fim do prazo, a Fiocruz teria desembolsado R$ 9,7 bilhões. Mas o consórcio vencedor não conseguiu captar os recursos necessários, e a execução nunca começou.
Hoje, a proposta segue sob análise do TCU e do Ministério da Saúde, que também avalia se o empreendimento deve voltar para o orçamento público.
Fonte: Revista Oeste