Ansiedade intensa, irritabilidade, insônia em efeito rebote, tremores, sudorese e até convulsões. Esses são alguns dos sintomas de quem tenta interromper sozinho o uso das chamadas drogas Z, grupo de medicamentos para induzir o sono que inclui zolpidem, zoplicona, eszoplicona e zaleplon.
O consumo deveria ser restrito a poucos dias, em baixa dosagem. No caso do zolpidem, o limite recomendado é de até 14 dias, com no máximo 10 mg por dia. Mas, com a popularização, o uso saiu do controle. Segundo a Anvisa, mais de 23 milhões de caixas foram vendidas em 2020 no Brasil — um aumento de 71% em apenas dois anos.
O grande problema está na dependência. Essas drogas agem sobre receptores do sistema nervoso central e, com o tempo, o corpo passa a precisar de doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito. Em casos extremos, já houve registros de pacientes consumindo até 700 mg de zolpidem por dia.
Além da dependência química, especialistas explicam que há também a dependência psicológica, considerada ainda mais difícil de tratar. O hábito de colocar o comprimido na boca e “apagar” dá ao paciente a sensação de controle, o que dificulta abandonar o remédio.
Para lidar com a abstinência, médicos recorrem a estratégias como substituir o zolpidem por substâncias de ação mais longa, como o clonazepam, e reduzir a dose gradualmente. Ainda assim, os especialistas afirmam que o tratamento mais eficaz é a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a mudar as crenças e comportamentos que mantêm a insônia e sustentam o vício.
Foi justamente o uso indiscriminado que levou a Anvisa, em 2024, a retomar a exigência da receita azul para qualquer concentração do medicamento. A medida reduziu o acesso, mas o consumo segue alto — e os casos de dependência, em evidência.
“O zolpidem é hoje uma das drogas prescritas que mais geram dependência na humanidade. É uma das mais perigosas”, alerta o neurologista Leonardo Ierardi Goulart.
Com informações do Estadão.